Campo Neutro: Maratona de Boston adere à hipocrisia

José Inácio Werneck<br>​

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Brasil Copa70 e José Inácio Werneck


Avon, CT (EUA) - A Maratona de Boston, uma das grandes maratonas do mundo - talvez a mais famosa - será disputada na próxima segunda-feira.

Infelizmente porém aderiu ao esquema de hipocrisia que vem assolando as principais instituições esportivas mundiais, como o Comitê Olímpico Internacional, o Comitê Paralímpico, a FIFA a UEFA e outras menos votadas.

Os dirigentes da Maratona de Boston anunciaram que 63 maratonistas da Rússia e da Bielorússia, que  tinham se inscrito na prova, foram proibidos de participar.

O que os maratonistas inscritos pensam do que se passa na Ucrânia?

Ninguém sabe, pois nada lhes foi perguntado.

Em outras palavras, talvez eles concordem com a invasão ordenada pelo presidente russo Vladimir Putin. Talvez não concordem.

Os organizadores da Maratona de Boston não sabem, nem querem saber. Simplesmente proibiram-nos de correr.

E se os corredores inscritos discordam de Putin?  Estão como no velho ditado: "paga o holandês pelo mal que não fez".

Mas o problema é bem mais amplo do que este. Já escrevi sobre isto em meu antigo "blog" e notei com satisfação que outro dia a Folha de São Paulo publicou um longo artigo enfatizando tudo o que eu anteriormente já dissera.

O que dissera eu? Que no passado nem Comitê Olímpico Internacional, nem FIFA, nem UEFA, nem Comitê Paralímpico nem qualquer outra entidade esportiva suspendera, punira, expulsara qualquer país por invadir um terceiro. 

Nenhum outro país e -  acrescento - nenhum atleta, time ou federação de nenhum outro país

Ainda mesmo agora temos o caso de que a Arábia Saudita vem movendo uma guerra no Yemen, com imensas perdas entre civis inocentes, mas seus próceres, políticos, dirigentes, atletas, ninguém foi suspenso ou afastado de coisa alguma. Pelo contrário, a Arábia Saudita, através de um Fundo de Investimento, comprou o clube inglês Newcastle, que disputa a Premier League.

Nem precisamos falar de fatos passados. Para não irmos mais longe  - pois há uma alentada lista de casos anteriores - pergunta-se: o governo americano e o governo inglês foram punidos ou cerceados em qualquer âmbito esportivo por terem invadido o Iraque com mentiras sobre "armas de destruição em massa"?

E o governo polonês, membro da OTAN, que por ocasião da invasão do Iraque enviou suas tropas para participar, mas que agora apoia a expulsão  de cidadãos russos e bielorussos de competições esportivas de qualquer âmbito: futebol, basquetebol, corridas de rua?

Já escrevi aqui no passado e repito: a maior praga do mundo atual é o "cancelamento". Já nem estou falando de invasões de países. Falo de simples opiniões sobre os assuntos mais triviais possíveis. 

No caso atual, nem opinião houve. A Maratona de Boston não sabe o que os russos e bielorussos que se deram ao trabalho de se inscrever na prova - pagando o devido preço - pensam sobre a guerra. Mas cancelou-os assim mesmo.

Aderiu à hipocrisia.







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