Felipe Rolim: Endrick, da Disney ao gol do título do Palmeiras
Exceção se trata como exceção. O último juvenil que subiu para o profissional com ares de que seria uma estrela precoce nunca atingiu o que Endrick fez nesses jogos de Brasileirão
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Abel Ferreira não chega a ser um frasista, mas tem seus dias bons, como quando descartou a presença de Endrick no Mundial de Clubes, insinuando que o clube poderia comprar uma passagem para a joia conhecer a Disney. Aos poucos, Endrick foi aparecendo no time, com menos alarde e com mais responsabilidade, bem ao estilo do português.
Mas o foguete não tem ré. Endrick entrou alguns minutos contra Coritiba, São Paulo e Avaí, para depois jogar um tempo inteiro contra o Athletico Paranaense e praticamente todo o jogo contra o Fortaleza. Vai oscilar, como qualquer jogador em formação, mas mostrou que veio para ficar.
Exceção se trata como exceção. Endrick é uma delas. O último juvenil que subiu para o profissional com ares de que seria uma estrela precoce nunca atingiu o que Endrick fez nesses jogos de Brasileirão. Matheus Nascimento, do Botafogo, talvez seja a melhor comparação possível por conta da pouca idade e muita expectativa. O impacto de Endrick foi muito maior, em tempo menor e em um cenário mais hostil, jogando sempre contra times de primeira divisão.
Nesse pequeno recorte das últimas cinco partidas de Endrick, o prodígio demonstrou personalidade, inteligência tática e um repertório padrão que será incrementado com o acúmulo de horas de jogo. De destaque, a tentativa de participar de todos os ataques palmeirenses que geraram gols contra o Fortaleza.
Endrick é a cara do modelo de jogo do Palmeiras. Rápido, vertical e eficiente. Automaticamente fica de perfil para o lance e corre para as costas da zaga tão logo a bola esteja descoberta nos pés de seus companheiros. Quando Zé Rafael, Danilo, Marcos Rocha ou Scarpa vem de frente, sem pressão adversária, o garoto já se coloca em posição de sprint. Sua mensagem corporal é clara, indicando que o passe a ser dado não pode ser no pé, mas no espaço atrás ou ao lado dos zagueiros. Endrick faz poucos movimentos de pivô, de escora ou para achar o terceiro homem. Quase nunca está de costas para o gol. Está ali para finalizar, de preferência, se puder receber a bola já em movimento, em vantagem cinética.
Contra o Fortaleza, Endrick faz o movimento de romper a linha defensiva logo no primeiro gol. Passa do ponto e acaba em posição de impedimento, mas ajuda a abrir a zaga tricolor e o passe sai na direção de Rony que faz o gol. No segundo gol, o garoto faz o mesmíssimo movimento de atacar a profundidade e o lançamento vai na direção do Dudu. No terceiro gol, mais uma vez Endrick se projeta, pensando em receber a bola no primeiro pau, chegando em progressão. Endrick não alcança, mas Rony, que vinha em sua diagonal na segunda trave, sim. O quarto gol, o da goleada, remete ao mesmo filme, com Endrick procurando as costas do zagueiro que está preocupado em bloquear o cruzamento. Novamente bem colocado o garoto cabeceia sem oposição da zaga e faz o quarto gol do Palmeiras.
E não é só correr para a profundidade, é por onde correr. Endrick tem mostrado que persegue as costas do primeiro homem de área do lado da jogada. No encaixe defensivo, o primeiro homem da defesa protege a zona, preocupa-se primeiramente em não deixar a bola entrar na pequena área, em especial a bola rápida. Quem consegue infiltrar, exatamente em suas costas, chega na frente do zagueiro que protege o centro da área e ganha o espaço para finalizar. Endrick repetiu o movimento diversas vezes contra o Fortaleza. Endrick também mostrou que, quando o Palmeiras ataca por dentro, pela faixa central, tem a concentração necessária para ir para as costas do zagueiro que precisar sair da última linha para ir para o bote. Mesmo que a bola não venha para si, Endrick ocupa o espaço e deixa em dúvida o outro zagueiro e o lateral mais próximo. Movimentos refinados de centroavante, movimentos extremamente maduros para quem nasceu em 2006.
E é nesse jogo de muita movimentação que os números de Endrick ganham ainda mais relevância, tendo finalizado seis vezes e acertado o alvo em cinco delas. Nos 182 minutos que Endrick jogou no Brasileirão, o garoto manteve uma ótima média de 76% de acerto em seus passes e tocou na bola dentro da área adversária 13 vezes. Neste quesito, só Rony e Dudu se destacaram mais nos últimos cinco jogos, com 14 e 18 toques, respectivamente. O drible de Endrick ainda não apareceu como na base e virá com tempo, tendo tentado sete vezes no Brasileirão e só obtido sucesso em duas.
Mais do que prêmio ou pressa, Endrick vem jogando porque vem jogando bem. Desde que perdeu Raphael Veiga por lesão que Abel Ferreira vem mexendo no quarteto ofensivo. Ora com Flaco ou Merentiel, ora adiantando Mayke. Com Endrick no time titular, Abel tem o garoto como centroavante e conta com a chegada de Rony, Dudu e Scarpa. Ainda bem que Endrick pegou o conselho para si e foi conhecer a Disney, porque agora ele tem bem mais o que fazer.
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