O ano do Botafogo foi daqueles para ser lembrado por toda a eternidade. Depois de começar a temporada com oscilação e muitos questionamentos, o Glorioso passou por mudanças tanto dentro quanto fora de campo que foram cruciais para terminar 2024 com dois dos maiores títulos do futebol brasileiro, além de superar fantasmas que o assombravam há 29 anos.
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Depois de três trocas de técnicos que resultaram na derrocada de 2023, o início de 2024 parecia dar sinais de que não seria muito diferente. Com as atenções viradas para um elenco psicologicamente abalado, a equipe de Tiago Nunes começou o Campeonato Carioca aquém do esperado e com mais polêmicas do que bons resultados.
Decepção no Carioca e o bi da Taça Rio
O time que disputou o campeonato regional era bem diferente daquele que se consagrou campeão da Libertadores, mas o desempenho do Alvinegro ficou longe do que esperava o torcedor. É bem verdade que os jogos da pré-Libertadores acontecendo simultaneamente com a competição prejudicou a equipe que já não vinha desempenhando um grande futebol, mas tropeços contra o Boavista, Portuguesa e os clássicos contra Flamengo e Vasco, foram cruciais para deixar o Glorioso fora das semifinais.
Com os resultados frustrantes e expectativas altas, a passagem de Tiago Nunes se encerrou antes mesmo do fim do Campeonato Carioca. Ao fim de fevereiro, o clube optou pela demissão do treinador após a derrota por 4 a 2 para o Vasco e declarações sobre jogadores pedirem para ficarem fora das partidas. No dia seguinte, ele recuou e criticou o que avaliou serem "recortes sem contexto" da entrevista. Por fim, o treinador comandou o time em 15 oportunidades e acumulou quatro vitórias, sete empates e quatro derrotas, com 42,2% de aproveitamento.
Com a saída, Fábio Matias, que era auxiliar-técnico, assumiu a equipe que rapidamente apresentou melhoras dentro de campo. Com Matias, o Botafogo conseguiu se classificar nas duas primeiras fases da Libertadores e chegar à fase de grupos. Eliminado do Carioca, garantiu a vaga na Copa do Brasil de 2025, ao conquistar a Taça Rio, em decisão contra o Boavista. Ao total, foram oito vitórias, um empate e uma derrota (aproveitamento de 83,3%), com 26 gols feitos e nove sofridos.
O Jacaré assume o protagonismo e inicia a reconciliação
Depois de uma frustração atrás da outra, a trajetória do Botafogo na Libertadores foi o início da virada de chave do Glorioso e de uma reconciliação entre o clube e a torcida. O Alvinegro enfrentou o Aurora pela primeira partida na competição continental, e apesar do empate em 1 a 1, o primeiro gol no torneio veio de Júnior Santos. A partir daí, o camisa 11 começou a viver sua melhor fase na carreira, empilhando gols e batendo recordes pelo clube. No jogo da volta contra o time boliviano, o atacante marcou quatro gols na goleada de 6 a 0 no Nilton Santos.
Na fase seguinte, contra o Bragantino, o apelidado 'Jacaré' voltou a marcar, duas vezes, e cravou seu nome na história do clube se isolando como o maior artilheiro do Botafogo na Libertadores. Ali, ainda com Fábio Matias, o Glorioso confirmou a vaga para a fase de grupos da competição.
Janela de transferências histórica
Com um elenco questionado, John Textor apostou na janela de transferências para começar a montar a espinha dorsal da equipe campeã da América. Com a saída de alguns jogadores importantes como Perri, Adryelson, Diego Costa e Cuesta, o Botafogo fez um investimento recorde em contratações no início do ano e trouxe 12 jogadores. Além de John, Barboza, Gregore e Savarino - titulares absolutos - o Glorioso fez a contratação mais cara do futebol brasileiro até aquele momento: Luiz Henrique.
Aos 23 anos, atacante voltou ao Brasil vindo do Real Betis, da Espanha, e logo tomou conto dos holofotes. Ao todo, John Textor, desembolsou cerca de R$ 106 milhões para a contratação do camisa 7, que ao fim da temporada, mostrou ter valido o investimento. Veja as chegadas daquela janela:
- Goleiro: John e Raul
- Zagueiros: Alexander Barboza, Lucas Halter e Pablo
- Laterais: Damián Suárez e Cuiabano
- Meio-campistas: Gregore e Óscar Romero
- Atacantes: Jeffinho, Luiz Henrique e Savarino
O dedo de Artur Jorge
A chegada de Artur Jorge ao time alvinegro pôs um ponto final à instabilidade e trouxe algo que foi um dos pilares da equipe na temporada: constância. Apesar de estrear com derrota para a LDU, na Libertadores, e levar uns quatro jogos para engatar, o português foi a principal contratação feita pelo Alvinegro em 2024. Com o treinador, o time encaixou rapidamente e as estrelas da equipe logo se destacaram.
Marcação alta, pressão, domínio e sufocar o adversário. Esta é uma simples tônica que sintetiza o Botafogo de 2024. O modelo ofensivo do técnico combinada com uma mentalidade vencedora transformaram a equipe em um time completamente diferente daquele visto em 2023. Em 56 jogos à frente do Alvinegro, foram 33 vitórias, 14 empates e apenas nove derrotas. Em coletiva de imprensa na sua apresentação, o treinador havia prometido transformar o time em uma equipe dominante, e cumpriu:
– Meu objetivo nesse momento é fazer com que este Botafogo possa ser uma equipe dominante, que tenha coragem, preenchida de valores que cremos que podem identificar e ter uma identidade muito própria. Para que nós possamos, dentro daquilo que é o contexto do elenco que temos, ajustar e determinar aquilo que é nossa ideia de jogo.
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A formação do quarteto mágico
Na janela de meio do ano, John Textor contratou menos, porém, supriu as carências do elenco deixadas na primeira. Com apostas certeiras, chegaram mais sete jogadores que se adaptaram rapidamente e encontraram seu espaço na equipe titular de Artur Jorge. Entre elas, dois pilares de um quarteto ofensivo avassalador: Thiago Almada e Igor Jesus.
O meia chegou como uma promessa e carregando a responsabilidade de ser a contratação mais cara da história do futebol brasileiro, superando Luiz Henrique. O clube pagou cerca de R$ 136,9 milhões para tirar o jogador do Atlanta United, da MLS, e fechar vínculo de cinco anos. Já Igor Jesus, chegou de graça, vindo do Shabab Al-Ahli, e sem muitas expectativas por parte da torcida.
Como em um passe de mágica, o entrosamento com Savarino e Luiz Henrique potencializou o estilo de jogo proposto por Artur Jorge. Igor fez sua estreia como titular na vitória por 1 a 0 sobre o Internacional, no Nilton Santos, enquanto Almada estreou cinco jogos depois. Desde então, ambos assumiram a titularidade e não perderam juntos pelo Campeonato Brasileiro.
Além dos dois, peças decisivas também chegaram nesta janela, como o zagueiro Bastos, retorno de Adryelson, Vitinho, Matheus Martins, Allan e Alex Telles. Por fim, o Glorioso fechou 2024 com 21 novos jogadores e mais de R$ 413,7 milhões investidos em contratações, um recorde no futebol brasileiro.
Classificação sobre o Palmeiras ofusca queda na Copa do Brasil
Com o esquadrão completo e entrosado, o Botafogo iniciou o segundo e mais decisivo semestre de sua história com uma prova de fogo: uma decisão na Copa do Brasil, uma decisão na Libertadores e um clássico contra o Flamengo.
A derrota para o Bahia no jogo de volta das oitavas de final resultou em uma eliminação precoce da equipe de Artur Jorge do mata-mata nacional. Como se não bastasse, perdeu a partida seguinte contra o Juventude, pelo Brasileirão. Esses tropeços foram suficientes para aflorar os ânimos para a partida, até então, mais decisiva do ano: as oitavas de final da Libertadores contra o Palmeiras, algoz de 2023.
Apesar da tensão no extracampo, dentro das quatro linhas não houve mistério: 1 a 0 no placar e a vantagem para decidir a classificação fora de casa. Mas, em seguida, houve o estopim da boa fase alvinegra: goleada por 4 a 1 em cima do Flamengo, festa no Nilton Santos, e mais um "fantasma" deixado para trás no tapetinho. O jogo seguinte foi para testar o coração do botafoguense. Decisão das oitavas de final no Allianz Parque, 2 a 2 no placar, com um gol anulado no último minuto e classificação confirmada em cima do Alviverde.
Esqueceu o que é perder
A sequência estonteante deu início a uma alavancada histórica no returno do Brasileirão e mata-mata de Libertadores. Foram 14 jogos sem perder, incluindo uma classificação sobre o São Paulo nas quartas de final e uma goleada de 5 a 0 em cima do Peñarol, nas semifinais, que praticamente confirmaram a vaga inédita para a final da Libertadores.
Depois da derrocada no segundo semestre de 2023, a sequência invicta enterrou mais um fantasma que aterrorizava o torcedor: a reta final. O Botafogo só foi voltar a perder na partida de volta contra o Peñarol, por 3 a 1, em duelo com um time misto, que não serviu para nada além de sacramentar os dois pés na final em Buenos Aires.
Hora de vestir o Manequinho
Mesmo sem derrotas, a reta final do Brasileirão foi ficando cada vez mais acirradas depois de três empates seguidos (Cuiabá, Atlético-MG e Vitória) que anteceram a final da Libertadores contra o Atlético-MG. Como se já não bastasse o clima de tensão, o jogo que precedeu a decisão do continental, seria contra o Palmeiras, valendo a liderança do campeonato nacional. Foi uma semana para ficar marcada na memória. Vitória de 3 a 1 sobre o adversário direto, fora de casa, liderança retomada e chave virada para a disputa do jogo mais importante da história do clube.
O título veio de forma quase cinematográfica, e a emoção não podia faltar. Gregore foi expulso em menos de um minuto, e o Botafogo precisou jogar mais de 90 minutos com 10 jogadores em campo, mas pareceu não sentir a pressão. O resultado se repetiu: 3 a 1, e um título inédito para os mais de 45.000 botafoguenses presentes em Buenos Aires. Com gols de Luiz Henrique, Alex Telles e Júnior Santos, no último minuto, parecia escrito nas estrelas que terminasse assim: gol do Jacaré, para o consagrar como artilheiro da competição depois de uma lesão que o tirou dos gramados por cinco meses.
Mas a festa não acabou por aí. Uma semana depois do título histórico, veio o fim de um jejum de 29 anos. Líder do Campeonato Brasileiro e precisando apenas de um empate em casa para gritar 'campeão' junto à sua torcida, o domingo não poderia terminar de outra maneira. Vitória sobre o São Paulo por 2 a 1, com gol de Gregore, expulso na final da Liberta, e mais um título. O que parecia uma espera interminável, acabou com a consagração de dois títulos, conquistados de maneira épica, e principalmente, com um objetivo atingido: fazer com quem o Glorioso pudesse voltar a comemorar suas glórias e vestir o Manequinho no final do ano.
Podia ter ficado sem essa
Como tem coisas que só acontecem com o Botafogo, algo teria que acontecer para atrapalhar a festa. Na mesma noite da conquista do título brasileiro, o elenco alvinegro embarcou rumo ao Catar para disputar a Copa Intercontinental, contra o Pachuca, apenas três dias depois. Com um calendário apertado e jogadores desgastados, o time misto escalado por Artur Jorge não conseguiu parar a avalanche mexicana e foi eliminado da competição com uma derrota por 3 a 0. Mesmo com as expectativas altas em cima do atual campeão da América e brasileiro, a eliminação precoce não abalou os ânimos dos torcedores e tão pouco apagou a temporada mágica pelo Botafogo em 2024. O ano acabou, mas viverá para sempre na memória.
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