Campo Neutro – Quênia: a hora de parar
Há muitos anos, desde pelo menos o tempo do célebre Henry Rono, Quênia goza de imenso prestígio em atletismo, sobretudo em corridas de longa distância e, dentre as corridas de longa distância, principalmente na mais nobre de todas elas, a Maratona.
Mas a exagerada ambição de técnicos, agentes de esportes e - por que não dizer? - atletas levou o pais a ser pilhado em seguidos casos de “doping”, ou ao menos com suspeitas envolvendo até alguns quenianos radicados em outros países, como vimos recentemente com a primeira colocada na Maratona de Nova York.
Ontem, quarta-feira, houve uma reunião em Roma da Federação Internacional de Atletismo, agora conhecida como World Athletics, e os quenianos foram imprensados contra a parede: ou arrumam sua casa e se desfazem dos “maus atores” ou são simplesmente banidos das competições.
Foi, como vocês podem imaginar, um Deus nos acuda. As provas de longa distância se
tornaram importantes para o prestígio do país e também importantes como fonte de renda, nas mais diferentes formas possíveis: desde premiações em dinheiro até arrecadações com turismo e treinamento de atletas estrangeiros.
Para uma nação do Terceiro Mundo, foi uma injeção de investimento estrangeiro que ajudou Quênia e a se tornar o país de economia mais desenvolvida no leste da África.
Nesta reunião em Roma, Sebastian Coe, antigo campeão olímpico inglês, agora presidente da World Athletics, anunciou que o governo de Quênia se comprometeu a gastar 25 milhões de dólares nos próximos cinco anos para “erradicar o doping”: vão investir em equipes de especialistas em exames, aumentar o número de testes, promover investigações e - o mais importante de tudo - criar programas educativos entre as novas gerações.
Tudo isto será importante para o atletismo mundial e ainda mais importante para os atletas quenianos que não usam “doping” mas se tornam suspeitos por causa da má reputação que o país adquiriu nos últimos anos. Ainda recentemente tivemos o caso da queniana Sharon Lokedi, que estuda nos Estados Unidos e, por causa de problemas burocráticos, não foi submetida a exames “anti-doping” nos meses anteriores à prova.
Seu caso talvez tivesse passado em brancas nuvens, mas, exatamente por ser queniana, ela logo se tornou suspeita. Ninguém tem provas de que Lokedi se dopou, mas muitos acham que a suspeita de que tenha se dopado se justifica.
Afinal, como Sebastian Coe fez questão de dizer em Roma, “40% dos casos positivos de
doping nos últimos anos foram em atletas quenianos”.
Ele concluiu: “O esporte não pode deixar, e nossa Federação não pode deixar, que tal situacão continue”.