Fraudes e truques: Wada mostra os ‘porões’ do doping na Rússia
Em relatório divulgado nesta quarta-feira, Agência Mundial Antidoping mostra que ações para burlar as regras seguem em prática no país. Mais de 700 testes foram descartados
- Matéria
- Mais Notícias
A Agência Mundial Antidoping (Wada) divulgou nesta quarta-feira um relatório importante e ao mesmo tempo assustador. A entidade publicou em seu site oficial uma atualização de suas investigações a respeito das práticas de doping na Rússia, país que está na mira do combate à utilização de substâncias proibidas, inclusive com a possibilidade de ser impedida de participar das competições de atletismo nos Jogos Olímpicos Rio-2016. E, de acordo com a agência, os russos seguem burlando as regras, mesmo com o cerco cada vez mais apertado.
O relatório foi baseado em 2.947 exames antidoping realizados no país entre 18 de novembro de 2015 e 29 de maio deste ano. Os testes tiveram a colaboração da Associação Internacional das Federações de Atletismo (Iaaf), que executou 655 exames, e também da Agência Antidoping Britânica (UKAD), que realizou outros 455.
De acordo com a Wada, 736 testes não foram realizados com sucesso. Em 669 deles, os oficiais de controle não tinham capacidade técnica para executar o trabalho. Outros dois atletas que seriam testados se aposentaram. Em mais 25, houve mudanças no programa Whereabouts (sistema em que os atletas precisam preencher formulários periodicamente com sua localização, para serem encontrados em testes surpresa). E, por fim, 40 foram classificados por "outras razões".
Relacionadas
Estes dados nem são os mais graves. O documento da Wada mostra que as fraudes e as fugas intencionais de testes antidoping na Rússia seguem acontecendo, mesmo com a agência no encalço das autoridades e atletas locais. A Wada, no entanto, preservou o nome de todos os competidores envolvidos. Ninguém foi citado.
Tal relatório foi publicado apenas dois dias antes do anúncio da Iaaf se a Rússia será proibida ou liberada de competir no atletismo nos Jogos Olímpicos Rio-2016. No momento, o país está banido das competições.
Veja abaixo algumas das práticas de atletas russos para burlar o sistema antidoping (informações do relatório da Wada)
Casos positivos
- Entre os 2.947 exames realizados, 52 atletas testaram positivo: 49 por meldonium (mesma substância que causou a suspensão de dois anos de Maria Sharapova), um por combinação de meldonium e tuaminoeptano, um por estanozolol, e um por nandrolona. Um 53º atleta se recusou a ser testado.
Problemas no programa Whereabouts
- A Wada constatou 111 falhas no sistema de localização de atletas russos (Whereabouts) para testes surpresa. Vinte e três atletas não foram encontrados para exames, e outros 88 preencheram seus formulários com informações erradas.
- Dois ciclistas que faziam parte do programa Whereabouts não foram encontrados para realizar testes por mais de um ano. Eles se aposentaram depois deste período, depois de terem sido notificados por perderem testes.
- Um biatleta passou por 35 testes entre 2012 e 2016, mas todos os exames fora de competição sempre eram realizados em seu local de treinamento. Ele surpreendeu-se quando, certo dia, teve de fazer um teste em sua residência.
Fugas
- Um competidor do atletismo russo se evadiu de um local de competição após participar de sua prova, e antes de ser notificado pelos oficiais de controle antidoping.
- Em competições com a presença de oficiais de controle, atletas não completavam suas provas, ou então sequer participavam, mesmo inscritos.
- No campeonato nacional de marcha atlética em fevereiro deste ano, 15 atletas não competiram, desistiram no meio do caminho ou foram desclassificados - destes, seis haviam informado no programa Whereabouts que estariam em outra cidade e não em Sochi, onde aconteceu a competição.
- A seleção masculina de hóquei sobre gelo sub-18 teve de ser substituída pelo elenco sub-17 no Campeonato Mundial, pois os jogadores haviam utilizado meldonium.
Fraudes
- Uma competidora do atletismo passou por exame antidoping com uma bolsa escondida dentro de seu corpo, supostamente com urina "limpa", para tentar burlar o teste. O líquido acabou vazando no chão, ao invés de cair dentro do recipiente de controle. A atleta acabou jogando, minutos depois, esta bolsa no lixo do local do exame, e que foi recolhida pelo oficial antidoping. A competidora ainda tentou oferecer propina para o membro do controle. Tempos depois, a atleta deu positivo em outro teste.
'Truques'
- A Wada relatou que atletas forneciam em seus formulários do Whereabouts cidades militares, onde o acesso é mais restrito e com a exigência de permissões especiais. Ao fazerem isso, os competidores imaginavam que a chance de serem localizados era mais difícil. Competidores adotavam tal prática mesmo quando não estavam nestas regiões.
Intimidações
- A Agência Mundial Antidoping relatou que oficiais de controle eram intimidados por agentes armados nestas cidades militares, inclusive ameaçados de serem expulsos do país.
- Em competições, treinadores e médicos russos insistiam em tirar fotos de credenciais de oficiais de controle, formulários de exames e cartas oficiais. Além disso, questionavam a veracidade de tais documentos.
Falhas relatadas
- Em uma competição de luta olímpica, atletas tinham acesso livre ao laboratório onde os testes antidoping eram realizados.
Mais lidas
Newsletter do Lance!
O melhor do esporte na sua manhã!- Matéria
- Mais Notícias