CAMPO NEUTRO: Pelé é imortal

José Inácio Werneck é colunista do LANCE! e presta sua homenagem ao Rei do Futebol

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Ao tomar conhecimento do que os jornais chamaram “morte de Pelé”, lembrei-me de uma frase de Luís Mendes ao ser indagado sobre quem tinha sido melhor: Pelé ou Leônidas da Silva. Este, apelidado “Diamante Negro”, era um jogador que Luís Mendes acompanhara bem em sua longa carreira de locutor esportivo. E ele respondeu: "Leônidas da Silva não foi melhor do que Pelé e Pelé não foi melhor do que Leônidas da Silva". Era uma forma de evitar controvérsias, mas acho que se aplica agora quando Pelé morre aos 82 anos.

É inútil fazer comparações entre Pelé e Maradona, Pelé e Messi, Pelé e qualquer outro jogador. Ele foi único, numa época única, e alcançou tal fama que adquiriu tons de verdade uma piada que circulou quando de uma visita sua ao Vaticano: “Quem é aquele homem perto de Pelé?”, perguntaram ao vê-lo fotografado ao lado do Papa. Este foi Pelé.

Ficou famosa também a observação do artista americano Andy Warhol, que, a propósito da
expansão dos meios de comunicação, escrevera na revista Time, em 1967: “No futuro, todos serão famosos por 15 minutos”. A fama de Pelé, que já era enorme, só fez crescer e se prolongar: "Ele foi a exceção à minha regra”, reconheceu Warhol anos depois.

Guardo na memória muitos lances luminosos, espantosos, geniais de Pelé desde que, por um
feliz acaso, no dia 7 de julho de 1957, aceitei uma carona para ir ao Maracanã, onde jogavam Brasil e Argentina, pela Copa Roca. Na ocasião eu nem jornalista era. Apenas um torcedor que, naquele dia, depois da praia, não tinha mais o que fazer. Por que não o Maracanã? Fui lá. No banco de reservas, estava um guri que diziam ser “promissor” mas ainda não completara 17 anos. Entrou no segundo tempo, no lugar de Del Vecchio. Entrou e fez um gol, em partida que o Brasil perdeu por 2 a 1. Três dias depois, Pelé já era titular, no Pacaembu, contra a mesma Argentina. O Brasil ganhou por 2 a 0 e ficou com a taça, por diferença de gols. O autor dos dois gols? Pelé.

A partir dali, uma carreira de triunfos que ninguém mais igualou no mundo do futebol e provavelmente ninguém jamais igualará. Jogadas extraordinárias, como o gol que nos classificou diante do País de Gales na quarta-de-final de 1958. Sem aquele “lençol” e aquele gol não teríamos passado adiante.

Os que dizem que “Pelé não jogou” na Copa de 1962 estão enganados. Ele jogou, fez um gol
contra o México, deu um chute na trave contra a Checoslováquia, lance que lhe causou uma
distensão muscular e, numa época em que não havia substituições, foi “fazer número” na
ponta-direita, até o fim da partida, enquanto Garrincha passava para o meio.

Caçado em campo pelos portugueses, em 1966, Pelé jurou que nunca mais disputaria uma Copa, mas voltou em 1970 para aquele Mundial que, transmitido pela televisão pela primeira vez em cores para o mundo inteiro, selou definitivamente a sua fama. Sua maior atuação individual porém talvez tenha sido uma noite em Lisboa, contra o Benfica, em 1962, pela então Taça Intercontinental - hoje Mundial de Clubes -, quando marcou três gols e levou o estádio a aplaudi-lo de pé.

Segundo Armando Nogueira, a identificação de Pelé com o futebol era tal que, se não tivesse
nascido homem, teria nascido bola. Sempre haverá uma bola e sempre haverá uma criança correndo atrás de uma bola. Por isto, Pelé é imortal.

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