CAMPO NEUTRO: A Rainha e a Maratona

José Inácio Werneck fala sobre assuntos em alta no mundo dos esportes

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A Rainha Elizabeth II, sepultada hoje em um espetáculo de extraordinária “pompa e circunstância”, teve diversas ligações com o esporte, além do dia em que, no estádio do Maracanã, Rio de Janeiro, em 1968, foi apresentada a Pelé e Gérson “Canhotinha de Ouro”.

Era conhecido seu amor por corridas de cavalo, mas houve outro esporte com o qual teve ligação pessoal, continuando, por sinal, uma tradição da família. Este esporte é a Maratona.

Poucas pessoas sabem porque esta prova, a mais clássica das corridas de longa distância, tem exatamente 42.195 metros. É porque esta é a distância que separava o Castelo de Windsor, onde Elizabeth II foi sepultada hoje, do estádio White City, em Londres, no bairro de Shepherd’s Bush, na Olimpíada de 1908. Até então as distâncias das “maratonas olímpicas” (1896 em Atenas, 1900 em Paris e 1904 em Saint Louis, Estados Unidos) eram vagamente definidas como “cerca de 40 quilômetros”.

Os 40 quilômetros, por sua vez, tinham sido escolhidos pela tradição da mítica corrida que o soldado grego Feidípedes teria dado, no ano de 490 AC, entre a planície de Maratona e a cidade de Atenas, para dar conta da vitória das tropas gregas sobre os invasores persas.

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Mas a família real britânica queria ter um laço com a prova. Arranjou-se então que a largada da Maratona Olímpica de 1908 seria diante do Castelo de Windsor. Daí, os 42.195 metros, que era a distância até a fita de chegada no estádio White City, em Londres.

Aquela corrida ficou famosa também pela controvérsia quanto ao seu vencedor. O primeiro a chegar foi o italiano Dorando Pietri, mas ele estava cambaleando, exausto, sem saber se dobrava à direita ou à esquerda ao entrar no estádio, quando foi amparado por um policial, que lhe indicou o rumo certo. Dali até a fita de chegada ele caiu três vezes e três vezes foi erguido por policiais em serviço. O resultado é que Dorando Pietri foi desclassificado e obrigado a devolver sua medalha de ouro, que passou às mãos do segundo colocado, o americano Johnny Hayes.

O acontecimento ficou tão célebre que decidiu-se que, de então em diante, todas as maratonas teriam aquela distância: 42.195 metros.
Mas não ficou aí a ligação dos soberanos britânicos com a Maratona. Em 2018, a largada da atual Maratona de Londres foi simbolicamente dada pela Rainha Elizabeth II em um tablado especialmente construído neste mesmo Castelo de Windsor, palco daquela Maratona de 110 anos atrás, ao apertar um botão, às 10 horas da manhã (embora os competidores estivessem na verdade em Blackheath, em Londres). Castelo de Windsor, no qual ela hoje foi sepultada.

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Em 1908, a largada tinha sido dada por sua avó, Mary. Até hoje, desde 1982, se disputa uma Meia Maratona cuja largada é no Windsor Great Park.

Estive presente na prova inaugural. Ela começa sempre com o “God Save the Queen”, executado hoje no funeral e que, pelos anos vindouros, mudará de gênero, passando a “God Save the King”, em homenagem ao rei Charles III.

Há outras ligações da Família Real com a Maratona. Em 2017 o Príncipe William (agora Príncipe Herdeiro) e sua esposa, Kate, foram os “Official Starters” e depois trabalharam como voluntários em um posto de água. Em 2010 a Princesa Beatrice, neta de Elizabeth II,
completou a prova como parte de uma “centopeia humana”, constituída por 34 pessoas, com o tempo de 5h13m.

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