Coluna do Bichara: O Holandês Voador

Max Verstappen vence na Bélgica com tranquilidade e coloca uma mão na taça da Fórmula 1

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Uma das mais antigas lendas navais é a do Holandês Voador (The Flying Dutchman). Segundo ela, esse navio holandês seria alvo de uma maldição eterna que o obrigaria a para sempre singrar os mares, sem jamais aportar. Por mais inusitado que possa parecer, o navio fantasma parece ter sido visto inúmeras vezes, segundo dezenas de relatos. O fato é que, modernamente, parece justo que Max Verstappen reivindique a ressignificação do termo: ele é o atual holandês voador.

Nesse domingo o palco de seu último show foi Spa Francochamps, tradicional e desafiador circuito belga. Na antiguidade, Spa era uma cidade conhecida por seus banhos termais, e recebeu esse nome em função disso – mesmo acrônimo pelo qual hoje são conhecidos os lugares de tratamento para saúde e emagrecimento, derivado do latim salus per aqua.

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O circuito belga é o mais longo da temporada, com mais de 7km, e possui uma das curvas mais icônicas da F1, a famosa Eau Rouge, feita de pé embaixo a mais de 250 km/h.

O final de semana marcou o final da silly season, hiato que coincide com as férias de verão da F1 e o início da troca-troca de pilotos. O mercado está animado, principalmente com as notícias da aposentadoria de Sebastian Vettel e da mudança de Fernando Alonso, que deixará a Alpine para ocupar o lugar do alemão na Aston Martin. Com isso, o cockpit da Alpine passou a ser objeto da cobiça dos desempregados. A equipe francesa logo anunciou a efetivação do seu atual piloto de testes Oscar Piatsri – australiano campeão da F2. E aí deu-se algo inédito: no mesmo dia Piastri postou um desmentido, dizendo que não correria pela Alpine no ano que vem. Após alguma especulação, compreendeu-se a esnobada: numa tacada de mestre de seu empresário Mark Weber, Piastri acertou com a McLaren e vai substituir seu conterrâneo Daniel Ricciardo – que, como já falamos aqui na coluna, está numa temporada melancólica.

A Alpine não se conformou, alega que Piastri está sob contrato válido e não poderia optar pelo time inglês. Segundo o time francês, havia um compromisso de que, se Alonso não renovasse, ele ocuparia a sua vaga. Já que estamos falando de uma equipe francesa, cabe lembrar a advertência do General De Gaulle: “as promessas só comprometem quem as recebe”.

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O caso foi parar na justiça, mas nada indica que Piastri será obrigado a correr na Alpine contra a sua vontade. Se isso se confirmar, teremos então uma vaga na equipe francesa. Além disso muitos outros pilotos ainda não foram confirmados, e especula-se que poderá haver vagas na Wiliams e na Haas, fruto da provável não renovação Mick Schumacher e Nicolas Latiffi (este que possui um grande passado pela frente).

Ainda fora da pista, outra novidade: a Audi formalizou que entrará na F1 em 2026, ano em que novas mudanças serão implementadas no regulamento. A decisão demorou a ser formalizada, porque a montadora alemã esperava que as outras equipes a aliviassem dos custos de entrada na categoria. Seria mais ou menos como esperar que o peru saísse em defesa do Natal.

Na pista, infelizmente, não tivemos muitas novidades. A classificação prometia um grid com alguma emoção, pois sete pilotos efetuaram modificações em seus carros recebendo as respectivas penalidades (não foi coincidência: o rápido circuito de Spa facilita muito uma corrida de recuperação para quem vem lá de trás. Chamava a atenção o fato de que tanto Verstappen quanto Charles Leclerc estavam entre os punidos, e teriam que sair do final do pelotão.
No sábado o holandês cravou a pole com tranquilidade, seguido por Carlos Sainz, Sergio Perez e Leclerc. Debitadas as várias punições, o grid real trazia Sainz na frente, seguido por Perez, Alonso Lewis Hamilton. Verstappen e Leclerc largaram em 15º e 16º respectivamente.

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A largada foi animada, com Alonso indo pra cima e ultrapassando Perez, no entanto, logo depois colidindo com Hamilton, numa manobra onde o inglês foi culpado como o pecado. Alonso comentou pelo rádio que Hamillton só sabe pilotar bem quando está liderando a prova – uma provocação importante se lembrarmos que ele jamais correu sem um motor Mercedes.

Enquanto isso Verstappen já havia ultrapassado 5 carros na 1ª volta. Completando a animação inicial da prova, Latiffi errou (que surpresa!) e acertou em cheio Valteri Bottas, disparando o safety car. Logo após, Leclerc sofreu com uma sobreviseira que foi parar na entrada de ar do seu carro e teve que fazer uma parada, sacrificando ali sua corrida. Quem piscou os olhos e abriu na 12ª volta, viu Verstappen já na ponta. Embora largando la de trás, ele assim avisou que não daria chance pra ninguém.

Daí em diante a prova seguiu sem surpresas, Verstappen seguiu tranquilo para a vitória, escoltado por Perez. Sainz salvou a honra da Ferrari completando o pódio (em terra de saci, qualquer chute é voleio).

Até a tradicional incompetência da Ferrari não faltou: conseguiram a proeza de fazer Leclerc parar ao final para conseguir um ponto – o da volta mais rápida – e , no entanto, perder dois.

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Em termos de temporada, cabe enfrentar a crua eloquência dos fatos: a boa performance da Ferrari foi um sonho breve, uma chuva de verão. Verstapppen já está com as duas mãos na taça. Atualmente com quase 100 pontos de vantagem sobre seu companheiro de equipe (2º no campeonato), o holandês voador deixará toda a emoção restante por conta da disputa pelo vice-campeonato.

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