A longa negociação se transformou em casamento e a torcida logo abraçou com uma grande festa. Agora, a questão se dá dentro de campo: onde Keisuke Honda vai atuar pelo Botafogo? O principal reforço do Alvinegro para a temporada carrega consigo algumas dúvidas sobre qual posição ocupará na equipe comandada por Paulo Autuori.
Em grande parte da carreira, Keisuke Honda, apesar de ter iniciado a carreira como um ponta e até ter jogado como lateral-esquerdo no Nagoya Grampus, clube que o revelou, revezou entre um meia pelo lado direito e um meio-campista ofensivo, que atuava atrás dos atacantes. Com a idade avançada, 33 anos, contudo, o japonês pode explorar um novo setor.
Durante a curta passagem que teve pelo Vitesse-HOL no fim do ano passado, Keisuke Honda atuou como segundo homem de meio-campo, um volante, mais recuado do que "estourou" para o futebol. O LANCE!, portanto, analisou uma atuação do japonês pelo clube. A partida escolhida foi Heereveen 3 x 2 Vitesse, no dia 29 de novembro, pelo Campeonato Holandês.
A EQUIPE
O Vitesse era comandado pelo russo Leonid Slutskiy, técnico que havia treinado Honda no CSKA Moscou e solicitou a chegada do japonês no clube holandês, que não vinha de uma boa sequência na Eredivise. A equipe era escalada em um 4-2-3-1 com os dois jogadores de lado aparecendo com frequência no ataque.
O estilo de jogo era de sair tocando desde o tiro de meta, atrair o adversário e apostar em uma bola longa para que um desses atletas de lado de campo pudessem chegar a uma posição confortável de ataque sem marcação. Honda, portanto, tinha papel fundamental: era um dos principais responsáveis por buscar tais passes em profundidade.
COMO O JAPONÊS ATUOU
No 4-2-3-1, Keisuke Honda fazia parte da primeira linha do meio-campo, como segundo volante. Completavam o setor Matús Bero, volante com maior responsabilidade defensiva, e Riechedly Bazoer, um pouco mais à frente. Mais longe do gol adversário, o japonês ocupou cada vez mais o campo de defesa.
Honda, contudo, não se destaca pela parte defensiva. Na verdade, o japonês pouco aparecia em duelos individuais com os atletas adversários - a função do camisa 33 era mais de ocupar espaços e compor a linha de marcação. Por isto, os outros dois membros do meio-campo o "compensavam": Bero pouco quase nunca passava da parte central e Bazoer, se destacando pela força física, aparecia com frequência no lado direito do meio, justamente o setor de Honda.
No tiro de meta, Honda recuava e ficava entre os zagueiros, com os laterais avançando - formando, assim, uma linha de três jogadores à frente do goleiro. Por vezes, o japonês recebeu a bola perto da grande área e avançou buscando um passe vertical, na maioria das vezes buscando os lados do campo ou Tim Matavz, o atacante da equipe.
Se o japonês não chamava a atenção pelo empenho na defesa - neste jogo. por exemplo, ele fez dois desarmes, número pequeno para um volante -, a produção ofensiva era positiva. O japonês deu cinco passes que geraram finalizações, além de ter 92% de precisão nos toques que deu e de ter errado um lançamento que tentou. Os números são do site "Sofascore".
NO BOTAFOGO...
Paulo Autuori, treinador que foi contratado para o lugar de Alberto Valentim, utilizou o 4-2-3-1 nos últimos trabalhos na casamata e tem o estilo de jogo moldado em criar jogadas por meio da valorização da posse de bola. Honda, portanto, pode voltar a ser utilizado como segundo homem do meio-campo, justamente para qualificar o toque no setor.
Atualmente, Bruno Nazário tem sido um dos destaques do Botafogo atuando como meio-campista avançado. Pela lado esquerdo, Luís Henrique tem sido outra realidade na temporada. Antes de se machucar, Luiz Fernando, autor de duas assistências em 2020, também estava agradando no setor direito, posição que Honda mais jogou durante a carreira.
Mais atrás, Cícero parece ser a única certeza, como primeiro volante. A posição de segundo homem, a que Honda atuou no Vitesse, já foi ocupada por Thiaguinho, Alex Santana e Caio Alexandre durante o ano.
O japonês, com 33 anos, não tem a mesma intensidade dos anos áureos da carreira para recompor espaços no lado do campo, apesar da aplicação tática ser um das principais qualidades do meio-campista desde o começo da carreira. Cabe a Paulo Autuori, portanto, escolher se preferirá escalar o japonês pelos lados ou mais recuado, valorizando a posse de bola desde a origem das jogadas.