A melhor notícia que chegou do Brasil nos últimos tempos foi a da
vitória de Alison dos Santos no Mundial de Atletismo, na prova dos 400 metros com barreiras.
Melhor dizendo: a notícia não chegou do Brasil. A notícia chegou ao Brasil, partindo de Oregon, na costa oeste dos Estados Unidos, onde se disputa o Campeonato Mundial de Atletismo.
Como todos sabem - ou deveriam saber - o atletismo é o “esporte base”, aquele que serve como apoio para todos os outros.
O que mais me impressionou na vitória da Alison dos Santos foram os momentos que a precederam.
Se vocês me fizerem o favor de assistir ao filme da prova, testemunharão o contraste entre o descontraimento de Alison, na apresentação antes da largada, e a tensão de seus competidores, que aparecem gritando, batendo no peito à la Tarzan Rei dos Macacos (aquele que sempre conquistava a Jane), procurando motivar-se para uma vitória que não veio.
Alison dos Santos, que superou o trauma de uma queimadura na infância que deixou suas feições marcadas para sempre, é mais um fenômeno do abandonado e esquecido atletismo no Brasil.
Tais fenômenos aparecem do nada - como um José Telles da Conceição, um Adhemar Ferreira da Silva, um João do Pulo, um Joaquim Cruz, um Vanderlei de Lima (aquele que ia ganhando a Maratona Olímpica de Atenas quando foi derrubado por um padre
maluco) - brilham enquanto suas pernas, braços e pulmões aguentam, mas têm vida breve e cedo desaparecem, enquanto a inoperância dos cartolas e políticos continua infelizmente a se eternizar.
Alison dos Santos, momentos antes da largada, cantava, sorria e dançava. Estava tranquilo. Realmente, para ser atleta no Brasil você tem que agir assim mesmo: levando a vida na flauta.