Amigos, a final entre Argentina e França, no Qatar, foi a maior em uma Copa do Mundo.
Não vou falar das finais em 1930, 1934 e 1938, que pertencem à pré-história do futebol. Quem, por exemplo, se lembra ou sabe hoje que, na final de 1930, o Uruguai, em casa, derrotou a vizinha Argentina por 4 a 2?
+ Maiores campeões da Copa do Mundo: veja lista completa de títulos mundiais
Poucos países participaram e, segundo os jornais da época, o Brasil compareceu mas em condições que foram descritas como ‘anarquia”.
Em 1934 e 1938, a Itália derrotou, respectivamente, a Checoslováquia, país que hoje nem mais
existe, e a Hungria, por 2 a 1 e 4 a 2. Para o Brasil, ficou o reconhecimento da imprensa mundial de que Domingos da Guia e Leônidas da Silva, este apelidado de “Diamante Negro”, eram extraordinários jogadores.
De 1950 em diante, posso afirmar que tomei conhecimento de todas as finais, em algumas
delas presente no estádio.
Assim, digo com um certo conhecimento de causa: nenhuma se equiparou ao que vimos neste domingo no Qatar entre França e Argentina.
Apresentar a final de 1970 como candidata é tolice: o Brasil era claramente superior à Itália e apenas a “domingada” (já que falamos em Domingos da Guia) de Clodoaldo ao fim do primeiro tempo forneceu um pouco de dúvida quanto ao resultado final, dúvida esta que foi prontamente desfeita com o gol de Gérson e a goleada subsequente.
Um jornal inglês descreveu o jogo de ontem como “maior final da Copa”, mas com um qualificativo: seria a maior final “desde a de 1966”.
Patriotada tola. O que aquela final ofereceu de mais memorável foi a validação do gol da vitória, de Geoff Hurst, em um lance em que a bola não entrou. O VAR hoje prontamente teria alertado o juiz e o gol não teria existido.
Computadores já provaram que a bola não entrou mesmo.
Alguns jornalistas ingleses chegaram a me dizer, no dia seguinte ao jogo, que o bandeirinha, o soviético Tofik Bahramov, que afirmara ao juiz Gottfried Dienst ter visto a bola cruzar a linha, o fizera porque as memórias da Segunda Guerra Mundial, em que seu país tivera 27 milhões de mortos em consequência da invasão nazista, ainda estavam vivas em sua consciência.
Anotei a observação, enquanto pensava com meus botões: “então por que os alemães o
aceitaram para ser bandeirinha na final?”.
Aquela final teria ainda um outro gol, marcado Geoff Hurst, quando o banco do “England Team" e mesmo alguns torcedores já tinham invadido o gramado.
Para compararmos com o que “L’Équipe”, da França, diz agora sobre o terceiro gol da Argentina na final no Qatar, tal gol também não deveria ter valido. O fato é que a história registra Geoff Hurst ao lado de Kylian Mbappé como os dois únicos jogadores a marcarem três gols, um “hat trick”, em uma final de Copa do Mundo.
São histórias que ficaram no passado. O verdadeiro, para quem assistiu agora a este título mundial da Argentina, conquistado sobre a França em Doha, é que nenhuma outra final igualou e muito menos superou a dose de emoções, imprevistos e dramaticidade que ela nos ofereceu.