Apesar da boa campanha no Campeonato Carioca, não é pequeno o número de botafoguenses que seguem desconfiados do time para a sequência da temporada. Para estes, Ricardo Gomes dá um recado de confiança nesta quarta e última parta da entrevista exclusiva concedida ao LANCE!.
Aqui, o treinador fala também sobre a ausência de Jefferson, lesionado, conta detalhes sobre a reunião que sacramentou sua permanência em General Severiano, e, finalmente, revela de que forma o retorno às funções de treinador melhoraram sua saúde, após o Acidente Vascular Cerebral (AVC) de 2011.
Que recado dar para os botafoguenses mais pessimistas?
Eu confio bastante nos meus jogadores e confio bastante na comissão técnica. Quando você tem um time jovem... pega o Carioca, que é diferente do Brasileiro. Mas o time veio se arrastando nos primeiros quatro jogos, depois deslanchou. Vamos ter um início mais ou menos, mas, depois, nós vamos encontrar nossa velocidade de cruzeiro.
Havia a sensação de que você já estava com sua decisão tomada quando falou sobre a proposta do Cruzeiro. Na reunião que oficializou sua permanência, quem falou primeiro?
Quando vazou no noticiário de Minas Gerais eu falei: “Presidente, vamos pensar na final. Depois vamos conversar.” Na reunião, eu cheguei e mostrei qual era a proposta. Eu tinha contrato indeterminado e o Cruzeiro me ofereceu um ano e meio de contrato. Ele (presidente) falou: “Quero que você fique. Vamos fazer um contrato até o fim do ano (com renovação automática até dezembro de 2017) e reforçar o elenco.”
No que o retorno à rotina de técnico ajudou na sua evolução física, após o AVC?
Quando você acorda, tem uma agenda. Primeiramente, foi importante fazer fisioterapia e fonoaudiologia todos os dias. Diariamente, durante três anos. Teve uma hora que voltei como diretor do Vasco, que me deu essa oportunidade e, ali, eu comecei a encontrar indícios de que voltaria a ser treinador. Então, em janeiro de 2014 eu falei: "Isso aqui dá. Vou conseguir me recuperar." Peguei pesado na fisioterapia, falei que ia conseguir e, ao voltar ao trabalho, volta a agenda que te deixa concentrado. Tudo melhora. Hoje, fazer piscina. Amanhã, fazer musculação...É bom para quem tem 16 anos. Com 50 anos, você precisa de agenda. Não pode cuidar da saúde 24 horas por dia. Consequentemente, a volta ao trabalho melhora todo o processo, toda a fisioterapia, a fonoaudiologia se enche de informações, se criam novos caminhos para o cérebro. Tudo que você fez nesse caminho vem, aflora, na volta do trabalho. Equilíbrio, melhora do vocabulário. Todo o tratamento, com o trabalho no dia a dia, melhora.
Além da óbvia questão técnica de perder um dos melhores goleiros do país, que peso tem a ausência do Jefferson por três meses?
É o capitão, tem liderança no vestiário. Tem um peso, mas estou confiante no Helton. Fizemos alguns jogos com ele, no ano passado, e ele já foi muito bem.
O apelido de "Francês" você não tem de hoje, mas como fazer para manter tamanha serenidade diante de tanta pressão?
Eu grito, mas no jogo, o trabalho da semana que é importante. Na preleção, eu lembro o trabalho da semana. A preparação é o mais importante. Quando eu jogava, na idade da pedra, o Maracanã vivia cheio. Imagina o treinador gritando. Vai gritar para quem? Gritar? O que vale é a preparação. Na beira do campo, você orienta. Se o jogador está dormindo, você dá dois berros ou tira. Mas, se todo mundo faz direito, gritar porque errou? Mas tem a personalidade. A personalidade do jogador entra em campo também. O importante é cada um ser autêntico.