Nem todos os acidentes na F1 ecoam tristes memórias (como o que tirou o título de Felipe Massa, lembrado na última coluna). Tenho certeza de que quem tem mais de 45 primaveras, quando a F1 chega ao Japão, se lembra da cinematográfica e proposital batida de Ayrton Senna em Alain Prost, em 1990 – que deu ao brasileiro o título daquele ano. A forra de 1989.
Uma loucura que poderia ocasionar numa tragédia. Mas Senna não tirou o pé. Parafraseando JK, poupou-lhe Deus o sentimento do medo. Suzuka – única pista em que se corre em sentido horário e anti-horário, por força do “8” em seu traçado, e que é feita 65% do tempo de pé embaixo - estará ligada à história de Senna, e do Brasil, para sempre. E falando em pilotos brasileiros, parece que há esperança: Felipe Drugovitch segue vivo na batalha pelo único cockpit ainda disponível para 2024, o da Williams. Como Logan Sargeant vem decepcionando, ainda não se sabe quem será o companheiro de equipe de Alex Albon.
As outras equipes já confirmaram suas duplas atuais para o próximo ano. A Mclaren correu e renovou com Oscar Piastri até 2026, quando soube que a Red Bull teria partido para cima do estreante que vem brilhando. De toda maneira, como sabemos que Marko, Horner e cia não ligam muito para contratos, ainda acho que Sergio Perez pode rodar, e dar início a uma dança das cadeiras
No sábado, Max Verstappen já demonstrou que as coisas voltavam à monotonia normal, sobrando na pista. Fez a pole, seguido de Piastri e Lando Norris, confirmando a boa fase da McLaren. Sargeant bateu forte, ultrapassando Lance Stroll no vergonhoso ranking de piloto que mais prejuízo causou à equipe no ano. Confiram:
No domingo, o incumbente se defendeu bem, e Norris superou seu companheiro de equipe. Mais atrás rolavam muitas tretas, e o Safety Car entrou logo na 1ª volta. Perez e Hamilton se tocaram, com o mexicano desabando para 18º. A corrida se reiniciou na volta 5, com Verstappen na liderança, seguido de duas McLaren e duas Ferrari. Um pouco mais a frente, Sargeant abalroou Valteri Bottas. Vamos agourar: cada totó dele é uma rodada a mais no parafuso das chances de um brasileiro no grid.
Poucas voltas depois, Perez – após receber uma punição por ter ultrapassado sob Safety Car – errou a mesma freada e imitou Sargeant, numa batida replay, dessa vez em cima de Kevin Magnussen. Foi para os boxes trocar o bico e, ao voltar, comentou pelo rádio: “o carro não está legal”. Ora, é claro, F1 não é carrinho de bate-bate. Depois disso ainda levou mais duas punições, abandonando a prova por ordem da equipe, mas protagonizando uma cena constrangedora: 14 voltas após sair do carro, voltou, acionou o motor e retornou à pista; tudo para pagar suas punições, sob pena de elas se acumularem para a próxima etapa. Um verdadeiro coquetel de desencanto e tristeza, a temporada do mexicano se tornou uma cornucópia de desgraças.
Iniciadas as paradas, a McLaren partiu para estratégias opostas: deixou um carro na pista, parando o outro, evitando assim um ataque das Ferrari. Piastri passou Norris “nos boxes”, mas na volta o inglês partiu para a carteirada: pediu inversão de posições, e teve seu desejo realizado.
Mais para o final da prova, as Ferrari e as Mercedes tiveram uma boa disputa, com Lewis Hamilton dando o DRS para George Russel, ao melhor estilo Carlos Sainz – que, espirituosamente, reclamou pelo rádio do fato de estarem usando seu truque contra ele. Verstappen então chegou tranquilo à vitória, seguindo por Norris e Piastri – em seu 1º pódio. Antes da prova o holandês previu que venceria com 20 segundos de vantagem sobre o 2º colocado. A profecia se cumpriu: chegou 19,3 segundos à frente de Norris…
A RBR sagrou-se mais uma vez campeã, chegando ao 7º título – e Adrian Newey, o gênio por trás do carro, ao seu 13º. Para Verstappen faltam apenas três pontos para o tricampeonato – os quais provavelmente conquistará na Sprint Race do Qatar, tornando-se curiosamente o 1º piloto a ser campeão em um sábado.