Sócio de empresa que ajudou na contratação de CEO elogia Botafogo: ‘Ninguém impôs ou indicou um nome’

Ao LANCE!, Lúcio Daniel, sócio da Exec, empresa que cuidou do filtro na busca por um CEO para o Alvinegro, deu detalhes sobre a contratação de Jorge Braga e a relação com Durcesio

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De forma inédita na história do clube, o Botafogo contratou um CEO independente para ajudar na gestão da instituição. Jorge Braga foi anunciado para a função na última semana e começou a trabalhar no fim desse mês, conhecendo os primeiros processos do Alvinegro.

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A contratação de um CEO era um dos pontos primordiais de Durcesio Mello desde a época de campanha para a presidente. Quando venceu a eleição e assumiu o cargo, em janeiro, garantiu: a escolha para o profissional da área demoraria porque o Botafogo havia contratado uma empresa para mediar os nomes do mercado e buscar a melhor opção.

Essa empresa foi a Exec, conhecida justamente por esta parte de selecionar e buscar nomes de executivos. O LANCE! entrevistou Lúcio Daniel, sócio da empresa que ficou a par de toda a preparação, busca no mercado e, no fim, escolha pelo nome de Jorge por parte do Botafogo.

Lúcio elogiou a postura de Durcesio e do Botafogo, que deram total de liberdade para a Exec trabalhar nos nomes dos profissionais e não fizeram nenhum tipo de indicação. Confira, abaixo, a entrevista do LANCE! com o sócio da empresa.

O QUE FAZ UM CEO?
– É o número um da gestão, o termo CEO é um termo inglês que é um “Chief Executive Officer”. É nada mais do que um gestor executivo, número um, é o Chefe Executivo da empresa. É ele que vai ser responsável pelo planejamento estratégico, é ele que tem o papel da transformação da profissionalização da empresa, criação de processos de políticas... ele vai criar o “board” dele, a diretoria que vai apoiá-lo na gestão, vai negociar dívida e vai representar o Botafogo perante alguns investidores.

– Ou seja, ele é o presidente executivo, o Durcesio é o presidente eleito. Obviamente, um clube de futebol como as associações e fundações tem essa representação do comitê eleito, de chapas etc. Então, o Durcesio é o presidente eleito, ao mesmo tempo ele, obviamente, por ser o presidente eleito, o Jorge vai se reportar ao presidente eleito, ao comitê de gestão do clube, ao Conselho, então, são vários relatórios, assim como em uma empresa.

– Em uma empresa de capital aberto que você tem um CEO, ele reporta para o Conselho, que reporta para os acionistas, mas é o responsável por tudo na companhia. Então, sim, o Jorge vai ser o responsável por tudo e o Durcesio, como presidente eleito, vai ter um papel muito institucional muito em relação à marca Botafogo, à proteção, a falar de esporte, tem muito papel político com outras entidades, como a CBF etc. O Durcesio tem esse papel político, mas sempre vai estar junto ao Jorge. Agora, executivamente falando, é o Jorge, é o responsável.

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CONTATO COM O BOTAFOGO
– Quando o processo seletivo se iniciou, o Durcesio já era uma pessoa participativa, então tive a oportunidade de falar com ele durante essa negociação contratual porque o mandato era o seguinte: ele entrou no Botafogo com essa visão de profissionalizar o clube e acho que endereçar para um caminho diferente do que vinha até então. O Botafogo tem uma realidade muito difícil, dívida, clã político, série B, então é muita coisa ao mesmo tempo que ou o clube trabalhava a governança corporativa, ou de fato as coisas iriam caminhar de uma maneira muito ruim.

– A gente conversou e eu pude entender a visão dele de fato, do desejo do executivo, a visão estratégica para o Botafogo e achei bastante interessante. Quando o processo começou de fato, criamos um grupo que era basicamente a alta gestão do Botafogo, sendo o Durcesio como presidente eleito, o André como presidente do Conselho Fiscal, a pessoa do RH ajudou em algumas as partes durante o processo, mas basicamente meu contato era com eles.
Mas, de uma maneira geral, a gente foi muito feliz porque o Durcesio colaborou muito, meu contato com eles era quase diário e a gente trocou muita informação. Em nenhum momento, nem ele, nem o André, nem ninguém do Botafogo sugeriu ou impôs ou quis indicar alguém da confiança deles ou algum amigo. Pelo contrário, eles deram liberdade total para Exec para poder fazer um processo seletivo bastante independente.

Jorge Braga com Vinícius Assumpção (esquerda) e Durcesio Mello (direita) (Foto: Vitor Silva/Botafogo)

PROCESSO DE ESCOLHA COM O BOTAFOGO
– Acabei conduzindo o projeto do Botafogo, que surgiu no ano passado quando o Durcesio de fato entrou na gestão do clube como presidente. Com a proposta de governança, ele realmente foi atrás de algumas consultorias e a Exec foi selecionada. Então, eu conduzi o projeto, fui ao Rio de Janeiro conhecer a estrutura do Botafogo, quando o comitê de gestão viria para poder fazer a seleção até a escolha do Jorge (Braga), que foi anunciado. Ainda tem muita coisa pela frente, mas tive esse privilégio de conduzir o projeto inteiro, mas, obviamente, com a Exec.

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BUSCA PELO NOME DO JORGE
– O Botafogo não indicou ninguém e não sugeriu ninguém, foi 100% da Exec. O processo seletivo acontece de uma maneira igual em relação a todas as empresas. Vamos ao mercado através de indicações e mapeamento que nós já temos dentro de casa, entendendo o perfil do profissional e a gente vai atrás dos grandes executivos. Depois das entrevistas de referências profissionais e os testes comportamentais, quem definiu o escolhido foi o Botafogo.

– O que a Exec fez? Todo o mapeamento de mercado, todas as entrevistas, colheu as referências profissionais e fizemos os testes comportamentais. Nós também fizemos um negócio chamado “Background check”, de buscar quem é a pessoa, qual que é a ligação dela política e assim por diante, a gente faz uma varredura para oferecer para o Botafogo e dizer “Olha, Botafogo, está aqui a short list e os candidatos escolhidos. Agora é só você entrevistar e saber quem você quer contratar”. É basicamente isso.

– Eles entrevistaram cinco candidatos, escolheram três para avançar, colhemos as referências profissionais e fizemos tudo da parte, do nosso lado de compliance para a gente resguardar para poder chegar à conclusão.

QUAL PERFIL BUSCOU O BOTAFOGO?
– Quando a gente fala de perfil, a gente sempre quebra em duas visões: a primeira visão é o histórico e a realização são projetos técnicos, eu diria, e o comportamental, aquilo que a gente chama do “Soft Skill”. Então, sempre vai ser uma combinação entre a ponderação do “Hard Skill” e o “Soft Skill”.

– Quando a gente fala da habilidade do “hard”, do técnico, é uma pessoa que pudesse trabalhar negociação de dívida, profissionalizar a gestão interna, ser gabaritada para atrair novos investidores, conversar com eles, que consiga transitar lá dentro e também (consiga) fazer boas apresentações estratégicas para trabalhar o plano de longo prazo do Botafogo. Tem que ser uma pessoa que já deveria ter tido experiência de alta gestão numa diretoria ou em uma cadeira de presidente porque essa pessoa tem a experiência necessária.

– Quando você fala de “Soft Skills”, aí é uma parte comportamental, liderança, comunicação, resiliência, visão de negócios, isso tudo é sempre muito forte quando a gente fala da escolha um CEO. Em tempos atuais, ainda somaria algumas coisas. A pandemia transformou muita coisa. Então, o líder de hoje, além de ser mais empático tem que olhar já na transformação cultural e digital já em um nível mais avançado e o Jorge, vindo de empresas de tecnologia e telecomunicação, de fato reuniu, na visão do Botafogo, a maioria das habilidades sendo elas técnicas ou comportamentais.

Jorge Braga no Estádio Nilton Santos (Foto: Vítor Silva/Botafogo)

CRISE FINANCEIRA E O TAMANHO DO DESAFIO DO CEO
– Nós tivemos acesso às informações do Botafogo, eles foram transparentes conosco até porque escolher e fazer o processo seletivo de um CEO, você precisa estar ciente das informações e isso a gente estava.

– O desafio do Jorge é bastante grande porque, ele vindo de um ambiente que não é o futebol e sendo o futebol bastante complexo, vai ter bastante desafio, sendo ele de negociação, sendo ele interagindo dentro do clube. O clube de futebol aqui no Brasil ainda tem muito a caminhar em termos profissionais, eu acho que as associações e as federações também têm um quesito político bastante forte, você sabe disso.

– Acho que o desafio dele vai ser construir o “case” do Botafogo em um cenário que é o futebol ainda sem governança corporativa. Na verdade, aqui é um desejo nosso como recrutador que de fato acho que tem muita oportunidade no futebol para melhorar a governança e para trazer profissionalismo. Ainda é um ambiente muito pouco desenvolvido.

– O Jorge vai ser um cara que vai abrir várias portas, é um marco realmente no futebol. Ele vai ser um CEO de um clube que quer se transformar, mas que ainda no Brasil, vive um ambiente bastante atrasado. Ele vai ter um desafio bastante grande, mas eu confio no perfil do Jorge e tenho certeza de que ele vai fazer um excelente trabalho porque é o que eu estou falando aqui, de um dos melhores “C Level” do Brasil, é um cara altamente gabaritado.

CONSIDERAÇÃO FINAL
– Eu realmente torço para que o Botafogo não seja o único a ter essa coragem de buscar uma pessoa profissional, eu espero que os outros clubes também tomem atitudes corajosas como a do Botafogo para a gente trazer sempre uma melhor governança e um profissionalismo a altura que eu acho que o futebol brasileiro merece.

– Enquanto a gente tiver os clubes com essas amarrações políticas e ainda em um ambiente muito pouco desenvolvido, sempre a gente vai estar atrás de tudo. Então, eu acho que os clubes deveriam seguir pelo menos os passos do Botafogo e tentar se transformar porque tem muita coisa para fazer. Essa é a minha visão.

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