A ATP, que vem a ser a Associação de Tenistas Profissionais, e a WTA, sua congênere feminina, estão furiosas com os dirigentes de Wimbledon, um dos quatro grandes torneios Grand Slam de tênis no Mundo.
Estão irritadas com razão e desconfio que o caso poderá acabar nos tribunais.
A polêmica é quanto à decisão de Wimbledon de impedir tenistas russos e bielorussos de disputarem o torneio este ano.
Para entendermos bem a razão da indignação, leiam aqui uma tradução do comunicado oficial, em inglês, sobre a razão do banimento de russos e bielorussos:
"Como resultado de uma agressão militar tão injustificada e insólita, seria inaceitável permitir que o governo ......... venha a colher qualquer benefício decorrente do envolvimento de jogadores ...... ou .......... no torneio".
Os leitores certamente perceberam que eu deixei em branco o espaço depois das palavras "governo" e "jogadores".
Deixei em branco porque as palavras são "russo", "russos" e "bielorussos". Mas poderiam perfeitamente ter sido "britânico", "britânicos" e "americanos" se nos lembramos que, em 2003, o governo de Sua Majestade participou de uma "agressão militar injustificada e insólita" contra o Iraque, juntamente com os Estados Unidos.
Sem precisarmos falar de outras no passado.
A ATP e a WTA estão também irritadas porque têm um acordo escrito com Wimbledon estabelecendo que as inscrições para o torneio são feitas baseadas "única e exclusivamente" no "ranking" de seus jogadores.
Daí a hipótese que eu levantei desta história acabar em um processo judicial.
No "blog" que costumava publicar aqui mesmo no LANCE!, previ há algum tempo que Wimbledon, atendendo aos desejos do governo do Primeiro Ministro Boris Johnson, iria proibir a presença de jogadores russos.
A proibição agora efetivada vai resultar no afastamento de nomes tão importantes quanto os de Daniil Medvedev, atualmente o número dois do mundo, e Victoria Azarenka, ex-número um.
Além de Medvedev, a Rússia tem três outros jogadores entre os primeiros 30 do ranking mundial. Tem também cinco jogadoras ente as primeiras 40 do ranking.
Aryna Sabalenka, da Bielorússia, é a número quatro do ranking. Sua compatriota Victoria Azarenka é a número 18.
Já me ocupei aqui no passado de outras entidades esportivas mundiais, como o Comitê Olímpico Internacional, o Comitê Paralímpico, a FIFA e a UEFA, que baniram equipes russas. Escrevi também sobre a Maratona de Boston, recentemente disputada, que "cancelou" a inscrição de corredores russos e bielorussos que já estavam registrados na prova.
As notícias que chegam da guerra na Ucrânia são acabrunhantes e me solidarizo com os refugiados ucranianos que chegam ao Brasil. Merecem ser bem acolhidos por nossa população, como merecem ser os refugiados sírios, iraquianos, afeganes, haitianos, venezuelanos, congoleses - venham de onde vierem.
Mas há agora um indisfarçável odor de hipocrisia por parte de instituições esportivas internacionais que antes jamais moveram uma palha ou emitiram um gemido de protesto quando governos ocidentais, como o britânico e o americano, estiveram por trás de guerras ou invasões.
Wimbledon vai enfrentar este ano um "match-point" contra seu prestígio e seu renome.
DE PRIMEIRA: Meus leitores também podem me seguir em https://twitter.com/brasilcopa70 e https://twitter.com/WerneckInacio /// Por lamentável confusão, a resposta que enviei ao leitor Lauter Nogueira na coluna desta recente segunda-feira saiu com o nome de minha esposa, Dawn Werneck, em sua conta de FB. Estou abrindo minha própria conta de FB para evitar futuros problemas.