Avon, CT (EUA) - Gianni Infantino, presidente da FIFA, sorriu amarelo, mas sorriu.
O sorteio para os grupos da Copa do Qatar foi realizado na última sexta-feira e ninguém disse uma palavra sobre sua grande ideia, a disputa da maior competição esportiva do mundo a cada dois anos, em vez de quatro.
Sim, amigos, antes de mais nada temos que reconhecer esta verdade: a maior competição esportiva no planeta não é a Olimpíada, é a Copa do Mundo - e Gianni Infantino queria vê-la realizada a cada dois anos.
Para levar seu plano adiante, recorreu à respeitadíssima figura de Arsène Wenger, ex-técnico do Arsenal (além de outros clubes) e atual Chefe de Desenvolvimento Global de Futebol na FIFA.
Recorreu também a importantes jogadores do passado, como Roberto Carlos, de quem gravei a seguinte declaracão: "realizar as eliminatórias em apenas um mês e promover a fase mais importante da Copa a cada dois anos é uma evolução e deve ser aprovada pelas confederações de todo o planeta".
Eu, modestamente, achei desde o início que a propalada "evolução" era radical demais e sugeri uma alternativa mais modesta: a Copa a cada três anos.
Pode parecer um número estranho, ímpar, esquisito, mas se vocês olharem com mais atenção verão que proporciona um bom revezamento entre a copa masculina, a feminina e as necessárias partidas de classificação, a serem disputadas em um período único de um mês, como queria Arsène Wenger.
Escrevi sobre isto em um blog para o Lance! e a fórmula deve estar arquivada em algum lugar no espaço cibernético, mas é claro que nem Roberto Carlos, nem Arsène Wenger nem Gianni Infantino me deram atenção.
Tudo isto levou ao já mencionado sorriso amarelo de Infantino.
Sua proposta foi derrotada porque, de saída, a poderosíssima UEFA, a Federação Europeia de Futebol, saiu em campo, disposta a esmagá-la.
A verdade, como tenho escrito diversas vezes, é que o futebol mundial hoje é dominado pela UEFA.
Os cartolas da UEFA não compreendem como Infantino, um europeu saído de seus quadros, já que foi Secretário Geral da entidade, pode defender uma ideia que não convém aos poderosos clubes do continente.
Infantino replica dizendo que agora tem que pensar em termos globais.
O resultado é que o ambiente azedou a tal ponto que o sorteio para a Copa do Qatar, na última sexta-feira, notabilizou-se pela ausência de Aleksander Ceferin, o presidente da UEFA. Ele participou do Congresso da FIFA, na véspera, e depois foi embora.
Anteriormente, ele e Infantino tinham ficado um ano sem falar. Agora se cumprimentam, mas secamente.
Infantino recuou, porque sabe que, além da UEFA, a CONMEBOL também é contra a Copa a cada dois anos.
Recuou mas não desistiu. As outras confederações - a CONCACAF, a Africana, a Asiática e a da Oceania - são a favor.
Ele vai ganhar tempo e, como disse, procurar "acordos e ajustes". Já anunciou que é candidato a um novo mandato e a atual força do futebol europeu pode declinar se seu poderio econômico for afetado pela atual guerra na Ucrânia.
Infantino pediu uma trégua, mas ainda não admitiu a derrota.