Faço esta pergunta motivado pelo destino diverso de dois treinadores que trabalharam juntos com Pep Guardiola no Manchester City. Ambos foram ex-jogadores, ambos assimilaram os métodos e ideias de Guardiola, o mais bem sucedido técnico da era moderna. Um chama-se Domènec Torrent. Vocês o conhecem do Flamengo, onde ficou apenas três meses até ser defenestrado. O outro é Mikel Arteta. Está no Arsenal há quase três anos.
Os tempos iniciais foram difíceis. O Arsenal anteriormente tivera como técnico Arsène Wenger, considerado quase insubstituível. O treinador que entrou em seu lugar, o espanhol Unay Emery, apenas confirmou as expectativas de que seria muito difícil encontrar um técnico à altura do legendário francês. Mesmo assim, durou um ano ou pouco mais. Acabou substituído interinamente por seu assistente Freddie Ljungberg e, em dezembro de 2019, Mikel Arteta assumiu como “manager”, a expressão comum no futebol inglês.
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O fato importante nesta história é que só agora o trabalho de Mikel Arteta começa a aparecer. Auxiliado em grande parte por seu Diretor Técnico, o brasileiro Edu Gaspar, ele vendeu jogadores, comprou outros. Este ano, o Arsenal vem apresentando sinais promissores na
Premier League, sobretudo com a contratação de Gabriel Jesus e Aleksandr Zynchenko, que Arteta conhecia bem de seus tempos no Manchester City.
Já Domènec Torrent foi substituído rapidamente não apenas no Flamengo como, mais tarde, no Galatasaray, da Turquia. Este é um debate antigo. Há quem diga que um técnico deve ter a oportunidade de durar ao menos duas ou três janelas de transferências para montar o time que julga necessário. Outros dizem que ele precisa saber aproveitar rapidamente o material humano de que dispõe.
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Na primeira maneira de ver, o técnico é mais importante. Na segunda, o jogador. Isto me lembra uma velha expressão francesa: “Plus ça change, plus c’est la même chose”. Quanto mais isto muda, mais continua a mesma coisa. São debates tão antigos quanto o próprio futebol. Ainda outro dia surpreendi-me em ler em uma coluna no Brasil que “a bola deve correr, mas o jogador também”.
Lembrei-me que, há coisa de 40 anos, em uma mesa redonda na então TV Educativa, apresentei este mesmo argumento a Carlos Alberto Torres, que encerrara sua carreira como jogador e iniciava uma nova, como técnico. Ele lembrou a frase “quem corre é a bola”, dos tempos do tricampeonato de 1970, no México. Eu retruquei que, no calor e na altitude do México, a frase poderia ter sido muito verdadeira mas que, quatro anos depois, na planície e no clima temperado da Alemanha, a Holanda de Rinus Michels tinha mostrado que a bola deveria correr, mas os jogadores também.
Ainda há gente discutindo este ponto? Realmente, em futebol, tudo muda, mas permanece a mesma coisa.