Eu esperava que a morte de Pelé fosse gerar uma grande cobertura jornalística no mundo inteiro, mas confesso que estava despreparado para as proporções atingidas. Faço uma especial referência aos Estados Unidos e, como brasileiro morando aqui há mais de 30 anos, nunca imaginei que Pelé tivesse deixado uma impressão tão grande no público local.
É certo que a contratação de Pelé pelo New York Cosmos gerou manchetes na época, mas, convenhamos, estamos falando de algo que se passou nos idos de 1975. De lá para cá quantos ídolos atraíram as atenções do público americano? Olhem que estou me referindo a um país em que os grandes esportes locais, como o futebol americano, o basquete, o beisebol e mesmo o hóquei no gelo sempre foram aqueles que atraíam as atenções e deixavam legendas em sua esteira: Babe Ruth, Joe DiMaggio, Michael Jordan, Magic Johnson, Joe Montana, Tom Brady... Já para não falar de Wayne Gretzki, canadense, mas astro da National Hockey League, dos Estados Unidos.
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O futebol, pelos americanos chamado de soccer, é para eles - ou pelo menos era - um esporte menor, mais do interesse de imigrantes ainda pouco adaptados ao país. Mas, senhores e senhoras, acreditem que nos últimos dias - e ponham aí dias sem interrupção, um atrás do outro - o New York Times, seguramente o mais importante jornal dos Estados Unidos, tem dedicado a Pelé matérias de capa e, além disso, reportagens em página dupla em seu caderno principal e no de esportes.
Calculei que hoje, segunda-feira, não encontraria mais nada sobre Pelé, mas estava enganado: há nova reportagem em página dupla, desta vez falando sobre a reação dos moradores da cidade de Santos “ao seu vizinho Pelé”.
Os papas que me perdoem, mas afinal um deles acabou de morrer e, constatando que a cobertura do New York Times em relação a Pelé é muito maior, começo a desconfiar de que aquela velha piada quando de uma visita de Pelé ao Vaticano - “quem é o homem ao lado de Pelé?” - deixa de ser anedota a se torna um fato verdadeiro.
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com o nome de Pelé e como o enterro só ocorrerá amanhã, terça-feira, estou já psicologicamente preparado para pelo menos mais dois dias de palavras e mais palavras do New York Times sobre Pelé.
E nem comecei a falar de fotografias. Elas aparecem em todos os cantos. E há agora uma mostrando um lance em que, em 1968, Pelé aplica uma caneta em... imaginem quem? Em Franz Beckenbauer, o altivo Kaiser, que desce de sua majestade e cai ao chão.
O Rei derrubou o Kaiser.