Identificação e relação com atletas: como Túlio chega ao Botafogo

Novo gerente de futebol do Alvinegro tem passagem marcante como jogador; fora das quatro linhas, foi marcado por 'participações indiretas' nas decisões do Goiás

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O torcedor do Botafogo ficou acostumado a ver Túlio "Guerreiro" carregando a camisa 5 e dando carrinhos ao longo do meio-campo nas duas passagens que teve pelo Glorioso. Em 2020, a função é diferente: Túlio Lustosa assumiu a blusa social, deixou o apelido para trás e assumiu o cargo de gerente de futebol do Alvinegro na última sexta-feira.

Como dirigente, Túlio tem trabalhos no Sobradinho-DF e no Goiás. O Esmeraldino foi o clube de maior destaque até agora: assumiu como gerente de futebol no fim de 2016. Por lá, ficou até agosto desse ano, quando foi demitido. Em pouco mais de três anos no Alviverde, contudo, o ex-jogador indicava, mas não tinha o aval para contratar. Quem explica é Charlie Pereira, coordenador de esportes da Rádio Sagres, de Goiânia.

- O Goiás é um clube que as decisões finais não passam pela gestão de futebol, cargo que era ocupado pelo Túlio. Para exemplificar, quando queriam contratar algum jogador, o Túlio indicava o nome, trazia currículo, detalhes financeiros... Aí o Conselho Administrativo do clube vota se ele pode ser contratado. Assim que é gerido o futebol do Goiás. Por isso que a gente sempre isentou o Túlio dos elencos montados. Ele não tinha o aval para contratar jogadores, ele sequer tinha direito a voto, não fazia parte do Conselho - afirmou.

O jornalista, contudo, critica este formato de decisão do Goiás. Charlie Pereira afirma que Túlio Lustosa, além de ter boa relação com o plantel no dia a dia, tinha mais informações sobre os jogadores indicados do que os membros do Conselho Administrativo, justamente por procurar quais atletas encaixariam no perfil da equipe.

- O Túlio foi meio como a Rainha Elizabeth, não dava palpite. E olha que, pelas pessoas com influência no Goiás, ele sim deveria dar palpite porque ele jogou, tinha boa relação com os jogadores, conhece mais do que qualquer pessoa do Conselho Administrativo, mas o clube é muito confuso, vive um período conturbado nessa área e a posição do clube na tabela é um retrato disso - completou.

No período em que foi dirigente, o Goiás fez pouco mais de 50 contratações. Em 2018, garantiu o acesso à primeira divisão de forma dramática, na última rodada. No ano seguinte, o Esmeraldino terminou na 10ª colocação do Brasileirão, com uma campanha tranquila. Nesta temporada, as apostas em jogadores vindo de fora do país não deram certo e a pressão aumentou.

- Com o Túlio, o Goiás viveu dois momentos. Na série B, a situação financeira era preocupante. Depois, em 2019 e 2020, um clube de Série A. Mas pouca coisa mudou... O elenco do Goiás de hoje é bem parecido tecnicamente com o do ano passado, não houve mudança considerável no patamar de qualidade. A novidade foi que buscaram cinco jogadores no exterior (Jara, Quevedo, Pintado, Keko e Daniel Bessa) - lembrou Charlie.

Túlio foi demitido junto com Ney Franco, atualmente no Cruzeiro. O jornalista relata que o desligamento do dirigente pegou alguns de surpresa por todo o contexto apresentado no clube. O ato final de Lustosa no Esmeraldino teve muito a ver com o distanciamento com o próprio Conselho Administrativo.

- Ele considera que o problema de comunicação foi o maior erro. Se comunicar mais com o Conselho Administrativo e, principalmente, com a figura principal do clube, o Hailé Pinheiro, um dos maiores dirigentes da história do Goiás. O Túlio ficou distante dessas pessoas. Talvez pudesse ter sucesso se ficasse mais próximo do Conselho. Ele sai em um momento que o Goiás começa mal o Brasileiro, vinha de um Goiano onde ficou atrás do Atlético, a pressão aumentou... Caíram Ney Franco e Túlio, mas a demissão do Túlio nos pegou de surpresa, para ser sincero - finalizou.

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