Felipe Rolim: Santos aplica goleada com eficiência e variedade ofensiva
Colunista do LANCE! analisa os principais destaques do Campeonato Brasileiro<br>
Não é de ontem que o Santos tem mostrado um bom sistema defensivo e um ótimo goleiro, que garantem ao time estar no seleto grupo dos que sofreram menos de trinta gols. Ainda que mal na tabela, o Santos só levou mais gols no Brasileirão do que Palmeiras (21) e Internacional (28), estando empatado com o Flamengo, ambos com 29 gols vazados. O pesadelo sempre foi o ataque, mas a rodada passada trouxe um pouco de esperança com a goleada de 4 a 1 em
cima do Juventude.
O Santos, somente pela segunda vez em 2022, conseguiu fazer quatro gols em um jogo. A primeira vez, também um 4 x 1, foi contra o Cuiabá. Naquele momento o técnico era Fabian Bustos e o Peixe tinha Emi Velazquez, Leo Baptistão e Ricardo Goulart como titulares. Hoje, nenhum dos três permanece na Vila Belmiro.
Mais do que a goleada ou o adversário ter sido o Juventude – que vinha de empate contra o Corinthians – importa a qualidade ofensiva das jogadas que geraram os gols do Santos. E a análise é em cima disso, principalmente porque o Santos mostrou criatividade e capacidade de marcar de quatro formas diferentes.
O primeiro gol acontece em uma jogada construída desde o campo de defesa, sem chutões ou grandes conduções em velocidade. Pato Sanchez, jogando na posição de volante, começa a jogada e passa da linha da bola oferecendo apoio ao ataque, com o Santos tendo a confiança de subir em bloco e pesar a área do Juventude com quatro jogadores. O gol sai em um rebote que Lucas Braga finaliza de dentro da área. Não é sorte, é matemática. Com o time subindo e ocupando o último terço do campo aumentam as chances de que a bola venha ao pé de um dos atacantes.
O segundo gol do Santos mostrou a capacidade de contragolpear com poucos passes e muita velocidade. Apenas quatro passes até a assistência de Ed Carlos para Marcos Leonardo e alguns conceitos técnico-táticos presentes. Luiz Felipe “rouba passando” a bola do Juventude sem perder tempo de dominar e organizar. O terceiro passe é um movimento de apoio, uma escora, para achar o terceiro homem de frente para o ataque (Ed Carlos). O passe de Ed Carlos
ativa Marcos Leonardo que acelera trocando de direção e dificulta o encaixe de Paulo Miranda, zagueiro do Juventude.
Depois de fazer a vantagem com uma jogada construída e um contra-ataque, o Santos aumenta com uma jogada de bola parada. Simples e bem executada, que é o mais importante e não vinha acontecendo. Falta batida da beirada do campo e a linha de jogadores do Juventude marcando a zona perto do limite da grande área, preparada para correr para trás. O que não pode acontecer para o sistema defensivo nessa jogada é deixar que o adversário coloque dois jogadores no mesmo intervalo da linha. Daí nasce o empurra-empurra. Mas o Santos conseguiu encaixar Lucas Braga e Madson no mesmo espaço, com Madson correndo nas costas de um marcador e com Lucas Braga entre si e o jogador do Juventude que via a jogada de frente. Madson raspa e troca a direção do chute, o suficiente para que a bola
entrasse.
Finalizando a goleada, faltava um gol a partir de uma transição longa para fechar as mais variadas formas de atacar. E ele veio. João Paulo posicionou seus zagueiros bem perto do tiro de meta para forçar a subida do Juventude e fez a bola longa, direta na cabeça de Lucas Braga.
O chute de João Paulo eliminou sete jogadores adversários e a raspada de Lucas Braga, o oitavo. Ed Carlos domina a raspada e daí em diante é um ataque rápido, associativo e sempre com igualdade numérica contra a defesa, o que facilita o jogo. Lucas Braga é quem gerencia toda a jogada, se apresentando para Ed Carlos, recebendo a bola de Marcos Leonardo e tabelando com Ângelo. Uma pintura em que o time ganha 60 metros com o bom lançamento do goleiro João Paulo e envolve a defesa com passes rápidos e troca de corredores.
Os torcedores do Santos que estão contando pontos para a Pré-Libertadores saíram satisfeitos da Vila Belmiro pela quantidade de gols. O colunista se satisfez com a criatividade e a variedade. O Santos foi eficiente construindo de trás, contra-atacando em poucos passes, tirando o melhor da bola parada e, também, da bola longa.