Artilheiro do Botafogo detalha bastidores de título em cima do Peñarol

Em 1993, o Glorioso foi campeão da Copa Conmebol em cima dos uruguaios

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O jogo mais importante da temporada chegou. O Botafogo enfrenta o Peñarol, no estádio Nilton Santos, pelo jogo de ida das semifinais da Libertadores, nesta quarta-feira (23). A última vez que o Glorioso chegou tão longe em uma competição continental foi no título da Copa Conmebol de 1993, em cima do mesmo rival uruguaio. Sinval, artilheiro daquela conquista, relembrou o título inédito que marcou uma geração.

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Em entrevista ao Lance!, o ex-jogador contou bastidores daquela campanha, o jogo que mais o marcou, deixou o seu palpite para o resultado desta semifinal e muito mais.

Muitos podem não lembrar, mas Sinval foi um dos principais nomes daquela conquista. Artilheiro do Botafogo em uma competição internacional, com oito gols, e recém superado por Júnior Santos, com nove. O atacante chegou ao clube em 1993, à pedido do técnico Carlos Alberto Torres, em um momento complicado do time alvinegro. Depois de perder o campeonato nacional para o Flamengo, o presidente Emil decidiu reformular todo o elenco.

– Depois da perda do Campeonato Brasileiro para o Flamengo, o Emil levou o time embora, e graças a Deus, sobrou para o pessoal da categoria de base. Com a minha chegada, com a chegada do Eliel, do Suélio, e a dificuldade era grande naquela época. As pessoas comentam que era um time limitado, e eu não vejo limitação, de maneira alguma. Nós fomos muito guerreiros, porque nós não tínhamos, na ocasião, estrutura nenhuma para praticar o futebol. Nós não tínhamos camisa, nós não tínhamos bola. Para você ter uma ideia, nós íamos para o Galeão para pegar os voos para fazer os jogos na Venezuela, no Uruguai. Eu mesmo morava na Joaquim Távora e eu pegava um ônibus que se chamava Galeão para chegar até o aeroporto para poder ir para o jogo.

O elenco começou a temporada desacreditado depois de mau momento no Campeonato Brasileiro de 1993: último colocado no Grupo A, com apenas seis pontos em 14 disputados. Mas, quando o assunto era Copa Conmebol, a equipe de Carlos Alberto Torres se transformava. O técnico foi um dos grandes responsáveis pela virada de chave do Alvinegro até a conquista do título.

– O trabalho de Carlos Alberto Torres foi um ponto essencial para nós. Ele fez com que nós acreditássemos, dizia que nós éramos capazes, e isso fez com que a gente, jogo a jogo, nós fôssemos acreditando e tivemos esse êxito.

– Para você ter uma ideia, muitos de nós não sabíamos nem que nós íamos disputar um campeonato sul-americano. Uma competição internacional. Porque como disse, 80% era das categorias de base, e as pressas e com uma vontade muito grande de chegar ao profissional. E eu também, quando fui contratado, que eu vim na época, eu tinha feito o Campeonato Paulista pelo Novorizontino, eu pertencendo sempre ao português, não sabia que o Botafogo ia vencer, ia disputar uma Copa Sul-Americana. Para mim foi uma surpresa.

Jogo de estreia contra o Bragantino

– Quando eu vi que era Bragantino, eu comecei a dar risada comigo mesmo, porque eu sempre fiz jogos contra o Bragantino na época de categoria de base da Portuguesa. No dia a dia, o Carlos Alberto foi passando aquilo para a gente, logo na estreia nós fizemos 2x0 contra o Bragantino, com dois gols meus. Só que a dificuldade era grande demais. Nós tínhamos dificuldade para receber os nossos salários, nós não tínhamos salários muitas vezes, mas a vontade superou tudo, volto a frisar. Aquilo que o Carlos Alberto passava para nós no dia a dia, sabe? Por isso que nós conquistamos. 

Classificação histórica contra o Galo

– O jogo contra Atlético-MG tem uma coisa muito especial, porque nós estávamos perdendo de 3x0, e no finalzinho também voltei a fazer o gol de falta no meio da rua, e acabou o jogo 3x1. O Carlos Alberto entrou dentro de campo pra me abraçar, pra dizer que eu tinha feito o gol da classificação. Eu falei: 'mas como assim? Nós perdemos de 3x1'. Ele falou: 'Não, 3x0 nós não éramos capazes de reverter, mas 3x1' você vai ver o que nós vamos fazer no Caio Martins. Eu fiquei surpreso com aquela confiança, mas naquele jogo (de volta), um grande time que era o Atlético, com o Taffarel,  e nós atropelamos eles.

Final contra o Peñarol

– Os uruguaios bateram muito na gente, mas apanhamos muito, literalmente apanhamos no Uruguai, literalmente. Quando terminou, que o Perivaldo fez o gol de empate, eles não deixaram a gente voltar pra dentro do vestiário. Nós tivemos que pular dentro do túnel, coisa de dois metros de altura. Ficamos trancados dentro do vestiário mais ou menos uma hora, até o policiamento vir.

– No jogo de volta, o Carlos Roberto fazendo um coletivo, com 10 minutos ele terminou o coletivo, porque ele estava muito nervoso, porque nós estávamos errando muito. Ele falou: 'Não, para, para, não vou passar nervoso aqui não.  Eu já fiz o que tinha que ter feito aqui. Não vai ser hoje que vai decidir o que nós vamos fazer amanhã. Eu espero que vocês estejam bem.' (risos)

Sinval, artilheiro do Botafogo na Copa Conmebol, com oito gols. (Foto: Reprodução)

Para a surpresa de um Maracanã lotada, o Peñarol abriu o placar no primeiro tempo, e o Botafogo foi para o intervalo precisando reverter o resultado. Mas, a equipe de Carlos Alberto voltou do intervalo com outra postura. Eliel marcou o gol de falta logo no início do segundo tempo, e Sinval fez o da virada. Mas como 'tem coisas que só acontecem com o Botafogo', os uruguaios chegaram ao empate no final do segundo tempo, levando a decisão para os pênaltis.

– Eu não queria bater, não. Eu pedi ao Carlos Roberto, eu não tenho condições, porque tomar gol aos 47 minutos, eu chorava muito. Eu fiquei muito mal, não estava legal, e eu falei para o Carlos Alberto: 'Eu não quero bater, eu não vou bater. Ele falou assim: 'Você é minha referência, como é que você não vai bater? Você é meu batedor oficial, você tem que bater.' Na hora que eu errei, eu queria encontrar um buraco ali para entrar dentro. Mas, o Perivaldo, o André, o William Bacana nos salvou.

Naquela época, os critérios de classificação da Libertadores eram diferentes. Apenas campeão brasileiro e da Copa do Brasil se classificavam. O vice colocado disputava a Copa Conmebol, que hoje, seria equivalente a Copa Sul-Americana.

Agora, a história é outra. O Botafogo volta a encontrar o Peñarol em um mata-mata de competição internacional, mas dessa vez, em uma semifinal de Libertadores. Com um time sólido, clube estruturado e com um dos melhores projetos esportivos do país, o Alvinegro de 2024, faz o contraste com o time campeão de 1993.

 O momento é outro, graças a Deus, né? Por isso que eu falo que o meu time não era limitado. O meu time foi muito guerreiro. O meu time venceu, né? Agora, esse Botafogo de hoje é de dar os parabéns, principalmente às pessoas que acreditaram no projeto.

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