Quatro jogos com Dorival, três pelo Brasileirão, mudança de posicionamento de um expoente do time, chegada de Everton Cebolinha e um time que vem defendendo mal. Temos algo a falar sobre o Flamengo.
Começando por quem chega: Everton Cebolinha. Contratação midiática e rápido preenchimento de uma lacuna com a lesão de Bruno Henrique, o ex-Grêmio não viveu seus melhores dias na última temporada pelo Benfica. Já se passaram 27 jogos desde a última assistência do brasileiro. O adversário era o Paços de Ferreira e o passe para o gol de Rafa Silva surgiu de um lance forçado após o zagueiro saltar e pressionar o Everton.
+ Com Isla, barca do Flamengo chega a 18 nomes em 2022; veja a lista
Já o último gol de Cebolinha foi feito há 14 jogos, no começo de fevereiro, contra o Tondela. Gol que nos acostumamos a ver no Grêmio, arrastando para cima da zaga, tabelando com o pivô e atacando o espaço dentro da área. O que era rotina virou lampejo na última temporada.
A aposta é que Cebolinha reviva o futebol que o levou à Seleção e não o apresentado em sua segunda temporada em Portugal. Por mais que o Benfica tivesse seus desequilíbrios, o time foi longe na Champions League, e Darwin Nuñez, seu companheiro de time, realizou boas exibições e fechou com o Liverpool.
Sem bola, em organização defensiva, Everton Cebolinha baixava na linha dos volantes e chegava a dobrar a marcação com Sandro Cruz, lateral-esquerdo do Benfica. Ponto para ele. O Flamengo, e qualquer outro time, precisa de jogadores que entreguem intensidade atacando e defendendo.
E Cebolinha chega em um momento de queda defensiva do Rubro-Negro. Dá para perceber a olho nu e as métricas não mentem. A amostragem dos jogos com Dorival Jr. é pequena, mas indica uma clara tendência de diminuição do poder de marcação. Marcar não é cercar, marcar não é balançar o time para o lado da jogada. Marcar é colocar a mão no adversário e tentar tocar na bola. São os duelos defensivos.
O Flamengo tem uma média de 70 duelos defensivos por jogo, marca deixada em 2022 por Paulo Sousa. Na gestão de Dorival Jr. no Brasileirão, o Flamengo duelou 49 vezes contra o Atlético-MG (no 2 x 0) e 60 contra Cuiabá e Internacional. Bom, se as interceptações (interceptar é retomar a posse sem o duelo físico) aumentassem não haveria problema, mas as interceptações também caíram. Contando com os jogos de Paulo Sousa, o Flamengo intercepta, em média, 34 vezes por partida. A gestão Dorival, em seus três jogos pelo Brasileiro, não chegou na média em nenhum deles.
E há piora na contagem de Passes Permitidos por Ação Defensiva (PPDA, em inglês, nos sites de análise). O português entregou um time que deixava o adversário trocar, em média, pouco mais de 7 passes. O Fla de Dorival Jr. viu (a expressão é essa) o Galo e o Cuiabá trocarem mais de 11 passes em média. Contra o Internacional, o Flamengo pressionou bem, e o Colorado trocou pouco mais de 5 passes por posse, mas havia uma condição no jogo para isso acontecer: o Flamengo já perdia por 2 a 0 na metade do primeiro tempo.
Para ilustrar com uma situação de jogo, o gol de Nacho Fernandez, na 13ª rodada do Brasileirão, se dá depois que Mariano troca o corredor de ataque com o Flamengo todo organizado na frente de sua área. Mesmo organizada, a defesa rubro-negra não impede e nem dificulta a troca de 9 passes até o primeiro gol do Galo. Se a média fosse mantida, diminuiriam as chances desse tipo de jogada resultar em gol do adversário.
+ Yuri Alberto, James Rodríguez… Listamos 20 astros viáveis que seu time poderia tentar
Por fim, o posicionamento de Arrascaeta. Jogador perigosíssimo no terço final de campo, criativo, assistente e bom finalizador, tem se postado como um meia, um interior, em boa parte dos jogos com Dorival Jr. Parece estar mais pela intermediária para distribuir e organizar o jogo, em posições mais baixas que Vitinho e Everton Ribeiro, por exemplo.
Arrasca não é um exímio organizador, não é da posição de Gerson ou Renato Augusto. O uruguaio é letal próximo ao centroavante, ou aberto, para escapar da marcação próxima dos volantes adversários e centralizar conduzindo a bola. Não que o jogador não possa ajudar em outra função e posição, mas a pequena amostra aponta para outra direção.
O vídeo no início da coluna esmiúça um pouco mais os três tópicos acima. Sempre relembrando que a amostragem é pequena, então é melhor classificarmos como tendência do que efetivamente uma mudança. Vale tanto para o posicionamento do jogador quanto para os números ruins apresentados pela defesa do time.