Especial 95: Wagner diz que quase foi dispensado e Bota visou outro goleiro

Goleiro, que se superou e teve atuação de gala na finalíssima contra o Santos, abre o coração em entrevista que inicia série especial sobre os 20 anos do título brasileiro

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O ano de 1995 marcou muita coisa para o Botafogo. Desde o fim de um longo jejum sem conquistas nacionais (1968 foi o ano da outra taça) até a consolidação de Túlio como ídolo. Mas, além disso, aquele ano marcou também a ressurreição de Wagner, um goleiro antes muito criticado e que, depois daquele campeonato, entrou na história do Glorioso. O LANCE! inicia nesta segunda-feira uma série especial sobre os 20 anos do título brasileiro alvinegro, e o camisa 1 daquele time é o protagonista do primeiro episódio.

Depois de muito tempo no Bangu, Wagner chegou ao Botafogo em 1993. Passou por um momento complicado em 94, quando foi muito criticado e esteve próximo de sair. No ano do título brasileiro, a diretoria chegou a procurar um novo goleiro. Mas uma conversa entre Gottardo, capitão do time na época, e o presidente Carlos Augusto Montenegro fez com que Wagner ganhasse um respaldo para continuar entre os titulares. E a decisão não poderia ter sido mais acertada.

- O ano de 1995 foi de superação. Em 1994 houve muita instabilidade, eu saía do time toda hora. Foi bem difícil. E isso persistiu também no início de 1995. Falou-se sobre a contratação de um novo goleiro. O Gottardo teve um papel importante para me ajudar, pedindo para a direção confiar em mim, porque via o meu potencial. E a diretoria atendeu. Isso fortaleceu minha confiança para trabalhar - contou o goleiro.

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Além da confiança depositada por Montenegro, o goleiro do título de 1995 destacou também a importância da dupla que geria o futebol, composta por Antônio Rodrigues (vice de futebol) e Edson Santana (diretor/gerente do clube).

- O Antônio e o Edson ajudaram demais também. Dentro de todas as dificuldades vividas pelo clube na época, eles foram bem honestos sobre a situação financeira do clube (que chegou a dever quase quatro meses de salários para os atletas). Com honestidade e clareza, o elenco aceitou a proposta da direção e comprou a ideia. Eles não foram somente dirigentes, mas sim como uma família para nós. Com certeza, são mais do que amigos - revelou o segundo goleiro com mais partidas na história do Glorioso (412 do Wagner contra 442 do histórico Manga).

A partida que realmente consagrou Wagner na história do Botafogo foi a do dia 17 de dezembro de 1995. Mais especificamente, a finalíssima do Brasileiro daquele ano, contra o Santos, no Pacaembu. Wagner recordou a pressão sofrida pelos jogadores na época e lembrou que alguns jogadores do Santos chegaram a fazer uma festa antecipada pela conquista.

- Foi um jogo complicadíssimo no Pacaembu. Ninguém acreditava que o Santos perderia aquela final, ainda mais depois daquela virada deles contra o Fluminense, na semifinal. Tudo que envolveu antes do jogo, a festa antecipada deles... Tudo aquilo fez a gente brigar demais pelo título, com muita confiança e dedicação. Fora a superação de todos, com o Donizete jogando machucado, o Túlio cumprindo duas funções. Foi muito especial - contou Wagner ao LANCE!

Quando perguntado sobre a defesa mais importante daquele ano, o goleiro não teve dúvida em afirmar:

- A da falta cobrada pelo Giovanni, sem dúvidas, foi a mais importante. Ela que ficará para sempre na história (risos).

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Importância do título
Foi o primeiro da minha carreira. Tinha vindo do Bangu para o Botafogo e vinha passando por uma certa desconfiança. E aquilo me respaldou para continuar no clube, com apoio e a confiança da torcida. 1995 me credenciou como jogador.

Jogos da campanha na memória
Fora a final, tiveram dois jogos que foram fundamentais para chegar aonde chegamos. Um foi contra o Cruzeiro, que foi um 5 a 3 para eles, em um baita jogo, de alto nível. Perdemos a partida, mas dentro do vestiário, o Montenegro rasgou elogios para os jogadores e pagou uma gratificação, mesmo perdendo. E o 1 a 0 contra o Goiás, com gol do Túlio, que credenciou a gente para chegar as finais.

Problemas na final
No jogo, tínhamos problemas físicos. O Donizete com "uma perna só" foi guerreiro demais, ajudou para caramba. Teve o Túlio cumprindo a função dos dois do ataque. Fora a normal dificuldade de jogar na casa do adversário, com uma torcida inteira contra. E a superação prevaleceu.

Dupla Gonçalves e Gottardo na zaga
Os caras já tinham experiência, disputando títulos em outras ocasiões. Aquilo ajudou a gente, principalmente os que estavam começando. O Gottardo se comunicava muito bem dentro de campo, conseguia mexer com o time, tinha uma visão diferente sobre tudo que acontecia nas quatro linhas. E o Gonçalves, com sua categoria e inteligência, era incrível. Foi uma dupla de respeito.

Reconhecimento da torcida
Ás vezes, dinheiro não é tudo. A valorização da torcida foi muito mais gratificante que o dinheiro. Isso, para mim, não tem preço. Marcou demais, até hoje a torcida tem um carinho muito grande por mim. Muitas pessoas me reconhecem e param para agradecer pelo título.

Festa no aeroporto após a conquista
A euforia da torcida foi uma coisa que eu não tinha visto e nem vi igual. Foi bonito ver a festa da torcida, invadindo o aeroporto e subindo na asa do avião.

Túlio Maravilha
O Túlio sempre foi o brincalhão que é. Bom companheiro de sempre. Quando nos encontramos, é só alegria. Relembramos das conquistas, do momento bom que vivemos. Todo o grupo de 95 merece elogios, foi um elenco com pessoas maravilhosas. Tenho contato com diversos nomes do elenco até hoje.

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