Campo Neutro: Melhor, combateremos à sombra
José Inácio Werneck<br><br>
A frase acima poderia ter sido dita pelos jogadores do Manchester City e do Atlético de Madrid, no túnel do Wanda Metropolitano, ontem, depois que a polícia do estádio impediu que eles se engalfinhassem, ainda em campo.
O Manchester City ganhara na soma de resultados por 1 a 0, como consequência de sua magra vitória na semana passada, em seu campo, o Etihad Stadium.
Diego Simeone, o técnico do Atlético de Madrid, se sentira ofendido, depois daquela partida, quando o treinador do adversário, Pep Guardiola, classificara sua tática de "pré-histórica".
São duas personalidades, e dois técnicos, bastante diferentes. A única coisa que possivelmente os une é o fato de que ambos foram jogadores de meio-de-campo.
O catalão Guardiola porém foi uma cria de Johan Cruyff, que o viu um dia entre os garotos de La Masia, a academia do Barcelona, e resolveu usá-lo como o que ele chamava "pivô", o homem de meio-de-campo encarregado de sair jogando.
O argentino Diego Simeone sempre foi, em sua carreira, um meio-campista defensivo, duro, que não brincava em serviço e talvez por isto tenha ganho o apelido de "El Cholo", dado anteriormente a outro jogador da seleção do país que tinha o mesmo estilo.
Entre as muitas coisas interessantes ocorridas na quarta-de-final com ida e volta entre Manchester City e Atlético de Madrid está o fato de que o primeiro chute a gol dado pelo time espanhol ao longo das duas partidas ocorreu apenas no segundo tempo de ontem. Enfatizo: só na segunda partida.
Na primeira, na semana passada, o Atlético de Madrid simplesmente não acertara um único chute dentro do espaço defendido por Ederson.
Mesmo no segundo jogo, até o fim do primeiro tempo o Atlético se defendia e teve sorte em escapar de sofrer um gol quando Ilkay Gündogan chutou na trave.
Mas no segundo tempo o Atlético foi para cima do Manchester City, mesmo porque não tinha outra solução, e a intenção defensiva de Pep Guardiola ficou clara a partir do momento em que ele tirou o criativo Bernardo Silva e o substituiu pelo defensivo Fernandinho.
Àquela altura, o pejorativo "pré-histórico" assacado por Guardiola contra Simeone era válido para os dois times.
O jogo só não acabou em conflito generalizado ainda no gramado por causa da intervenção policial.
Foi quando os dois times parecem ter se lembrado da famosa frase de Leônidas (não o centro-avante, mas o general) nas Termópilas: "Melhor, combateremos à sombra".
Foi o que fizeram, no túnel, fora da luminosidade dos refletores, com a consequência de que a UEFA agora está investigando exatamente o que se passou em matéria de chutes, cuspes e ponta-pés.
Batalharam à sombra, como eu também tenho batalhado aqui, um pouco na penumbra, pois não domino ainda os recursos tecnológicos deste meu novo espaço e, entre outras coisas, até agora não sei como remeter meus leitores às minhas duas contas de twitter, em que cuido da história do futebol brasileiro.
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