CAMPO NEUTRO: Neymar, o ouro e o desdouro
José Inácio Werneck fala sobre assuntos em alta no mundo do esporte
Neymar é hoje uma das pessoas mais conhecidas do mundo. Se bem que, muitas vezes, por razões que não chegam a ser propriamente gloriosas. Ontem ele marcou um belo gol, o da vitória do PSG sobre o Olympique de Marseille no Campeonato Francês, em Paris. Hoje ele estava diante de um juiz em Barcelona, junto com outros acusados em um escândalo de corrupção, no chamado “Caso Neymar 2”.
Ao alegar cansaço, o camisa 10 da Seleção Brasileira acabou liberado da sabatina. Afinal, tinha ido dormir tarde na véspera, por causa da partida, precisara viajar cedo de Paris para Barcelona para estar presente na audiência, afinal ninguém é de ferro. O juiz, que disse ter ouvido o jogo na cama, na noite anterior, quando se preparava para dormir, liberou-o das atividades, embora isto não signifique que Neymar não precise voltar em outro dia ou outros dias. Afinal, as audiências vão ser realizadas até sexta-feira e muita gente importante está envolvida, até Florentino Pérez, presidente do Real Madrid.
Como, minha senhora, Neymar jamais jogou no Real Madrid? É verdade, mas é verdade também que aos 14 anos tinha sido levado à academia do clube, em Madrid, para treinar e fazer testes. Foi aprovado, chegou a fazer exames médicos e o clube até preparou um
contrato, que seu pai recusou, dizendo que infringia determinações da FIFA.
A partir dali desenrolou-se uma sucessão de episódios de folhetim. O Santos disse que queria manter Neymar por algum tempo e ofereceu-lhe o controle de 40% de seus “direitos econômicos”, ao mesmo tempo que anunciava que havia um investidor interessado: o dono dos Supermercados Sonda. Aí parece estar toda a confusão: Delcir Sonda e um irmão seu, Idi, donos do supermercado, pagaram dois milhões de dólares pelos 40% dos “direitos econômicos” de Neymar, através de uma companhia que eles criaram com o nome de DIS.
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O fato é que Neymar, em vez de ir para o Real Madrid, foi para o Barcelona, ao fim de negociações com outros clubes, entre eles o próprio Real Madrid, o Bayern de Munique e o Chelsea, que na época pertencia ao oligarca russo Roman Abramovich.
Em um determinado momento, a família Neymar teria tentado comprar os “direitos econômicos” de volta, mas a DIS se recusou a vendê-los.
O que se discute agora é quanto o Barcelona realmente pagou por Neymar. Aí está o busílis da questão. O que se sabe - e só se soube depois que um sócio do Barcelona entrou com processo judicial contra o clube - é que o Barcelona pagou acima de cem milhões de dólares para ter Neymar. Mas a percentagem da DIS foi calculada apenas sobre um preço “oficial” de 22 milhões de dólares.
Os advogados de Neymar alegam que a Justiça Espanhola não tem jurisdição para decidir sobre o caso porque trata-se de um conflito entre cidadãos brasileiros que deveria ser decidido no Brasil. Pode ser.
Os próximos dias dirão. Mas muita gente famosa no futebol espanhol - o próprio Florentino Pérez, Sandro Rosell, Josep Maria Bartomeu, Andoni Zubizarreta - estão metidos no embrulho que, logicamente, envolve também sonegação fiscal.
Delcir Sonda, um dos irmãos da companhia DIS, diz que “o que se discute não é o dinheiro”, mas a verdade é que o que se discute é o dinheiro.
O ouro que pode ser também o desdouro.