Depois de desativar os esportes olímpicos no início do ano, a diretoria do Flamengo decidiu apostar nas leis de incentivo para tentar reerguer o departamento. Com a nova estratégia, o clube já conseguiu aprovar cerca de R$ 35 milhões em projetos para mais de dez modalidades e, entre outubro e novembro, espera a resposta de mais R$ 32 milhões.
O novo caminho escolhido pelo Flamengo só foi possível pela conquista das CNDs, no início do ano, documentos exigidos pelo governo estadual e federal, que comprovam que os impostos estão em dia. Com isso, o clube tem desembolsado cerca de R$ 7 milhões por mês, o que vai significar aproximadamente R$ 84 milhões por ano.
– Pagar imposto é uma coisa óbvia, mas que nos últimos anos não estava tão óbvio assim. O que estamos tentando fazer é compensar os gastos em impostos com projetos pelas leis de incentivo. É a forma que achamos de recuperar esse dinheiro. Nossos olímpicos não vão depender do futebol – afirmou o vice-presidente de Esportes Olímpicos do Flamengo, Alexandre Povoa.
Apesar de já ter conseguido aprovar mais da metade dos projetos, Póvoa diz que o trabalho está começando. Com as cartas de permissão para captação, o clube agora busca empresas interessadas em bancar os planos de reestruturação do esporte olímpico na Gávea, e também em outras ideias.
– Todo o processo é trabalhoso. E todo mundo acha que a fase de captação é a mais fácil. Mas não é. Tem empresa que não quer nem ouvir falar em futebol. E tem empresa que destina todo o dinheiro que pode para a cultura. O ICMS não tem data, mas o IR, sim, o que também dificulta. A gente precisa de pelo menos 20% até o fim do ano, para continuar podendo captar – explicou o diretor.
Dos R$ 67 milhões em projetos incentivados, R$ 30 milhões são pela lei estadual do Rio de Janeiro e R$ 37 milhões, pela federal. Dentre os planos do clube estão: reforma no parque aquático da Gávea, obras nos CTs da base e do profissional, em Vargem Grande, custos com basquete, futsal, vôlei, ginástica artística, judô, natação, remo, canoagem, pólo aquático, etc. Os gastos incluem viagens, salários e equipamentos, deixando de fora direitos de imagens.
Bate-Bola
Alexandre Póvoa, Vice-presidente de Esportes Olímpicos do Flamengo
L!Bizz: Como surgiu a ideia?
Queremos mudar esse círculo vicioso de sempre estar atrasado. Agora estamos em dia e pagamos muito todo mês. Vamos tentar equilibrar a balança. A ideia de pedir colaboração dos torcedores surgiu do conhecimento da lei, é uma forma que pode nos ajudar.
L!Bizz: Qual é a expectativa de vocês de arrecadação com torcedores?
AP: Isso é uma coisa muito inédita no Brasil e, por isso, a gente não consegui ter dimensão do que vai significar em números. Achamos que vamos arrecadar muito. Queremos fazer que esporte olímpico se sustente no clube, sem o futebol.
L!Bizz: Como vai ser a campanha com os torcedores?
AP: Temos um cadastro com mais de 600 mil torcedores. Vamos usar isso, fazer propagandas na televisão e na internet também. Claro que o foco vai ser maior na classe média alta, mas vamos acionar todos os nossos torcedores.
L!Bizz: Em quanto tempo vocês esperam ter uma equipe competitiva?
AP: Por enquanto vamos focar na base, mas acho que na temporada 2014/2015 vamos conseguir ter equipes fortes para competir.
João H. Chiminazzo
Especialista em direito desportivo
Projeto precisa ser muito detalhado. Na lei de incentivo federal, as empresas podem doar 1% do seu imposto devido para projetos esportivos, e as pessoas físicas podem doar 6%. E cada estado pode ter uma lei de incentivo própria.
Via de regra, o processo é o seguinte: o clube monta o projeto detalhado e manda para o Ministério do Esporte, que vai ver se cumpre os requisitos. Se não estiver em ordem, eles devolvem e indicam o que precisa mudar. Quando aprovado, chega a fase de captar recursos, com empresas ou pessoas físicas. O dinheiro arrecadado é depositado numa conta específica. Se o projeto for de R$ 1 milhão e estiver no cronograma que você vai gastar R$ 100 mil por mês, é só isso o que você vai retirar. Para o torcedor, o depósito também será na conta do projeto e, quando for fazer a declaração do IR, terá o abatimento.