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Libertadores no Facebook: quais os impactos e desafios da transmissão?

Plataforma está responsável por exibir os jogos da competição com exclusividade nas quintas-feiras. Como internautas e rede social estão lidando com a novidade no Brasil?

Transmissões Facebook
imagem cameraO impacto da transmissão da Libertadores pelo Facebook (Arte: Lance!) 
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ) 
Dia 15/03/2019
15:36
Atualizado em 10/04/2019
09:01

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O futuro chegou... mas, ainda vai precisar de mais algum tempo para ser aceito. Na Era do 'streaming', o Facebook adquiriu, até 2022, os direitos do maior torneio de clubes da América do Sul: a Copa Libertadores. A rede social será responsável por transmitir os jogos da competição com exclusividade nas quintas-feiras. Entretanto, o LANCE! levanta a questão: no que isso acarreta? 

Como toda novidade, isso traz impactos que são divididos em dois lados: o do comerciante e o do consumidor. De um lado, a rede social quer retomar a sua relevância apostando no modelo que está em alta no mercado e desafiando gigantes pela transmissão exclusiva. A empresa vai transmitir Flamengo x San José, no dia 11 de abril, e Palmeiras x Melgar, no dia 25, por exemplo. Do outro, o consumidor terá mais uma opção par assistir aos jogos, mas vê alguns de seus hábitos tendo quer ser adaptados para as telas de celulares, tablets ou computadores. 

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A inovação, neste caso, custa caro, mas tem dado retorno. O Facebook também adquiriu a Liga dos Campeões e os números são positivos. A rede social celebrou o seu recorde de audiência na partida entre PSG e Manchester United, onde registrou pico de 866 mil espectadores simultâneos. Além disso, foram 47 jogos na primeira fase do torneio, tendo 1,3 milhão de comentários e 10 milhões de reações. Mas, e a Libertadores? 

O LANCE! entrou em contato com o Facebook para buscar informações de audiência do torneio, mas não recebeu resposta até o fechamento desta reportagem. Devido a isso, foi além dos números para entender as reações de quem está gostando da novidade ou reclamando - neste caso, inclusive a própria Conmebol, uma das responsáveis por esta mudança. 

- Nos queremos mais recursos para os clubes e saímos com uma forma de venda de direitos diferentes. Os players compraram os direitos da Conmebol e o licenciamento da Sul-Americana. Hoje, com Facebook, alçamos um universo maior de publico. Lamentavelmente as companhias de internet causam limitações que deixam muita gente frustrada. Estamos buscando soluções e apresentamos. Queremos uma solução parecida para o público brasileiro - declarou o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez. 

Taça da Libertadores
Libertadores está no Facebook (Foto: Divulgação/Conmebol) 

STREAMING: A NOVA FORMA DE ASSISTIR FUTEBOL

Há um fator que é fácil de concluir. O 'streaming' ainda não caiu no gosto popular. A dúvida é: por falta de costume ou por mal direcionamento do público? Isso apenas o tempo irá responder. Enquanto isso, o LANCE!  conversou com torcedores e especialistas para entender os motivos dos elogios e reclamações. Por que é tão difícil assistir ao esporte em outra tela?

- Toda mudança de cultura, inicialmente, gera estranheza. Quando eu era criança, a tevê enfrentava uma série de problemas tão grande ou maiores. Mesmo a energia elétrica era irregular. Mas houve evolução. As pessoas se adaptaram ao telefone celular, à internet. Agora, elas vão se acostumando ao streaming, e também vão se acostumar a assistir futebol pela internet - opinou o consultor marketing digital, Rodrigo Braga. 

O principal elogio da plataforma foi unânime: a gratuidade, permitindo um acesso democrático para o público. No entanto, a maior reclamação se dividiu. O Brasil não é um país conhecido por ter internet de qualidade. Este é o principal fator para as queixas sobre o alto índice de travamento, o delay comparado com a televisão e a queda de qualidade com a baixa conexão.

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Segundo os dados do livro "Banda Larga no Brasil: um estudo sobre a evolução do acesso e da qualidade das conexões à Internet", apenas 51% dos domicílios tinham acesso à web até o ano de 2015. Além disso, 89% destes tem internet de 128 Kbps a 1 Mbps. A Netflix, por exemplo, recomenda uma conexão de 5 Mbps. O déficit é visível. 

- Apesar de não ter dúvida de que as transmissões da internet são uma realidade sem volta, a realidade da conexão no Brasil é um problema. E acho estranho que a Conmebol não tenha se preocupado com isso antes. A plataforma precisa evoluir para suportar esse evento, porque não há chance de ficar dessa forma - ressalta Rodrigo Braga. 

Netflix recomenda conexão de 5 Mbps. No Brasil, 89% tem entre 128kbps e 1 Mbps

No quesito gratuidade de transmissão: pontos positivos e uma ressalva. O Brasil conta com 12,2 milhões de pessoas desempregadas, e 50% dos trabalhadores recebem por mês, em média, 15% menos que o salário mínimo (R$ 998,00). Dos 88,9 milhões de empregados, 44,4 milhões recebem, em média, R$ 747 por mês, de acordo com o IBGE. 

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Caso o trabalhador goste de esporte e queira assinar pacotes, o Premiere Play, da TV Globo, que conta com as Séries A e B do Campeonato Brasileiro, tem mensalidade de R$ 79,90. O Fox Premium, dos canais Fox Sports, custa R$ 24,90. Já no EI Plus, do Esporte Interativo, custa R$ 19,90. Coloque na balança a necessidade de pagar as contas com pouco dinheiro: você gastaria o que sobrar com streaming? Esta é a realidade da maior parte dos brasileiros. Além disso...

É gratuito, mas não é de graça. Além dos problemas com internet de baixa qualidade citados anteriormente, é preciso ter uma ferramenta como um computador, celular ou tablet com bom processador. Com isso, é necessário um investimento para substituir a prática da televisão. Além do mais, a gratuidade, maior atrativo deste tipo de transmissão, deve ser passageira, como indica Rogério Braga, consultor financeiro com mais de 20 anos no mercado: 

- No curto prazo acredito na gratuidade como forma de atrair mais seguidores para a rede e, consequentemente, anunciantes. No médio e longo prazos precisarão de novos investimentos e melhoras que serão exigidas nas transmissões e, logo, criarão algum modelo de cobrança, mesmo que fique abaixo dos valores cobrados pelos canais de assinatura.

Taça da Libertadores
Libertadores está no Facebook (Foto: Divulgação/Conmebol)

PROBLEMAS TÉCNICOS VIRAM DOR DE CABEÇA

Os direitos de transmissão dos jogos das noites de quinta-feira da Libertadores quase deixaram de ser exclusivos do Facebook no Brasil. A Conmebol ficou incomodada com as reclamações em praticamente todos os países da América do Sul sobre a parte técnica das transmissões e tentou dar parte dos direitos para a TV Globo e a Fox Sports. Entretanto, voltou atrás na decisão.

A Fox Sports segue negociando o compartilhamento das transmissões da Copa Libertadores para o Brasil às quintas-feiras, até então exclusivas da empresa de rede social. Nos países de língua espanhola (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela), as transmissões já serão divididas a partir desta terça-feira (9).

No Brasil, a rede social fez pressão na Conmebol, que determinou que o contrato será mantido - irritando as emissoras, que estavam interessadas em receber os jogos que a plataforma poderia oferecer. O Facebook argumentou que pagou um alto valor pelo contrato. A plataforma também ameaçou entrar na Justiça caso a exclusividade fosse retirada. 

Apesar de pressionada, a Conmebol também deu recados. A entidade cobrou que o Facebook melhorasse a parte técnica das transmissões. O Facebook, que se comprometeu em investir em melhorias, também tem os direitos da Champions League e exibe partidas de forma exclusiva - onde existem as mesmas reclamações. No restante da América do Sul, a queixa é parecida. 

E NOS OUTRO PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL?

O LANCE! entrou em contato com jornalistas de outros países da América do Sul que também disputam a Libertadores para entender como está sendo a transmissão nestes locais, tendo em vista que as questões sociais dos países são diferentes. As respostas se dividem entre elogios e críticas. 

Argentina: "Posso contar a minha experiência pessoal. Vi vários jogos, o ultimo foi Atlético Nacional x Libertad, e não tive problema em assistir pelo Facebook. As queixas são maiores de quem está acostumado a ver pela televisão", declarou Franco Marro, do El Protagonista-Television Regional. 

Uruguai: "As pessoas no Uruguai estão muito descontentes por ver pelo Facebook. O Peñarol, por exemplo, foi exclusivo e muitos não tinham wi-fi ou lugar para assistir, além dos problemas de transmissão. Essas são as reclamações fundamentais", disse JP Romero, do Diário El País. 

Chile: "É estranho modelo com a Copa Libertadores através do Facebook. Sem dúvida eles queriam buscar uma simetria com o tecnológico, mas não o atingiram em sua magnitude total, devido a lentidão da transmissão pela internet e a distração dos comentários no meio do evento. Os fãs preferem o  formato de TV, onde o sinal não cai, e eles estão acostumados com a normalidade do sistema", declarou Matías Larraín, da Radio ADN. 

Colômbia: "A maioria das transmissões pelo Facebook acabam com pessoas reclamando nos comentários. É complexo para os adultos que não usam esse tipo de rede social e, por consequência, não consegue ver a partida da sua equipe. Quem não tem rede social, acaba ficando desinformado", declarou Angie Smith, da Fémina Fútbol e Red Sonora. 

O FUTEBOL COMO REUNIÃO SOCIAL

As transmissões esportivas, portanto, transcendem o entretenimento individual. Não é novidade que, especialmente no Brasil, um enorme mercado periférico orbita em torno do futebol. Bares, botecos e restaurantes contam com dias de jogos para receber a clientela. Exibição de partidas através de televisões ou telões são costumeiros, mas podem estar chegando ao fim. 

A Casa Clipper, localizada no Leblon, bairro carioca, é um dos redutos mais frequentados em dias de jogos do Flamengo. Um dos sócio-proprietários do estabelecimento, que preferiu não ser identificado, foi perguntado se as transmissões exclusivas na internet ameaçam os negócios. 

- Para nós é prejuízo. Claro que é. O pessoal sai do trabalho para ver o jogo aqui. Se passar no Facebook, as pessoas não se interessam para vir ao bar. Para ser sincero, eu nunca tinha pensado que isso poderia acontecer. Para nós é muito ruim - explicou. O LANCE! procurou o Facebook para entender as medidas para esse público, mas também não obteve resposta.

casa clipper
Casa Clipper: um dos principais redutos flamenguistas no Rio 

- Os jogos de Flamengo e Palmeiras serão primordiais para avaliar a eficiência do modelo adotado pelo Facebook e teste para os bares se prepararem para o futuro próximo. Isso não é mais tendência. Vão precisar de banda larga eficaz e equipamentos que permitam essa transmissão. Não podemos esquecer também do público, pois o jovem se adapta a essa realidade facilmente, enquanto os "veteranos" precisarão de mais tempo - analisa Rogério Braga. 

Basta comparar. No Brasil, dos 69% da população com idade acima de 10 anos que tem acesso à internet, 97% utilizou o celular para se conectar em 2017. Cerca de 64% acessou a rede por computadores, com monitores que mais se aproximam da tevê. Os dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (PNAD contínua), divulgada pelo IBGE, vão na contramão de outra característica das transmissões: a socialização. 

Como mostra a PNAD, os celulares concentram cada vez mais o acesso à internet no Brasil e no mundo. Em paralelo a isso, apenas 33,7% das residências brasileiras tinham acesso a TV por assinatura até o último trimestre de 2016. Por isso, bares e estabelecimentos se tornam tão importantes para levar o futebol a um determinado público, além de proporcionar as famosas 'discussões' e 'resenhas' de boteco, parte da identidade do país. 

TERCEIRA IDADE PAGA PELOS NOVOS TEMPOS

No próximo dia 11 de abril, Flamengo e San José (BOL) se enfrentarão pela fase de grupos da Libertadores. A partida, até segunda ordem, será transmitida exclusivamente no Facebook. Ok, mas e para quem não está acostumado com a novidade, como os idosos? Caso de Jorge Traven, de 59 anos, que não tem um perfil da rede social. 

- É provável que eu não veja o jogo ou tenha que pedir ajuda de alguém que tenha Facebook. Se o meu filho (quem tem um perfil) não estiver em casa, provavelmente não vou assistir ao jogo - contou. 

O profissional de educação física não está sozinho. Cerca de 45% por cento dos adultos com idade entre 55 e 59 anos não acessaram a internet em nenhum momento no último trimestre de 2017, ainda de acordo com a PNAD. Entre os idosos (60 anos ou mais), esse percentual sobe para 68,5%. Também não há campanhas para conscientização dos mesmos por parte da rede social. 

IBGE
(Foto: Reprodução/IBGE)

Do outro lado, os jogos exclusivos no Facebook agradam os jovens como Sidney Frejat, de 23 anos. O estudante de Educação Física, que tem o costume de acompanhar jogos do Novo Basquete Brasil (NBB) - transmitidos somente pela plataforma - aprova a extensão da ideia também para jogos de futebol.

- Eu acho justo. Mais gente vai poder assistir, o NBB faz isso. Eu posso assistir na rua, na aula. A maioria das pessoas tem "Face", acho que isso aumenta o alcance e fica até mais barato - opinou, seguido de Caroline Medeiros, de 22 anos, que enumerou as vantagens desse tipo de exibição para a sua realidade:

- Primeiro, não tenho TV em casa. Pelos horários da minha rotina de estudante, é mais fácil ver algo enquanto espero a aula ou estou sem nada para fazer na faculdade, com o celular na mão. Talvez ser exclusiva não seja tão necessário, mas não me importaria muito. Acho que não afetaria negativamente tantas pessoas.

SMARTV SÃO REALIDADE?

Frejat, porém, é consciente que a novidade pode afastar uma faixa etária do futebol. Além disso, ele também tem o costume de encontrar-se com amigos em bares para assistir a jogos, e enxerga uma alternativa para os estabelecimentos.  

- Dá pra juntar o útil ao agradável. Tem as SmarTvs, a possibilidade de ligação entre internet e tevê via cabo. Os donos dos bares podem se atualizar a dar essa "moral" para a "velha guarda" - sugeriu. 

A difusão das Smart TVs de fato, tem crescido no Brasil. Em 2016, 11,3% da população utilizou internet na televisão, enquanto o número passou para 16,3% em 2017, um acréscimo de mais de 7 milhões de usuários. Mas, na contramão disso, 11,9 milhões de pessoas ainda dependiam do sinal analógico, que está em processo de substituição pelo digital. 


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