‘Julieta vai, Romeu não. Alguns não sabem o que é Parmera x Curintia’
No Dia dos Namorados, data histórica para palmeirenses, Allianz Parque receberá o primeiro Dérbi de torcida única. E o Romeu só poderá ir se 'virar palestrino' de novo...
Dérbi, 12 de junho. Data histórica para os palmeirenses. Dia dos Namorados, sejam alviverdes ou corintianos. Inevitável lembrar da única vez em que Palmeiras e Corinthians se enfrentaram nesta data, com o fim da fila alviverde em 1993 - casamentos e namoros de torcedores rivais passaram por um dia tenso há 23 anos. Mas voltemos ao presente. Maridos, esposas, namorados e namoradas já devem estar em "negociação" desde que a tabela saiu. É Dia dos Namorados, mas é dia, principalmente, de Palmeiras x Corinthians. Amor e futebol. Inevitável é lembrar do ótimo "O Casamento de Romeu & Julieta".
Julieta, personagem de Luana Piovani no filme de 2005, dirigido por Bruno Barreto, é palmeirense doente. Foi batizada pelo pai Alfredo Baragatti (Luís Gustavo) com a fusão dos nomes dos ídolos palestrinos Julinho e Echevarietta. É apaixonada por Romeu (Marco Ricca), um corintiano doente. O amor é tão grande que, para agradar o futuro sogro, Romeu aceita se passar por palmeirense e até senta na arquibancada vestido de verde, entre outras loucuras só possíveis no cinema.
Julieta e Baragatti, com certeza, irão ao Dérbi de domingo. Já devem ter usado seu cartão cinco estrelas do Avanti para garantir um dos 40.512 lugares da moderna arena. Doentes que são, chegarão cedo ao clube. É dia sagrado. Romeu poderia até ir junto, com a camisa do Timão bem guardada, antes de sentar no setor de visitantes. Visitantes? Não haverá, no Allianz Parque. Romeu só tem uma saída para ver o jogo no estádio: reviver os tempos em que se passou por palmeirense para dobrar o sogrão. Mas essa tortura ele, já casado, não precisa mais repetir. Terá mesmo de ficar em casa, na televisão.
Quem quiser dar uma de Romeu e tiver uma Julieta para conquistar que se arrisque neste 12 de junho. Já que o futebol paulista atual não permite mais torcida visitante, é a deixa... O Dérbi, quase centenário, um dos maiores clássicos do mundo, terá torcida única pela primeira vez na história. Quem um dia já dividiu o Morumbi meio a meio que se acostume com a bizarrice. Romeu e Julieta, como a ampla maioria da sociedade, sabem que rivais podem conviver, mesmo que torçam por cores diferentes. Alguns poucos não sabem.
Os poucos que não sabem, porém, costumam não ser devidamente punidos por seus atos violentos. Outros poucos que mandam acham que a solução, a mais preguiçosa e cômoda, é tirar a torcida visitante dos clássicos. Vamos, assim, impedir o Romeu de estar no mesmo estádio da Julieta. Outros 54 mil Romeus e Julietas de Brasília se misturaram em paz, verdes e rubro-negros, no último domingo. Uns 30 causaram terror e já há quem tenha interditado o grande culpado (???), o estádio Mané Garrincha, como "solução" nunca antes vista na história deste país. Há também o clamor de alguns por jogos de Flamengo e Palmeiras com absurdos portões fechados. Punam a Julieta! Palmas para a diretoria paulista que foi no ponto certo do problema: excluiu do Avanti os 17 sócios identificados na briga. Que estes não pisem no Allianz, no domingo! E por um bom tempo todos os dias em que o Palmeiras jogar...
Romeu nunca bateu em ninguém, nunca quebrou um banheiro, nunca depredou uma cadeira. Romeu até vestiu uma camisa verde em nome do amor. Mas Romeu não tem o direito de ir ao estádio no Dérbi. Trocando o filme do DVD para "Boleiros", Lima Duarte, representando um enérgico treinador palmeirense, diria para promotores e dirigentes que batem bumbo pela torcida única nos clássicos o mesmo que falou para a mulher que tentou seduzir seu craque na véspera de um clássico, na concentração: "Vocês não sabem o que é um Palmeiras x Corinthians!". Ah, mas não sabem mesmo...