Foi no Manchester United, a partir de 2003, que Cristiano Ronaldo entrou em ascensão no futebol mundial. Ascensão que o levaria a glórias ainda maiores com o Real Madrid. Agora, depois de uma passagem inconsequente pela Séria A italiana, é no mesmo Manchester United que Cristiano Ronaldo entra em uma queda que, a esta altura, tem todos os sintomas de ser irreversível.
O que ele fez na partida de ontem, na vitória do Manchester United por 2 a 0 sobre o Tottenham Hotspur na Premier League, poderá e deverá ser considerado imperdoável pelo clube e por seus torcedores. Não espero que o Manchester United ou o técnico Erik ten Hag venham a público criticar Cristiano Ronaldo, apontá-lo à execração, condená-lo com palavras candentes.
Os investidores americanos são certamente escolados demais para tanto. O holandês Ten Hag é um homem frio, que sabe o que quer. Ele não quer escândalo, não quer espalhafato. Mas tampouco quer Cristiano Ronaldo em seu time.
O lema que Ten Hang implantou no Manchester United pode ser assim definido; “um por todos, todos por um”. O lema de Cristiano Ronaldo, no momento, é claramente o de “todos por mim”.
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Ten Hag quer um time que, desde o início de um jogo, trabalhe duro, marque, recupere a bola, recomece a ação, ataque de novo e, em perdendo a bola, defenda outra vez. Cristiano Ronaldo, aos 37 anos, não está para estas coisas. Ele quer o brilho, mas o brilho da
glória, não o do suor.
Esta é a segunda vez que Cristiano Ronaldo vai embora antes do fim de uma partida do Manchester United. A primeira foi há três meses, em um amistoso com o Rayo Vallecano, da Espanha, depois de ser substituído. A segunda, agora, muito mais grave, foi ao abandonar o banco, onde estava como reserva, ao sentir que Ten Hag não iria aproveitá-lo nem como substituto, num jogo a sério, de grande
responsabilidade, pela Premier League. Uma ação de petulância infantil por um cidadão de idade madura que recebe nada menos do
que três milhões de reais, por semana, para ficar à disposição do técnico. Repito: três milhões de reais. Por semana.
Há coisa de seis ou sete dias, Cristiano Ronaldo foi homenageado, no centro do gramado de Old Trafford, por Sir Alex Ferguson, seu técnico nos anos dourados, por ter alcançado a marca de 700 gols em sua carreira por diversos clubes. Agora, ele mostra ser a antítese, o oposto de tudo o que Erik ten Hag quer trazer para o clube: luta, dedicação.
É outono na Inglaterra. Mas, para todos os efeitos, a passagem de Cristiano Ronaldo no Manchester United já mergulhou em um tenebroso inverno.