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Escolinha de árbitro? Ela existe, faz o bem e está revelando nova geração

Trabalho voluntário na Bahia já atendeu 150 jovens em seis anos. Ex-árbitro da Federação Bahiana é o responsável pelo projeto. Ele conta histórias de superação ao LANCE!

GALERIA: Conheça a Divisão de Base de Árbitros de Futebol (DBAF)
(Foto: Divulgação)

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Como o futebol pode transformar a vida de um jovem carente? Em muitos casos, o caminho começa pela escolinha de futebol e tem o seu ápice nos campos profissionais. Pensando nessa dinâmica, Rildo Góis, árbitro do quadro baiano entre 1999 e 2007, decidiu inovar na missão de ajudar o próximo: em 2011 ele criou a Divisão de Base de Árbitros de Futebol (DBAF), em Salvador. Desde então, a escolinha já atendeu 150 crianças e adolescentes. O projeto, gratuito, atualmente acolhe 25 meninos e meninas entre 10 e 17 anos.

A DBAF funciona no subúrbio de Salvador, na Escola Parque, no bairro do Cabula - há também atividades pontuais em outros locais. Rildo tinha a ideia da escolinha desde o começo dos anos 2000, mas demorou para encontrar crianças dispostas a se dedicar ao insólito objetivo de crescer apitando. O projeto começou a caminhar em 2007, quando Rildo conheceu Luanderson Lima, então com 12 anos, apitando uma "pelada". O jovem carente confessou sonhar em ter a mesma profissão de Rildo Góis e começou a ser orientado pelo árbitro. Ali nasceu o que, quatro anos depois, viria ser a DBAF.

- Quando o Luanderson tinha 12 anos, um pessoal foi na casa dos pais dele para falar que ele estava envolvido em um mundo ruim para criança. Naquele mesmo período eu o conheci e a vida dele teve uma transformação. Hoje, com 22 anos, ele é assistente da Federação Bahiana e da CBF - comentou Rildo Góis.

Escolinha de árbitros
Luanderson Lima já pertence ao quadro da CBF (Foto: Divulgação)

O trabalho voluntário de Rildo, hoje com 46 anos, já deu frutos outros também.

- Dos 150 jovens já atendidos, 40 estão envolvidos com arbitragem, dez são da Federação Bahiana, dois estão no quadro da CBF e 15 estão na faculdade - disse Rildo, que tira seu sustento da arbitragem em jogos amadores.

- Nosso projeto atua não só na arbitragem, mas na formação do cidadão. Temos preparador físico, nutricionista, tudo com profissionais que trabalham de forma voluntária. O que gera dinheiro no futebol é fazer jogador, vender jogador, e ninguém olha para a arbitragem, porque a arbitragem é mesmo por amor. Mas mas o retorno que eu tenho tido desses jovens transformando a vida é muito satisfatório. É isso que me move e move o projeto.

Todo sábado de manhã, a garotada se reúne para escutar os ensinamentos de Rildo. O pré-requisito obrigatório para fazer parte do projeto é estar na escola.

- A gente fala com os pais: só vai fazer a escolinha quem tiver estudando. Temos contribuído para as crianças estarem nas salas de aula - comentou.

HISTÓRIAS MARCANTES

Rildo comemora as vidas transformadas, porém uma das histórias mais marcantes para ele envolve a perda de um jovem, morto aos 15 anos:

- São várias as histórias tocantes. Tinha um garoto de 14 anos... Fiquei um ano tentando levar esse garoto para o projeto, mas ele não foi. Quando fez 15 anos, a vida dele foi ceifada por conta de certos envolvimentos. O pai dele, quando me encontrou, me deu um abraço caloroso, chorando, dizendo que se o seu filho tivesse ido para o projeto, talvez não tivesse sua vida interrompida.

As crianças atendidas pela DBAF também fazem algumas refeições no projeto. Rildo contou que um jovem atendido atualmente pela escolinha guarda parte de sua alimentação para levar ao pai, que enfrenta dificuldades.

- Quando esse garoto tinha 11 anos, o pai dele deixou a família. Neste ano, cinco anos depois, reapareceu querendo retomar o casamento, mas a esposa estava em outro relacionamento. Esse pai então ficou deprimido, teve problemas de alcoolismo... O menino sai correndo daqui da escolinha com a comida para dar ao pai. Recentemente, chamei esse pai no projeto e dei 250 copinhos de água para ele vender na praia. Agora ele está se reconstruindo.

Escolinha de árbitros
Pai de jovem ganhou 250 copos de água para vender (Foto: Divulgação)

O projeto não conta com patrocinadores. Todo o dinheiro utilizado sai do bolso de Rildo Góis e alguns colegas do árbitro. Em 2013, a CBF, reconhecendo o pioneirismo da escolinha, colaborou com 38 mil reais em material esportivo:

- Nosso projeto foi ganhando força aos poucos. Hoje os jovens já nos procuram, até garotos de outros estados querem entrar. A gente está buscando muito um patrocinador. Estamos com tudo registrado na DBAF e buscando aí.

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