Alisson: ‘Retomamos a confiança do torcedor na Seleção Brasileira’
Em entrevista exclusiva ao LANCE!, goleiro também abordou seu início na Roma e lamentou o momento complicado do Internacional no Campeonato Brasileiro
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Alisson não é um jogador que desperdiça oportunidades. Agarra para não soltar mais. Basta uma rápida análise na carreira do atleta para saber que a escolha da posição de goleiro foi mais do que acertada. Com 24 anos recém completados, ele já tem uma trajetória que muitos sonham e não conquistam no mundo do futebol.
No espaço de pouco mais de dois anos, saiu de terceira opção para a titularidade do Internacional. Chegou à Seleção Brasileira e quatro jogos depois já tomou conta do posto de camisa 1. A chegada no futebol europeu, mais precisamente na Roma, era uma questão de tempo.
Em entrevista ao LANCE! por telefone antes de se apresentar ao técnico Tite para os duelos contra Bolívia e Venezuela, Alisson revisitou a carreira, falou sobre os primeiros passos no futebol europeu e o momento da Seleção. A próxima meta que pretende defender: o posto de titular do Brasil na próxima Copa do Mundo.
Como você avalia os primeiros meses atuando na Europa?
Essa transferência para a Roma mudou a minha vida. Sempre tive o sonho de atuar na Europa. Estou praticamente adaptado ao clube, mas ainda tem a questão do costume e do idioma que são coisas iniciais que preciso enfrentar. Mas o principal, que é dentro de campo, senti pouca diferença na preparação dos goleiros. Peguei esse ponto rapidamente e mantive certos costumes que tinha no Brasil para manter meu nível de jogo elevado. Está sendo muito bom.
Quais diferenças entre o futebol brasileiro e italiano que você já pôde perceber nesse começo de trabalho?
Joguei poucos jogos até o momento, mas neles percebi uma diferença no ritmo. Aqui ele é mais intenso, principalmente em partidas contra equipes de outros países. Os duelos na Itália são mais estudados, de muita tática e defesa, mesmo quando os times pensam em atacar. Mas essa característica é algo que já havia notado quando estava na Seleção e treinava com os jogadores que atuam na Europa.
O seu treinador, Luciano Spalletti, tem adotado a prática de revesar você e Szczesny em competições nacionais e continentais, algo comum em alguns clubes do futebol europeu. Até que ponto esse fator tem sido positivo ou negativo para um jogador que está chegando pela primeira vez em um novo centro?
É algo um pouco ruim pra mim, porque não estou acostumado a isso. Vim do Brasil com aquele esquema de ritmo de jogo constante. Então esse aspecto em particular tem sido bem diferente pra mim. O técnico não chegou a especificar pra mim e pro Szczesny que um ia jogar o Italiano e o outro a Europa League, mas assim o Spalletti vem fazendo. Na minha visão quanto mais eu estiver atuando melhor. De todo modo, tendo a oportunidade de jogar um campeonato e também defender a Seleção é algo que consigo suprir essa sequência um pouco menor de jogos em relação ao que estava habituado.
A Roma, do ponto de vista dos resultados, aparenta ser uma equipe que ainda procura encontrar sua cara neste início de temporada. Acredita que seja essa a tônica no atual momento?
É um grupo que está buscando se adaptar. Fizemos alguns amistosos, bons jogos. Tivemos uma eliminação na Liga dos Campeões, que era uma competição que todos queriam avançar, mas infelizmente fomos eliminados. Creio que a Roma tem um grupo bem qualificado, que quando conseguimos impor o nosso jogo coletivo as individualidades aparecem. Temos aprendido a cada jogo atuar desta maneira. Creio que vamos crescer ao longo dos próximos jogos, sobretudo no Italiano, onde as partidas são bem parelhas, principalmente quando se atua fora de casa. É preciso estar sempre atento e errar pouco.
Acredita que é possível desbancar a hegemonia da Juventus?
Penso que nossa equipe tem totais condições sim de buscar conquistas nesta temporada. Lógico que são competições bem complicadas. A Europa League se torna perigosa na fase eliminatória, quando chegam as equipes que ficaram pelo caminho na Liga dos Campeões. Acredito que se acontecer a consolidação do nosso jogo coletivo temos chances de alcançar grandes conquistas. Mas pensamos no jogo a jogo. A Juventus conquistou o Italiano nos últimos cinco anos e sabemos do favoritismo deles, mas podemos desbancar eles.
Você está com a Seleção desde o início da caminhada nas Eliminatórias. É correto afirmar que a entrava novamente na zona de classificação trouxe não só a confiança de volta, mas alívio para o grupo que vinha muito pressionado?
A Seleção vinha em um momento de muita pressão e cobrança. Era complicado. A gente não conseguia se encontrar nas partidas, até mesmo durante a última Copa América. Foram coisas muito ruins. Mas mesmo no momento onde o Brasil ficou fora da zona de classificação, o grupo tinha noção que estava próximo das outras seleções. Todos tinham noção que duas partidas eram fundamentais para a mudança de patamar e fizemos por onde. Subimos na tabela vencendo dois jogos e atuando muito bem. Temos que aproveitar o momento e crescer ainda mais.
O torcedor ficou muito machucado na sua relação com a Seleção desde a Copa-2014 e os resultados seguintes, Você acredita que o ouro olímpico, a chegada do Tite e os dois bons resultados contra Equador e Colômbia já são suficientes para dizer que o casamento entre as partes já está mais próximo?
Acredito que a Olimpíada ajudou muito na questão do torcedor confiar e acreditar na gente. É muito importante ter ele ao nosso lado. Quando jogamos fora de casa sentimos a força da torcida adversária. Não que isso nos afete, mas esse fator do apoio faz diferença, sobretudo quando atuamos em casa. O jogo da Colômbia é um bom exemplo. Vejo que aos poucos estamos conseguindo retomar essa confiança do brasileiro.
Qual o impacto da chegada do Tite, um treinador que é unanimidade nacional e que era pedido pelo torcedor desde o fim da Copa de 2014? Qual ponto foi importante para ele em tão pouco tempo fazer com que vocês conseguissem se encontrar dentro de campo?
O Tite nos ajudou muito nas duas últimas partidas. Ele foi no básico, no simples e organizou a equipe defensivamente. Inseriu uma ideia para que todos os jogadores assimilassem dentro de campo e conseguissem executar. Conseguimos absorver isso e vencer os dois jogos. Ninguém esperava que a gente superasse o Equador por 3 a 0, que vinha bem nas Eliminatórias. O Tite aos poucos vai colocar sua cara na Seleção. É um cara que ajuda muito dentro de campo, mas ele olha para o lado humano, como ele gosta de falar. Isso vai nos ajudar muito nesta caminhada.
Por que a Seleção não conseguiu jogar com o Dunga, um cara que te deu a primeira oportunidade na Seleção como titular e no próprio Internacional?
O Dunga tem uma importância enorme na minha carreira. Foi o cara que me abriu portas no Inter e na Seleção. Então o primeiro treinador a confiar no meu trabalho foi ele. Agradeço e aprendi muito com ele, que é um cara muito batalhador, que saiu de baixo e conquistou seus objetivos. Mas chegou um momento que os jogadores e ele mesmo não conseguiam mudar o cenário. A gente não estava absorvendo da melhor maneira o que o Dunga pedia e o treinador também estava com dificuldades. Existia uma pressão muito grande devido aos resultados dos últimos anos. Isso tudo recaiu sobre todos. Mas os maiores culpados são os jogadores que entram em campo. No futebol, quando se vê necessária a mudança, ela acaba sendo no técnico. Se isso era necessário, então deveria ser feito.
Você virou titular absoluto há quase um ano, na segunda rodada nas Eliminatórias. Neste momento acredita que as pessoas já te veem como dono da posição sem aquela desconfiança natural de um início de trajetória? Se considera preparado para atuar na Copa de 2018?
Estamos muito longe do Mundial. Não gosto de colocar desta maneira. Vou sempre dar o meu melhor pela Seleção e meu clube para quando for chamado estar pronto. Acredito que o caminho do trabalho bem feito será primordial para que realize o sonho de jogar uma Copa do Mundo. Por isso me preocupo com o presente para conquistar a confiança do Tite, do Taffarel, da torcida. Unanimidade nunca ninguém vai ser, sobretudo no futebol onde até os melhores são criticados. O Messi, o Cristiano Ronaldo e o Neymar são contestados em alguns momentos, então porque também não seria?
O Taffarel tem uma trajetória bem parecida com a sua. Qual a importância dele para a sua estabilidade como titular da Seleção? Chegou a pegar dicas com ele sobre o futebol italiano?
O Taffarel é a pessoa que mais me influencia hoje. Além disso, foi um cara que eu me inspirei. Sou muito abençoado em poder trabalhar junto com ele. É meu ídolo e de muitos brasileiros. Até mesmo eu que não vi a Copa de 1994 tenho a sensação de ter presenciado o Taffarel pegando os pênaltis. É um cara que procura muito acompanhar os goleiros que são convocados. Me ajudou na vinda pra Roma, até pelo fato de já ter passado por essa experiência quando era jogador.
Na sua avaliação o nível dos goleiros brasileiros é homogêneo e por isso neste ciclo para a Copa-2018 não existe uma trinca permanente?
Vejo o cenário bem equilibrado. Todas as grandes equipes possuem um jogador de destaque na posição. O futebol brasileiro cresceu neste ponto e está bem nivelado, o que acaba sendo bom para todo mundo. Hoje sou o titular na Seleção e isso ajuda no meu crescimento. Quando se trabalha com grandes profissionais e a concorrência pelo posto é alta, naturalmente o seu nível de jogo precisa constantemente ser elevado.
Quem são concorrentes, digamos assim, com você na briga por um lugar na Copa do Mundo?
Sempre gostei muito do Marcelo Grohe. O próprio Weverton faz um bom trabalho no Atlético-PR e mostrou qualidade servindo a Seleção. O Muralha já mostra regularidade desde o Figueirense e agora no Flamengo vive grande fase. Vejo as convocações bem justas. Não posso esquecer do Jefferson que acabou passando por um momento complicado na temporada e o próprio Fernando Prass. O nível está bem parelho.
Chegaram a te contactar para ver a possibilidade de você atuar na Olimpíada?
Teve conversa comigo sim. Mas, pelo que fiquei sabendo, a Roma não me liberaria em um primeiro momento. Então, por ter recebido a negativa do clube, não insistiram e procuraram dar oportunidade para outros jogadores da posição. Fiquei tranquilo quanto a isso, pois acredito que o que é meu, será meu. Fiquei feliz pela conquista, pelo Weverton, pela Seleção e por todos. Valorizou todo mundo e isso que conta.
Quais os principais cuidados que a Seleção precisa ter contra Bolívia e Venezuela, adversários que o Brasil entra com um favoritismo muito alto?
Antes de se preocupar com adversário é necessário focar no nosso trabalho. Assim, na minha visão, sempre vamos estar perto da vitória. Percebendo os erros que cometemos e melhoramos, temos tudo para evoluir e mais uma vez conquistar seis pontos nos dois próximos jogos.
Já está ansioso com o duelo contra a Argentina, desta vez com a presença do Messi?
Ainda está um pouco distante a partida., Todo mundo sabe da qualidade do Messi, um jogador extraordinário. É um cara que trará preocupação para qualquer adversário. Mas antes da Argentina temos dois compromissos importantes, onde precisamos estar focados. Cada desafio no seu tempo (risos).
Você teve uma história com o Internacional e agora o clube luta contra o rebaixamento inédito no Campeonato Brasileiro. Como você vê essa situação?
É muito difícil e ruim para todos os colorados e pessoas que têm carinho pelo clube acompanhar esse momento do Inter. É ainda mais complicado pra mim, que sou amigo de todos os jogadores do atual elenco, pessoas que tenho carinho muito grande, alguns deles cresceram comigo dentro do clube. A torcida aqui é grande para que o clube saia da zona de rebaixamento. Acredito neles. O Inter é grande e não merece passar por isso e ser rebaixado.
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