A CBF divulgou na semana passada o calendário para o futebol brasileiro em 2014, um ano bastante complicado por conta da realização da Copa do Mundo. No ano que vem haverá uma parada de 32 dias nas competições para a realização da competição.
O modelo atual de calendário adotado no Brasil é sem dúvida nosso maior problema, entre tantos que temos atualmente. Os clubes são obrigados a realizar um grande número de partidas por ano, em competições com baixo apelo comercial, bem diferente da realidade dos principais centros do esporte mundial.
O modelo de calendário utilizado no futebol brasileiro minimiza o seu potencial técnico e por consequência reduz seu apelo mercadológico como produto.
Segundo dados publicados pela CBF, em 2014 os clubes terão apenas quatro dias de pré-temporada, depois das férias de seus atletas e já no dia 12 de janeiro iniciam os Campeonatos Estaduais, que terminam em 13 de abril. Os Estaduais são os maiores responsáveis pelo o que eu chamo de ciclo vicioso do futebol brasileiro, causado pelo nosso calendário irracional.
Este ciclo vicioso é resultado de uma enorme quantidade de jogos realizados pelos clubes durante a temporada, e quanto mais o clube evolui nas competições, mais caótica é a operação de sua atividade fim. Isso significa que quanto melhor o clube esteja em uma competição, mais o clube vai sofrer no ano em questão e também no planejamento de suasatividades para o ano seguinte.
Um bom exemplo para mostrar essa realidade são os clubes brasileiros que disputam o Mundial Interclubes da FIFA. Tivemos os exemplos recentes do São Paulo, Internacional, Santos, Corinthians e neste ano o Atlético-MG. Esses clubes tiveram o privilégio de disputar o torneio Intercontinental, graças aos títulos da Copa Libertadores da América. Assim, enquanto os outros clubes encerraram sua temporada com o fim do Campeonato Brasileiro, esses clubes foram disputar o Mundial.
Isso significa, que se um clube brasileiro for Campeão do Mundo, título histórico e importantíssimo, sua próxima temporada estará prejudicada, antes mesmo de ter início. Isso porque após a volta Mundial, e com 30 dias de férias para seus atletas, o clube não terá pré-temporada, pois tem início o campeonato estadual logo no início do ano.
Esse é apenas um exemplo de como está complicada vida dos clubes brasileiros, já que um clube com potencial de se sagrar campeão do mundo tem como grande prêmio por essa façanha, a inviabilização da pré-temporada do próximo ano e por consequência todo o trabalho de planejamento físico e técnico do time.
Isso vale para vários temas relacionados ao calendário, onde muitos clubes são prejudicados, pelo seu excelente desempenho esportivo. Nesse contexto é muito difícil um clube brasileiro repetir dois títulos seguidos da Libertadores da América, por exemplo.
Outro fator fundamental é que as competições tanto no Brasil como na América do Sul são muito pouco rentáveis para os clubes, fruto de um baixo desenvolvimento comercial das mesmas.
As receitas com os direitos de transmissão, patrocínios, licenciamento e bilheteria cresceram muito no Brasil, mas estão muito aquém de seu potencial máximo. E com tudo isso, os clubes ainda sofrem com as convocações da Seleção, sem que os campeonatos sejam interrompidos.
Isso significa que por culpa direta do calendário do futebol brasileiro, um clube pode ficar de fora da disputa pelo título da principal competição do país. Muitas vezes o resultado deste ciclo é um clube com alto investimento no futebol, não conseguir uma vaga para Libertadores, porque perdeu partidas fundamentais, quando estava em meio a competições importantes, como a Libertadores da América ou Copa do Brasil.
Outros fatores também afetam os clubes como o baixo apelo comercial das competições tanto no Brasil como no exterior, perdas de jogadores nas janelas de transferências, faltas de datas para excursões internacionais, insegurança nos estádios e o baixo retorno financeiro dos campeonatos, além dos recursos oriundos da TV.
Assim, o ano e 2014, com a parada da Copa do Mundo, deveria servir como o momento para iniciarmos uma mudança efetiva em nosso calendário, exatamente para acabarmos com o nosso ciclo vicioso.
Os clubes não têm uma pré-temporada para se prepararem para a principal competição nacional, o Campeonato Brasileiro e para a Libertadores da América, por culpa de extensos e pouco atrativos Campeonatos Estaduais.
Por isso é fundamental que o quanto antes estudemos alternativas reais para os próximos anos, fazendo com que o futebol brasileiro tenha em seu calendário um aliado e não um inimigo.
Com isso ganharão todos os envolvidos com futebol no Brasil.