‘Nota de apoio de conselhos do Fla fazem emenda piorar soneto’
Editor-chefe do LANCE! comenta nota de órgão a respeito de presença de Bandeira de Mello em coletiva da CBF e sua nomeação como chefe de delegação na Copa América
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Depois da imagem patética do presidente Bandeira de Mello postado entre Dunga e Gilmar na apresentação dos jogadores convocados para a Seleção da Copa América nos EUA, nada poderia ser pior do que a nota oficial divulgada pelos conselhos deliberativo e de administração do Flamengo, de apoio ao dirigente.
É surpreendente como, mesmo depois da enxurrada de críticas, a ficha não tenha caído.
Na busca de argumentos para defender o indefensável, os conselheiros rubro-negros enveredaram pelo perigoso caminho das comparações. “Basta fazermos uma busca no Google para constatar ser uma tradição antiga que presidentes de clubes de futebol sejam convidados para chefiar delegações da Seleção”, diz o documento, logo em seu parágrafo inicial.
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Ao listar exemplos, acaba por incluir Bandeira em um rol de nomes como o corintiano Andrés Sanches, o cruzeirense Zezé Perrela e o botafoguense Maurício Assumpção, símbolos de modelos de gestão amadora ou personalista do qual, pelo menos até aqui, era exatamente o que o Flamengo procurava se distanciar. Só faltou incluir Eurico Miranda, chefe da delegação brasileira na Copa de 1990, para que o time de vestais ficasse completo.
Em nada enobrece o currículo do presidente fazer parte desse grupo. Bandeira – e este é o único ponto lúcido da extensa nota – é um artífice de práticas inovadoras para os padrões brasileiros. No comando do clube, adotou uma gestão transparente e que busca resgatar as finanças combalidas num regime de austeridade financeira exemplar, ainda que isso possa representar resultados muito abaixo do papel que deve fazer o Flamengo nos gramados.
“É notório que ele foi uma das principais lideranças no recente processo de mudança do futebol brasileiro. Foi atuante na obtenção do parcelamento da dívida dos clubes perante o governo, o Profut, na tramitação da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte que é um marco administrativo para o futebol e, por fim, liderou a criação da Primeira Liga, o embrião definitivo de uma grande mudança de paradigma no qual os clubes não aceitarão mais serem comandados senão por eles próprios”, acrescenta o documento.
Verdade inquestionável.
Mas é aí que o raciocínio de defesa se perde. É justamente por isso, pela liderança que assumiu no cenário do futebol brasileiro, pelo poder do Flamengo, que o presidente deveria ter respondido com um sonoro e estrondoso NÃO ao esperto e malicioso convite da CBF. Chega a ser inacreditável que gente inteligente, profissionais bem sucedidos e bem formados como Bandeira e seus aliados, comprem a versão de que ao colocar o dirigente na chefia da delegação, Del Nero e Walter Feldmann tenham dado “mais um sinal de que a CBF está se aproximando dos clubes e de suas aspirações”.
Maior miopia, impossível.
O que a CBF buscou, apenas e tão somente, foi legitimar-se. E o presidente do Flamengo, como um pato, mergulhou de cabeça na armadilha. De uma forma tão cruel que não se limitou a ter seu nome anunciado, mas foi submetido ao papelão de ter a imagem veiculada em rede nacional numa entrevista coletiva, cena rara entre ocupantes anteriores do cargo.
Para os conselheiros rubro-negros, nada demais. “O Flamengo é um ente político que circula no cenário nacional do futebol e como protagonista que é tem que se relacionar com Confederações, Federações e seus tribunais. O Flamengo não pode ficar isolado, desferindo apenas ataques” diz o documento.
Mas será esta a forma adequada de relacionamento de quem realmente quer mudar o futebol? Há momentos na vida - e especialmente no jogo político - em que não basta ser independente, tem de mostrar independência E o que ficou das cenas dessa semana foi exatamente o contrário – uma imagem de adesismo que Bandeira terá de se esforçar para combater. O presidente garante que sua postura crítica e seus compromissos com a transformação não irão se abalar. É o mínimo que se espera.
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