Brasileirão: novo modelo de direitos de transmissão pode gerar desigualdade

Alterações que valerão a partir de 2025 causam preocupação entre os clubes

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O modelo de venda dos direitos de transmissão do Brasileirão foi alterado para 2025 e tem gerado dúvidas sobre qual será o impacto no futebol nacional e nos clubes, em um embate que envolve duas ligas paralelas.

Apesar das muitas tentativas de formar uma liga única que negociasse o melhor cenário possível para todos os clubes, a união não se concretizou. Agora, as negociações estão sendo feitas por dois grupos diferentes: Libra (Liga do Futebol Brasileiro) e LFU (Liga Forte União).

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A questão é que o Brasileirão conta com clubes em situações financeiras bem distintas. Alguns com contas em dia; outros com grandes dívidas. Uns sob o comando de SAFs; outros sob o modelo tradicional de administração que reinava absoluto até pouco tempo atrás.

Caso dê certo, pode ser o início da construção de um futuro com diferenças menores entre os clubes e um futebol de maior qualidade. Mas, se os dois grupos não conseguirem valores semelhantes ou não fizerem distribuições equivalentes, a discrepância entre eles poderá aumentar a cada ano, com times tendo ainda mais dificuldades para pagar dívidas e sem condições de montar elencos com o padrão de outros concorrentes.

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O que sabemos até o momento

Composta por oito times da Série A (Atlético-MG, Bahia, Flamengo, Grêmio, Palmeiras, Red Bull Bragantino, São Paulo e Vitória), e um da Série B (o Santos), a Libra optou por vender seus direitos de transmissão para o Grupo Globo. Por conta do seu número de integrantes, esta liga terá, em média, quatro jogos como mandante por rodada.

Clubes integrantes da Libra (Foto: Arte Lance!)

O contrato, que irá de 2025 a 2029, dá à Globo exclusividade de transmissão dos jogos desses times como mandantes em todas as plataformas (TV aberta, TV fechada, streaming e PPV).

O acordo entre Libra e Globo estipulava, inicialmente, que a empresa pagaria R$ 1,3 bilhão por ano à liga. No entanto, com a ida do Corinthians para a LFU, esse valor sofreu redução de 11%, ficando em R$ 1,17 bilhão. 

O montante, no entanto, ainda não é certo, uma vez que há uma cláusula no acordo que determina que, para receber esse valor, a Libra precisará ter nove times na Série A no ano que vem. Caso isso não aconteça, o valor cairá para cerca de R$ 1 bilhão, anualmente.

Há ainda que se somar o valor de arrecadação com o PPV. Atualmente, os clubes recebem 32% do total arrecadado. A partir de 2025, essa porcentagem passará para 40%, segundo apuração do Lance!. A expectativa da Libra é receber, pelo menos, mais R$ 200 milhões com essa parte do acordo.

Na Libra, a divisão das receitas entre os clubes será feita da seguinte forma:

40% igualitário, 30% por desempenho no campeonato e 30% por audiência auferida.

Já a LFU conta, no momento, com Corinthians, Internacional, Cruzeiro, Fluminense, Vasco, Athletico-PR, Atlético-GO, Botafogo, Fortaleza, Cuiabá, Criciúma e Juventude, da Série A, e outros 19 clubes em divisões inferiores. O que dá a ela cerca de seis jogos como mandante por rodada.

Clubes integrantes da LFU (Foto: Arte Lance!)

O Lance! apurou que, até o momento, apenas um contrato foi assinado, mas que outro já estaria apalavrado para o período que vai de 2025 a 2027.

O contrato que já está assinado é um pacote vendido à Record e ao YouTube para a transmissão de 38 jogos do campeonato, ou seja, um jogo por rodada. O acordo é de R$ 380 milhões por ano, o que dá R$ 10 milhões por partida.

O segundo é um pacote vendido à Amazon, também para a transmissão de 38 jogos, um por rodada. Neste, o valor acertado foi de R$ 323 milhões pelo todo, ou seja, R$ 8,5 milhões por partida. 

Assim, a LFU já teria garantido cerca de R$ 700 milhões por ano, restando quatro jogos por rodada para serem vendidos. 

Fontes ligadas à Liga Forte União (LFU) afirmaram ao Lance! que o grupo acredita que conseguirá uma arrecadação anual de, pelo menos, mais R$ 1 bilhão com as partidas remanescentes, que poderão ser vendidas juntas ou em pacotes separados e para diferentes plataformas (TV aberta, TV por assinatura e streaming).

Na LFU, a divisão dos valores arrecadados serão divididos em percentuais diferentes aos da Libra. Serão 45% de forma igualitária, 30% conforme a posição na tabela e 25% de acordo com a audiência.

Comparação entre os modelos de distribuição de recursos (Foto: Arte Lance!)

O ponto que pode gerar desequilíbrio

Se os acordos de venda dos direitos podem gerar arrecadações próximas entre as duas ligas, há um outro aspecto que pode contribuir para a desigualdade no futuro: a venda antecipada de direitos comerciais.

Diferentemente da Libra, que não fez nenhum acordo do tipo, alguns clubes da LFU venderam antecipadamente 20% dos seus direitos comerciais por 50 anos a um grupo de investidores. Deles, parte já recebeu uma parcela deste valor. 

O Lance! apurou que a LFU, entendendo que essa porcentagem poderia de fato impactar negativamente o futuro econômico dos clubes do grupo, está negociando para reduzi-la para 10%. Os membros que já receberam parte do pagamento fariam uma espécie de “recompra” de 10%, deixando de receber parcelas que ainda não foram pagas.

Vale lembrar que nem todos os integrantes da LFU enfrentam esse problema. Clubes como Novorizontino, Ponte Preta, Mirassol, Botafogo-SP e Ituano, que entraram no grupo em abril passado, e o Corinthians, que ingressou em julho, não venderam porcentagem alguma de seus direitos comerciais aos investidores, o que já gera desigualdade dentro da própria Liga Forte União.

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