Depois de 12 dias, a jornada do Botafogo no Espírito Santo chegou a um fim. A extensa pré-temporada do Alvinegro foi marcada por atividades puxadas no hotel-fazenda China Park, em Domingos Martins, região serrana do estado capixaba. No fim, serviu para o treinador Alberto Valentim formalizar um estilo de jogo concreto com os jogadores e traçar uma possível equipe titular para as primeiras semanas de 2020.
Desde a primeira semana de trabalho, quando pôde contar com 35 jogadores no Espírito Santo, à segunda, quando o grupo ficou reduzido porque alguns atletas retornaram ao Rio de Janeiro para a disputa das duas primeiras rodadas do Campeonato Carioca, Alberto Valentim e a comissão técnica mantiveram uma consistência nos treinamentos realizados. Da preparação, em um local reservado à delegação no China Park, ao gramado, tudo era monitorado.
O trabalho foi integrado. Alberto Valentim, antes, durante e depois de qualquer treino, conversava muito com os membros da comissão técnica e da análise de desempenho. Os jogadores, inclusive, antes de irem para o centro de treinamento, reservavam, ao menos, 15 minutos do dia para assistirem vídeos de treinamentos anteriores, gravados por Alfie Assis e Rodrigo Mira, integrantes do departamento de inteligência do clube.
A primeira semana foi muito teórica. Antes de viajar ao Espírito Santos, os atletas quase não tinham feito trabalhos com bola, por todos os exames de rotina que devem ser feitos com os jogadores que retornam após 30 dias de férias. Não à toa, os dias iniciais em solos capixabas foram marcados por Alberto Valentim "mostrando o caminho" aos jogadores.
O treinador realizou a maioria das atividades focadas em posicionamento e em como ele desejava que os jogadores ocupassem os espaços dentro de campo. Muitas destas, portanto, eram sem uma marcação efetiva, já que a ideia inicial era de que os atletas entendessem toda a movimentação planejada pelo treinador.
Depois desse entendimento, Alberto Valentim começou a desenvolver mais situações de jogo. A ideia era sempre a mesma: pressionar forte a saída de bola no campo de defesa, construir rápido com a bola no pé e buscar situações de ataque em jogadas de velocidade pelos lados do campo. É possível, portanto, enxergar um Botafogo que tenha rápidas transições entre as duas metades do campo.
Desde a saída de bola, com o toque do goleiro, os jogadores foram instruídos a valorizarem a posse, mas verticalizarem o ataque quando o espaço nas costas do adversário surgir. Este estilo de jogo, portanto, demanda um alto aproveitamento de cruzamentos dos laterais, pois estes aparecem com frequência ao ataque, algo que não aconteceu durante os treinamentos.
Jogo-treino
O Botafogo foi derrotado pelo Estrela do Norte por 1 a 0 em um jogo-treino realizado no próprio CT do China Park, no dia 17. Por mais que o resultado não seja o mais importante em um contexto como este, o Alvinegro esbarrou em um problema antigo na partida: a dificuldade para criar oportunidades de gol diante de adversários que marcam em bloco baixo. Na ocasião, o Alvinegro até criou chances para balançar as redes, mas passou longe de agradar.
Defensivamente, o Botafogo sofreu com contra-ataques. Principalmente no lado esquerdo do Estrela do Norte, defendido por Fernando, de onde surgiu o gol de Henrique, autor do gol da equipe capixaba, o Alvinegro teve problemas para se defender das tramas em velocidade, pois sempre atacava com uma grande quantidade de atletas.
- Nós criamos chances mais claras no segundo tempo, isso que era importante. O grande problema é quando você não consegue criar uma situação clara de gol, aí é preciso ver que dá para trabalhar mais ainda. Temos que continuar procurando aumentar ainda mais esse número de ocasiões mais claras no último terço e concretizá-las em gol, com certeza - afirmou Alberto Valentim após o jogo-treino.
Após a partida com o Estrela, Alberto Valentim começou a definir as nuances da equipe titular. Por mais que o estilo de jogo estivesse na raiz dos jogadores desde o primeiro dia, o treinador deixou claro que a formação tática utilizada, em um primeiro momento, seria o 4-2-3-1 - no ano passado, era o 4-1-4-1. A chegada de Bruno Nazário, um meio-campista mais avançado, foi a causa desta mudança.
Ao lado do meia, os pontas que o acompanham tendem a fazer o movimento de cortar para dentro, em traços diagonais - o que também ajuda para o avanço dos laterais no mesmo lado. Pedro Raul, centroavante titular, sempre acompanha o lado da bola e dá suporte ao meia do flanco, seja para realizar triangulações ou se adiantar a um cruzamento na primeira trave.
Sem João Paulo, que deixou a pré-temporada mais cedo, Thiaguinho assumiu a vaga de titular no meio-campo. Diferentemente do primeiro, um atleta de mais cadência no passe, o recém-contratado junto ao Corinthians chega com facilidade como elemento surpresa, mas já não é tão associativo assim. É mais uma questão para Alberto Valentim tentar adaptar.
Amistoso
Contra o Vitória FC, em Cariacica, na última segunda-feira, o Botafogo estava mais completo fisicamente e venceu por 2 a 0, com gols de Marcelo Benevenuto e Pedro Raul. Por mais que o Alvinegro não tenha passado sustos na defesa, o Glorioso poderia ter deixado o Estádio Kleber Andrade com mais gols. No fim, o saldo do duelo foi considerado positivo pela comissão técnica.
Na partida, o lado direito, com Fernando e Luiz Fernando, foi muito acionado - o ponta, fazendo o movimento de cortar para dentro, arriscou alguns chutes com a perna esquerda, mas sem perigo na maioria das vezes. A intensidade foi a palavra-chave na partida e nos treinamentos.
Depois do amistoso, Alberto Valentim manteve a equipe nos treinamentos de forma inalterada: Gatito Fernández; Fernando, Marcelo Benevenuto, Joel Carli, Guilherme Santos; Cícero, Thiaguinho; Luiz Fernando, Bruno Nazário, Luís Henrique; Pedro Raul. Este deve ser o time que vai iniciar a partida contra o Macaé e está na cabeça de Alberto Valentim no começo da temporada.
Duas movimentações interessantes exploradas por Alberto Valentim durante a pré-temporada foram o recuo de Cícero para atuar como zagueiro, com o intuito de valorizar o jogo aéreo do volante de origem e sua qualidade na saída de bola. Além disto, Bruno Nazário também caiu pelo lado direito ofensivo durante algumas sessões de treinamentos - neste contexto, Luiz Fernando era sacado e Leandrinho assumia a vaga como meia central.
O Botafogo ainda passa longe de estar no auge técnico - a equipe, por exemplo, possui claras dificuldades de chegar ao gol adversário -, mas há uma linhagem de trabalho seguido por Alberto Valentim. É um time que promete pressionar os rivais em campo alto, produzir rápido com a bola no pé e ter uma saída qualificada com os defensores.
Destaques da pré-temporada
Bruno Nazário: se adaptou rápido com os outros jogadores, mostra qualidade técnica - principalmente nos chutes de média distância. Sem João Paulo, deve ser o dono das bolas paradas na equipe.
Guilherme Santos: outro recém-contratado, o lateral-esquerdo é uma bomba física. Vitalidade é o seu ponto-chave. Chega à linha de fundo com facilidade e não mostrou dificuldade para recompor a linha defensiva.
Diego Ayres: chegou ao Espírito Santo após a eliminação do Botafogo na Copinha. Tem qualidade no passe e chegou até a ser testado como volante por Valentim. Pode ser uma sobra para Fernando.
Caio Alexandre: antes de deixar o Espírito Santo rumo ao Carioca, treinou bem. Como primeiro volante, mostrou capacidade para organizar o jogo. Não à toa, foi um dos poucos destaques do time no Estadual.
Marcelo Benevenuto: a tendência é que assuma, definitivamente, a vaga de titular no miolo de zaga. Evoluiu no jogo com a bola nos pés e tem acertado lançamentos longos.
Luís Henrique: com uma assistência diante do Vitória FC, o jovem atacante será titular de Valentim no começo do Carioca. Se destaca pela velocidade e dribles quando possui espaço para atacar.