Se ainda há discussões na imprensa e em mesas de bar sobre o trabalho de Juan Carlos Osorio no São Paulo, no restante da América Latina o potencial do Lorde é cada vez mais concreto. Enquanto o técnico colombiano conduz o México na Copa América Centenário respaldado por números históricos, argentinos e até espanhóis conhecem mais sobre os métodos de Profe.
No início deste ano, o jornalista Jorge Bermúdez, residente em Bogotá, publicou um livro para explicar ao mundo as ideologias do treinador de 54 anos no futebol. Na Colômbia, a obra tem o nome de "A Estratégia Osorio", enquanto no México, na Argentina e até mesmo na Espanha ela recebeu o nome de "O Caderno de Osorio", em tradução livre para o português.
- O projeto durou mais ou menos um ano. Começamos com Osorio ainda no Atlético Nacional (COL), em 2015, pouco antes de ir ao São Paulo. Na edição colombiana, inclusive, há um capítulo adicional para o que foi feito no Brasil. É o capítulo cinco, com participações exclusivas de Rogério Ceni e Alexandre Pato. Falamos da adaptação dele, dos métodos, da perda de jogadores que fizeram a equipe deixar de lutar pelo título e da forma como ele reconstruiu o time contratando apenas o 'Neymar do Nordeste" de peça mais cara. Agora esperamos fazer o capítulo de número seis, com o que ele fará no México. É um livro que ainda não está concluído - contou Bermúdez, ao LANCE!.
Juan Carlos Osorio disputou 28 partidas pelo São Paulo, com 12 vitórias, sete empates e nove derrotas em quatro meses
Osorio tem oito partidas à beira do campo pela seleção mexicana, onde se apresentou em outubro do ano passado. Somado ainda a um jogo em que assistiu das tribunas, o Profe tem nove vitórias e somente um gol sofrido. Na noite do último domingo, na abertura da Copa América, La Tri encarou seu rival mais forte até aqui e venceu o Uruguai por 3 a 1. Para Bermúdez, a partida serviu como uma constatação do trabalho do colombiano, a ponto do México já ser apontado pelo jornalista como favorito ao título.
- Do do ponto de vista conceitual é a melhor equipe. Está apenas começando, mas acredito que o tempo só vai melhorar o trabalho. A equipe já competiu muito bem na Copa do Mundo de 2014 e pode crescer mais. Agora está melhor. A estrutura gerou o que os mexicanos necessitavam. Ele tem todos os argumentos para aspirar ser campeão. Pode perder, mas o trabalho é muito bom. Ganhar do Uruguai em alta qualidade não é fácil, ainda mais marcando três gols. Foi a demonstração do que ele pode fazer, a confirmação de que é um muito bom treinador com muito bons jogadores - exaltou.
A ideia, agora, é disseminar ainda mais os conhecimentos e as experiências de Osorio - melhor ainda se as ideias se espalharem acompanhadas de vitórias e títulos. Entre os colombianos, a obra é um sucesso. Na Argentina, a editora que comprou os direitos do livro desejava aumentar o repertório sobre futebol no país. Já a Federação Mexicana de Futebol deseja que Bermúdez e o Profe formulem praticamente um livro didático para ser usado na formação de treinadores no país, algo que o jornalista indica também para o Brasil.
Confira um bate-papo exclusivo com Jorge Bermúdez:
Como nasceu a ideia de escrever um livro sobre Osorio?
Inicialmente eu, como jornalista, tinha uma inquietude e um desejo, uma necessidade de fazer um livro. Era algo que queria desde pequeno. Decidi fazê-lo e saí à procura de um tema. Uma das coisas que mais me encanta é o futebol e já conhecia o professor Juan Carlos, um dos personagens mais especiais. E me parecia uma boa história para contar. Falei com ele, propus escrever sobre seus métodos e ideologias de futebol, ele aceitou e o fizemos.
Com Osorio à beira do gramado, o México venceu as oitos partidas que disputou, marcando 17 gols e sofrendo apenas um
Qual a explicação para o sucesso imediato no México?
Eu digo que futebol não tem mistério, é elementar. E ele encontrou o caminho rápido, como fez no São Paulo. Os jogadores mexicanos sentem o futebol como ele sente e vê. Essa sintonia é muito sensível e permite ao treinador fazer tudo o que deseja, pode gerar muitas coisas boas. Não tem segredo, só assim ele consegue aplicar os métodos perfeitamente. Os mexicanos, assim como os são-paulinos, gostaram de encontrar um treinador que aposta no futebol jogado. Há um matrimonio de sucesso no México como foi com Souza, Ganso, Luis Fabiano, Pato e Carlinhos. E depois lançando garotos como Lyanco, valorizando Rodrigo Caio, um jogador que ele queria muitíssimo para seu esquema.
Acredita que ele acabará com a máxima mexicana de "jogamos como nunca, perdemos como sempre?
No futebol é preciso crer em tudo, até em acabar com essas máximas. Mas, para mim, o importante é jogar bem e depois tentar ganhar. Se você joga bem, você está mais perto da história. Ganhar depende de mais coisas, de árbitro, do rival, de alguma sorte, mas se você tratar de jogar bem você pode ficar mais tranquilo contra esses outros fatores.