Campo Neutro Daniel do Nascimento: Que os bons ventos continuem

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Avon, CTA (EUA) - Convido os leitores a uma olhada neste link. Nele, vocês acharão os nomes dos melhores corredo rápido res de maratona do mundo. Notarão algo interessante: o maratonista mais do mundo que não nasceu na África é um brasileiro, Daniel do Nascimento.

Todos os outros são africanos, mesmo os dois que aparecem como representantes da Turquia e do Bahrein, pois são na verdade corredores, um deles queniano e outro marroquino, que passaram a representar países fora do continente.

A história de Daniel do Nascimento, que superou o recorde sul-americano de outro brasileiro, Ronaldo da Costa (mais conhecido como Ronaldinho da Maratona), é curiosa.

Curiosa porque ambos (Ronaldo da Costa é um ex-recordista mundial da Maratona) têm uma ligação com uma equipe que conheci muito no Brasil, nos tempos áureos em que eu dirigia a Maratona do Rio, na década de 80: a equipe Pé-de-Vento, de Petrópolis, na ocasião dirigida por Henrique Viana.

Ronaldo da Costa foi integrante da equipe Pé-de-Vento e ninguém mais do que ele encarnava a mística do apelido.

Daniel do Nascimento é treinado por Jorge Luís da Silva, que também corria pelo Pé-de-Vento, formou-se em Educação Física, fez cursos no exterior e agora está tirando seu mestrado pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

Foi Jorge Luís da Silva, mais conhecido como Jorginho, que levou Daniel do Nascimento para treinar no Quênia, escolhendo cuidadosamente, através dos conhecimentos que tinha, o círculo de outros atletas radicados no país com o quais ele deveria se preparar.

Tudo isto resultou em uma carreira fulminante, que começou com a vitória de Daniel do Nascimento na seletiva realizada em Lima, Peru, que o classificou para disputar a Maratona Olímpica em Tóquio, no ano passado.

Maratona que ele não completou, por se sentir mal durante o percurso - mas não antes de obter uma espécie de "selo mundial de qualidade" quando o lendário maratonista queniano Eliud Kipchoge o reconheceu e com ele trocou cumprimentos durante a prova.

A constatação de que nem Kipchoge nem Jorginho estavam errados veio ainda no ano passado, em dezembro, em Valência, na Espanha, quando Daniel correu a Maratona em 2:06:11, quase igualando o tempo de Ronaldo da Costa, que era ainda o recorde sul-americano, de 2:06:05.

Tempo que ele agora superou por boa margem, com 2:04:51, recorde de todo o continente americano: Sul, Centro e Norte.

Em outubro de 2020, no Campeonato Mundial de Atletismo em Gdynia, na Polônia, Daniel do Nascimento correra a Meia-Maratona em 1:04:27.

Ronaldo da Costa, o Ronaldinho da Maratona, foi um fenômeno brasileiro que, como tantos outros em nosso país, não teve uma carreira bem administrada, por razões longas de explicar agora.

Deixou porém uma história, iniciada com a equipe Pé-de-Vento, e agora um outro integrante desta mesma equipe, o técnico Jorge Luís da Silva, procura fazer com que os erros que prejudicaram Ronaldo da Costa não se repitam com Daniel do Nascimento.

Isto vai requerer um estudo muito criterioso de que provas Daniel do Nascimento deve participar, pois há muitas grandes maratonas do mundo - como as de Berlim, Londres e Nova York - interessadas em sua presença.

Jorge Luís da Silva está no momento no Brasil, onde deverá ficar até a disputa da Maratona do Rio, dia 19 de junho, para em seguida reunir-se a Daniel do Nascimento no Quênia.

Espero que os bons ventos continuem.

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