Em 1999, escandalizei um jornalista americano.
Ocorre que a televisão mostrava um jogo da Copa do Mundo Feminina, disputada no país, e eu observei que o nível técnico deixava a desejar.
Foi o bastante para que ele, obedecendo aos ditames do "politicamente correto", me classificasse de "porco chauvinista".
Era inadmissível para o jornalista em questão, meu companheiro na ESPN International, que uma daquelas esforçadas jovens não pudesse ser comparada a um Pelé, um Cruyff, um Maradona.
Ora, não havia de minha parte nenhuma intenção de dizer que uma mulher não pudesse ter a mesma habilidade que um marmanjo no trato da bola.
Ocorria apenas que, naquela época, a difusão mundial do futebol feminino era ainda incipiente e não poderíamos exigir das moças os mesmos feitos que esperávamos dos homens.
A maior demonstração disto estava em que os Estados Unidos tinham ganho dois dos três Mundiais disputados e ainda ganhariam mais dois em 2011 2019, além de medalhas de ouro olímpicas.
Isto acontecia pelo simples fato de que as americanas eram pioneiras no esporte. O resto do mundo foi se juntando apenas aos poucos e só agora o futebol entre as mulheres de fato atingiu um nível verdadeiramente internacional, que já está resultando em duas coisas: a primeira é que a técnica melhorou muito e a segunda é que as americanas passaram a ganhar menos.
Quero dizer, ganhar menos na bola. Fora de campo, em dinheiro, vão agora ganhar a mesma coisa que os homens. A Federação Americana chegou mesmo ao ponto de decidir agora que homens e mulheres dividirão entre si as receitas auferidas na soma das Copas do Mundo femininas com as Copas do Mundo masculinas.
É algo notável, porque os Mundiais masculinos rendem para a FIFA - e são assim redistribuídas aos diversos países participantes - quantias bem superiores aos Mundiais femininos.
Apenas nos Estados Unidos a quantia será reunida em um bolo e dividida igualmente pela Selecão Masculina e pela Seleção Feminina.
Isto além do fato de que níveis salariais e outros ítens financeiros das das seleções serão também igualados.
Aqui cabe uma observação: em matéria de futebol, os Estados Unidos, o país da Lei do Mercado, estão ignorando as leis do mercado.
As leis do mercado ditam que a Copa do Mundo masculina gera receitas superiores à Copa do Mundo feminina porque há um maior interesse de patrocinadores, de anunciantes, da televisão, rádios, jornais, público em geral, incluídas aí as próprias mulheres.
Devo dizer que repete-se agora, com o futebol nos Estados Unidos, o que já vem acontecendo há alguns anos nos torneios "Grand Slam" de tênis. As premiações em dinheiro no "Australian Open", em "Roland Garros", em "Wimbledon" e no "US Open" são iguais para homens e mulheres.
Mas é indiscutível que o torneio masculino, disputado em partidas de cinco "sets", gera muito mais dinheiro do que o torneio feminino, em partidas de três "sets".
A consequência deste maior interesse é que a final masculina é aos domingos e a final feminina é aos sábados.
Houve uma experiência com partidas femininas em cinco "sets", mas foi abandonada porque os jogos entre mulheres não tinham o poder de manter um alto rendimento atlético no formato mais longo.
Nesta guerra dos sexos, as mulheres já obtiveram sua vitória há bastante tempo no tênis, dividindo o dinheiro.
Agora, ao menos nos Estados Unidos, elas também ganham a guerra dos sexos no futebol.