Calderano adapta treinos e se arrisca até na cozinha de olho na Rio-2016
Indicado a revelação do ano, atleta encara seis horas diárias só de academia na Alemanha, recorre a feijão de caixa para aliviar saudade do Brasil e sonha em jogar no país no futuro<br>
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Hugo Calderano tem só 19 anos. Mas como prova de que se acostuma facilmente aos sacrifícios típicos de um atleta de ponta, o mais jovem campeão individual da história dos Jogos Pan-Americanos deixou uma vida de conforto para trás.
Com a classificação garantida para a Rio-2016 após o feito em Toronto (CAN), ele vem adaptando seus treinos e aprendeu até a cozinhar.
Sem reclamar da carga intensa de atividades, da saudade de casa ou do cardápio que está longe de suas preferências, o carioca vai encerrar a temporada com a sensação de que o esforço vale a pena após um ano e meio na pequena Ochsenhausen (ALE).
– Sei que preciso estar aqui para competir contra os melhores. Fico meio enjoado com a comida e acabo cozinhando em casa. Tem muito porco e não gosto tanto. Até levo um pouco de feijão em caixinha pronto para matar a saudade – contou Hugo, 74º do ranking mundial, ao LANCE!.
Indicado pela Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF) como revelação do ano, ele poderá receber o prêmio em cerimônia nesta quarta-feira, às 16h (de Brasília), em Lisboa (POR).
Os concorrentes são a japonesa Mima Ito e o sul-coreano Jang Woojin. De quebra, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) já o elegeu o melhor brasileiro da modalidade em 2015.
Nos últimos meses, uma fratura no dedo mínimo da mão direita fez com que o mesatenista buscasse outras formas de se manter ativo mesmo sem jogar.
Habituado a treinar até seis horas por dia com bola e raquete, ele manteve a carga, mas com alongamentos e abdominais na academia.
– Acabei de certa forma perdendo em técnica, mas ganhei no físico. Faço um trabalho de alongamento e estou bem mais flexível. Não fiquei prejudicado – disse o atleta, que está voltando aos poucos.
Líder da liga alemã, considerada a mais forte da Europa a segunda melhor do mundo, atrás apenas da chinesa, o Ochsenhausen custeia o apartamento, conta luz e alimentação do atleta.
"Aqui tenho jogos com bastante gente, algo em torno de 3 mil para um jogo de tênis de mesa. No Brasil, isso não acontece, pois o público é basicamente formado pelos caras que não estão jogando" - Hugo Calderano
Ele tem contrato até o fim da temporada 2016/2017 e não pensa em mudar de vida tão cedo. Mas sonha em voltar um dia.
– É claro que pretendo continuar aqui. No Brasil, infelizmente, ainda não é possível fazer uma carreira tão boa. Espero que no futuro seja.
Avô incentiva até de longe
O que nunca faltou a Hugo Calderano foi incentivo da família. Seus pais, Elisa e Marcos, são professores de Educação Física. O mesmo vale para o avô.
Aos 72 anos, Antônio de Araújo Borges tem orgulho de ter contribuído para o sucesso da joia, com quem conversa por Skype com frequência.
– Ele jogou vôlei no Fluminense antes, e o pessoal queria que ele ficasse lá. O mesmo aconteceu no atletismo. Eu sempre o acompanhava no clube depois da escola e ficava junto – lembra o avô.
Quando optou definitivamente pelo tênis de mesa, Hugo percebeu que teria de mudar de vida e até de cidade. Antes de sair do país, passou um período em São Caetano do Sul (SP), onde a Confederação Brasileira (CBTM) mantém seu centro de treinamento.
– Eu fui junto! O único disponível na família para acompanhá-lo era o avô aposentado. A avó deixou – recordou Antônio, que trabalhou como voluntário no evento-teste da Rio-2016, em novembro, e espera fazer o mesmo nos Jogos.
– Meu avô não aguenta assistir aos meus jogos, porque fica muito nervoso. Na Olimpíada vai ser pesado para ele – brincou Hugo.
Bate-Bola
Hugo Calderano, atleta da Seleção Brasileira de tênis de mesa, ao LANCE!.
LANCE!: Como foi e o que motivou a sua ida para a Alemanha no ano passado?
Hugo Calderano: Eu já tinha vindo para cá antes. O Jean-René Mounie (técnico francês da Seleção) trabalha bastante com o Michel Blondel, head coach de todo mundo que treina no clube. Isso foi o principal. O pessoal do clube gostou de mim.
L!: Como foi a adaptação?
H.C.: Moro com outro brasileiro, o Vitor Ishii. Nós treinávamos juntos em São Caetano, então ficou mais fácil com um amigo aqui. Foi tudo rápido, e sinto falta da família, dos amigos e da comida do Brasil. E o frio quando bate é difícil. Chega até 10 graus negativos.
L!: Os ataques terroristas na França?
H.C.: Não há tanto medo por aqui, mas o pessoal se comoveu bastante. Alguns franceses treinam na minha equipe, além de dois técnicos e meu preparador físico, Mikael Simon. Foi um clima meio tenso, mas agora está mais tranquilo.
L!: É muito diferente jogar em um país onde o tênis de mesa é mais popular?
H.C.: Não chega a ser como no futebol, mas há jogos com bastante gente, algo em torno de 3 mil para um jogo de tênis de mesa. No Brasil, isso não acontece, pois o público é basicamente formado pelos caras que não estão jogando.
A carreira
- Na Argentina, em 2011, Hugo conquistou o primeiro título do Circuito Mundial juvenil. Foi ainda campeão brasileiro e latino-americano infantil.
- Em 2012, foi escolhido pelo COB para participar do Vivência Olímpica, projeto que levou 16 promessas do esporte brasileiro aos Jogos de Londres
- No mesmo ano, foi campeão de cinco etapas do Circuito Mundial juvenil e medalhista de bronze no Mundial infantil
- Ao conquistar o Aberto do Brasil em 2013, tornou-se o mais jovem atleta da história a conquistar uma etapa adulta do Circuito Mundial
- Abriu 2014 com o vice-campeonato das Finais do Circuito Mundial juvenil, em Portugal
- Em março, aos 17 anos, levou seu primeiro título latino-americano adulto
- Três meses depois, conquistou o Aberto do Japão sub-21 ao derrotar na decisão o atual campeão mundial juvenil
- O auge da temporada veio em agosto, com o bronze individual nos Jogos Olímpicos da Juventude
- Em seguida, assinou com o Liebherr Ochsenhausen e se mudou para a Alemanha, onde, logo na sua segunda partida pela liga local, venceu a lenda Timo Boll, ex-número um e atual oitavo colocado do ranking mundial
- No início de 2015, foi vice de duplas do Aberto do Qatar, no melhor resultado das Américas em uma etapa da série Super, a mais importante do Circuito Mundial – comparável a um Grand Slam do tênis
- Em março, voltou a ser campeão latino-americano
- Nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em julho, tornou-se o mais jovem campeão individual da história, garantindo vaga no Rio 2016
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