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Estados Unidos x Vietnã: rivais na Copa do Mundo Feminina têm histórico de uma guerra lembrada também em sucesso musical brasileiro

Seleções se enfrentam nesta sexta-feira (21), pelo Grupo F, às 22h (de Brasília). Conheça a história da canção!

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Guerra do Vietnã se arrastou por décadas e foi um marco na Guerra Fria (Foto: Divulgação / PBS)

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Marcada para esta sexta-feira (21), às 22h (de Brasília), a partida entre os Estados Unidos, atuais campeãs da Copa do Mundo Feminina, e o Vietnã, pelo Grupo F do torneio, tem como pano de fundo uma das páginas mais trágicas da história.

O conflito bélico que marcou os dois países foi uma consequência do fim da Guerra da Indochina (leia mais sobre o conflito ao fim da matéria). E para além disso, influenciou um dos grandes sucessos musicais do Brasil.

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BEATLES, ROLLING STONES E A GUERRA DO VIETNÃ: A DÉCADA RESUMIDA EM UMA MÚSICA

Gianni Morandi - C'Era un Ragazzo Che Comme Me Amava I Beatles E I Rolling Stones
Gianni Morandi: astro italiano chegou a ter de cantar letra original censurada na televisão (Foto: Reprodução)

Lançada em 1966, "C'Era Un Ragazzo Che Come Me Amava I Beatles e I Rolling Stones" logo se tornou um marco na carreira do astro Gianni Morandi. As versões em torno de como foi criada esta música dizem que Mauro Lusini apresentou-a ao produtor Franco Migliacci. Em cerca de dez minutos, Migliacci fez a letra movido por todo o impacto que cercava a Guerra do Vietnã. Após estar pronta, a canção foi oferecida ao jovem Gianni Morandi, que ficou arrebatado com a música.

- Naquela época eu cantava canções muito melódicas e tradicionais, como "La Fisarmonica"... Chegou este menino de Siena, Mauro Lusini, com uma canção em um Inglês um pouco extravagante e Franco Migliacci, em um intervalo de dez minutos, de forma muito sincera, escreveu esta letra. Estávamos no meio da Guerra do Vietnã e ele escreveu de uma tacada só, acho que não mudou uma única palavra. Quando fui ouvir, me apaixonei perdidamente e decidi, de cara, que queria gravar - afirmou Morandi, em entrevista à emissora italiana RAI.

O cantor revelou na entrevista que teve de lidar com resistência interna e até problemas com a Censura na Itália.

- Lutei muito. Um pouco até contra a resistência da gravadora, que não queria me ouvir cantar músicas de protesto. Depois contra a censura da RAI, porque a música dizia "está morto no Vietnã'. A canção chegou a tocar algumas vezes no rádio, mas nas apresentações na televisão na época, tivemos que mudar a letra. Substituímos o Vietnã pela palavra "rattattattá” (barulho de metralhadora) - disse.

A CURIOSA SAGA DA MÚSICA NO BRASIL

Dudu França
Dudu França foi o primeiro a interpretar a música no Brasil (Foto: Divulgação)

A canção de Gianni Morandi teve um caminho curioso em solo brasileiro. Coube a Dudu França ser o primeiro a soltar a voz de protesto no rock que abordava a Guerra do Vietnã.

- Eu tinha 17 anos e, por mais que a gente tivesse acesso às canções do exterior, era comum pedir para quem viajasse a qualquer lugar de fora um "olha, me traz alguns discos de lá!". Eu tinha um primo que viajava para a Itália com meus tios e eles trouxeram esse disco maravilhoso do Gianni Morandi. Pouco depois, eu ia cantar no programa apresentado pelos Incríveis (o grupo Os Incríveis) na TV Excelsior. Assim que cheguei, lá comecei (e cantarola) "C'era un ragazzo che comme me amava I Beatles e I Rolling Stones..." E foi aquela loucura - recordou:

- É curioso que eu me apresentei de smoking, nem sei o motivo disso. Mas depois da apresentação, vieram as meninas do auditório, me agarraram, foi um tremendo sucesso. E eu, aos 17 anos, em 1967, saí numa felicidade - completou.

O cantor reconheceu o quanto a letra tinha uma dimensão forte para a época.

- Acho a letra maravilhosa. Que assunto espetacular! A gente sabia da guerra, ficava a par de que ela não acabava mais. E ainda viria bomba de napalm (um incendiário petroquímico que queima a 2.700°C e se apega a tudo o que toca)! Sabia que tinha muito sofrimento em um lugar tão bonito. Os jovens mais tarde despertaram para ver essa situação que acontecia lá - constatou.

Dudu, porém, contou que, posteriormente, os rumos mudaram em relação à possibilidade de que ele fizesse uma gravação.

- Um tempo depois, o Brancato (o comunicador e empresário Brancato Júnior) ligou para mim e pediu: "Tem como emprestar a letra daquela música e o disco?". Aí eu achei que ia fazer uma versão para mim. Acabei me enganando. Uns dois meses depois, ouvi no rádio Os Incríveis cantando "Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones...". E veio esse sucesso todo para a banda. Depois o Netinho me ligou pedindo desculpa, mas, poxa, não eram eles que tinham culpa, o Brancato era o empresário. E a música até hoje é um sucesso, a prova disso foi a gravação do Engenheiros do Havaí mais tarde. Anos depois, consegui meu espaço - garantiu.

Dudu França chegou a participar por alguns meses da banda Os Incríveis. Porém, seguiu carreira solo e estourou de vez nas paradas de sucesso com a música "Grilo na Cuca", de Carlos Imperial. Além de ter sido também apresentador e ator, continua fazendo shows e, recentemente, foi finalista de uma das temporadas do programa "The Voice Brasil +".

UM SUCESSO INCRÍVEL, MAS MUITA REFLEXÃO

Netinho Os Incríveis
'Era muito triste para nós tudo que sabíamos dessa guerra', recorda Netinho, baterista de Os Incríveis, que gravaram 'Era Um Garoto...' (Foto: Divulgação)

A versão feita por Brancato Júnior se tornou um dos sucessos memoráveis da banda Os Incríveis. Único integrante remanescente da formação original, o baterista Netinho recorda-se do impacto que foi ouvir a música pela primeira vez.

- Tínhamos o nosso programa na TV Excelsior, no qual levávamos muitos convidados. Aí o Dudu França cantou a versão em italiano. Mais tarde, o Brancato fez essa versão e o tema era muito importante, tinha tudo a ver com aquele momento - disse.

Aos seus olhos, a canção ajudou a alertar para a tragédia que assolava o território vietnamita.

- Era muito triste para nós tudo que ficávamos sabendo dessa guerra. E quando alguém consegue em uma música abordar um tema que tem esse peso, se torna fundamental. Gera um embate, a nossa gravação alertava que a guerra não era uma coisa boa - destacou.

Mesmo depois de tantas décadas, as lembranças do sucesso da banda Os Incríveis (que completou 60 anos em 2022, mesmo com algumas mudanças) marcam Netinho.

- É uma coisa que agradeço todos os dias. A gente começou em 1962, chegou ao primeiro lugar e conseguiu muita coisa. Viajamos pelo mundo, gravamos... Felizmente, temos músicas que as pessoas lembram como "O Milionário" e "O Vagabundo". E o carinho do público é impressionante - disse.

A GUERRA DO VIETNÃ

pbs
Guerra do Vietnã chegou ao fim em 1975, após a retirada completa das tropas americanas (Divulgação / PBS)

Professor de História da UFF e da Uerj, Marcus Dezemone detalhou o que culminou no conflito:

- Formalmente, os Estados Unidos nunca declararam guerra ao Vietnã. O país fica localizado na Indochina, que sofreu forte influência chinesa. Porém, com a forte expansão imperialista em direção à Ásia e à África, aquilo havia passado para o controle francês, que exerceu um processo crescente de dominação territorial. O alfabeto vietnamita é Ocidental, por exemplo, introduzido por missionários, diferente como no Japão e na China - e destacou:

- Desde essa dominação francesa no Vietnã, há um movimento de resistência contra potências ocidentais. Com a transformação do Japão no século XX numa potência bélica, expancionista, que vai obtendo territórios na região do Pacífico, o Vietnã passou a ter um ocupação japonesa. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Vietnã tinha ocupação japonesa. Após os ataques nucleares contra Hiroshima e Nagasaki, os franceses tentam retomar o controle. Com isso, tem início uma luta pela independência vietnamita. Em 1954, são celebrados tratados prevendo a independência do país diante da França e, também nessas negociações, houve um acordo para a criação de dois países. O Vietnã do Norte, que seria um país comunista, influenciados pela Revolução Russa de 1917, enquanto o Vietnã do Sul, que passaria a adotar um regime capitalista - completou.

Porém, houve um impacto que desencadeou um dos maiores conflitos da Guerra Fria a partir da década de 1950.

- Estes tratados previam um plebiscito em 1956, buscando a unificação do país. Porém, quando o Vietnã do Sul percebeu que poderia haver um apoio maior para o regime comunista, se retirou do plebiscito. Isso levou o Vietnã do Norte a atacar O do Sul. Inicialmente, há uma guerra entre vietnamitas. Com esse conflito entre comunistas e capitalistas, os Estados Unidos passam a crescer seu apoio ao Vietnã do Sul. Esta atitude na época passava a ser uma visão estratégica de mundo de Washington era a "teoria de dominó". Na lógica da política externa americana, era importante impedir que o Vietnã do Norte avançasse.

O governo americano passou a enviar tropas para o Vietnã do Sul em larga escala.

- A partir do presidente John Kennedy, é intensificada a presença militar dos Estados Unidos. No entanto, é com Lyndon Johnson, seu sucessor, que o conflito ganha contornos muito mais sérios - destacou o professor de História.

O número chegou a 500 mil soldados e não houve esforços para evitar que todo o Vietnã se tornasse zona de influência comunista. As batalhas contra os exércitos norte-vietnamitas e os vietcongues (guerrilheiros da região do Vietnã do Norte) se mostravam desafiadoras.

O impacto da Guerra do Vietnã ganhou uma proporção ainda maior: as imagens passaram a ser transmitidas nas emissoras americanas, e o que causou mal estar na população.

- Houve uma presença maior da imprensa no campo de batalha. Até por conta dos avanços dos meios de comunicação de massa, as imagens chegavam e repercutiam também nos Estados Unidos - apontou o historiador.

Havia imagens fortes como o cerco à embaixada de Saigon, na qual civis eram torturados, mortos e fuzilados. Em meio a este contexto, alguns soldados voltaram mortos de uma guerra que adentrava pela década de 1960.

- Isso permitiu que o movimento pacifista fosse ampliado dentro do próprio país. Ao mesmo tempo que a guerra avança bastante, recrutando populações jovens e negras em um contexto de luta afrodescendente por contextos civis, há um questionamento à guerra. Curiosamente, quanto maior a presença americana no conflito, maiores dificuldades eram enfrentadas, também pelo apoio da população local ao grupo de guerrilha, que era chamado pejorativamente de vietcongue, termo que podia ser traduzido como "vietnamita louco". Quanto maior foi a escalada, e maior o uso de armas, como o uso de armas como o "agente laranja", além dos bombardeios com napalm, mais era difícil a vitória americana - detalhou.

Somente com a chegada de Richard Nixon à presidência dos Estados Unidos, houve uma mudança do panorama.

- Ele coloca Henry Kissinger como Secretário Geral e Conselheiro Nacional de Segurança dos Estados Unidos, que propõe uma estratégia de retirada gradual das tropas e a "vietnamização do conflito". Essa estratégia acaba sendo concluída em 1975, com a retirada completa das tropas americanas, o que abre caminho para uma ofensiva do Vietnã do Norte, que vai tomar Saigon e gera mais imagens icônicas - e destacou:

- Houve fuga desesperada por helicóptero dos últimos soldados. Com a saída dos americanos, o Vietnã passou a se tornar comunista, que adota a reprodução da política socialista. E é hoje definido por analistas como uma espécie de "micro-China", tentando buscar espaço no mundo. Houve uma tentativa de aproximação com os Estados Unidos, em especial no governo de Barack Obama, pois o trauma da guerra foi muito forte. O espaço de ressignificação desta Guerra do Vietnã vinha desde o período de Ronald Reagan - constatou Marcus Dezemone.

SELEÇÃO AMERICANA EM BUSCA DE MAIS UM TÍTULO

Estados Unidos - Copa do Mundo Feminina 2019

A guerra segue eternizada em filmes, documentários e, em solo brasileiro, em uma canção. Mas, nesta sexta-feira (21), as duas seleções entrarão em campo pelo sonho de começar a fazer história na Copa do Mundo Feminina.

- A partida é de grande interesse do ponto de vista histórico e cultural para os dois países. Em especial pela representação do esporte, de transformar os conflitos num outro tipo de disputa, como é o propósito de disputa do congraçamento de relações - destacou o professor de História da Uerj e da UFF, Marcus Dezemone.

Abaixo, a letra da versão da canção:

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Um dos LPs da banda "Os Incríveis" (Foto: Divulgação)

ERA UM GAROTO QUE COMO EU AMAVA OS BEATLES E OS ROLLING STONES ("C'Era Un Ragazzo Che Come Me Amava I Beatles e I Rolling Stones") - Mauro Lusini e Franco Migliacci / versão de Brancato Júnior

Era um garoto que como eu
Amava os Beatles e os Rolling Stones
Girava o mundo sempre a cantar
As coisas lindas da América

Não era belo, mas mesmo assim
Havia mil garotas sim
Cantava Help and Ticket to Ride
Oh, Lady Jane, or Yesterday

Cantava viva à liberdade
Mas uma carta sem esperar
Da sua guitarra, o separou
Fora chamado na América

Stop, com Rolling Stones
Stop, com Beatles songs
Mandado foi ao Vietnã
Brigar com vietcongues

Tatá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tátá-tá-tá-tá...

Era um garoto que como eu
Amava os Beatles e os Rolling Stones
Girava o mundo, mas acabou
Fazendo a guerra no Vietnã

Cabelos longos não usa mais
Não toca a sua guitarra e sim
Um instrumento que sempre dá
A mesma nota, rá-tá-tá-tá

Não vê amigos, nem mais garotas
Só gente morta caindo ao chão
Ao seu país não voltará
Pois está morto no Vietnã

Stop, com Rolling Stones
Stop, com Beatles songs
No peito, um coração não há
Mas duas medalhas sim

Tatá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tátá-tá-tá-tá...

Ratá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tatá-tá-tá-tá

Ratá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tatá-tá-tá-tá

Ratá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
Tatá-tá-tá-tá
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