‘100% Roissy-en-Brie’: Pogba repete Cafu e leva periferia à final da Copa

Volante francês fez o mundo conhecer comunidade carente onde nasceu após garantir vaga para decidir o título com a Croácia. Em 2002, brasileiro vestiu '100% Jardim Irene'

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Pouca gente no mundo conhecia o Jardim Irene até Cafu apresentá-la ao planeta no momento em que erguia a taça da Copa de 2002 no Japão. A camiseta com os dizeres "100% Jardim Irene" no pódio colocou o humilde bairro da periferia de São Paulo e seus moradores em evidência. Virou símbolo do penta brasileiro. Dezesseis anos depois, é a vez de Roissy-en-Brie ganhar o mundo pela final da Copa, agora na Rússia. É onde nasceu o francês Paul Pogba, expoente da geração que tentará o bicampeonato pela França neste domingo contra a Croácia no estádio Lujniki em Moscou. Pogba quer entrar para a galeria dos campeões e eternizar Roissy-en-Brie na história.

O camisa 6 da França, atleta do Manchester United (ING), apresentou seu local de nascimento ao mundo após bater a Bélgica e garantir vaga para a final. 

- Eu não sou o Ronaldinho, nunca vou ser, mas sou Paul Pogba de Roissy-en-Brie e vou estar na final da Copa - afirmou, referindo-se ao craque brasileiro Ronaldinho Gaúcho, de grande passagem pelo futebol francês.

Roissy-en-Brie é um município que integra o departamento de Seine-et-Marne na região de Île-de-France. Fica a cerca de 30 quilômetros de Paris. É bem humilde, como o Jardim Irene, em São Paulo, mas não chega a ser considerado perigoso, segundo o jornalista francês Bertrand Blais. 

- É bem pequeno, município da grande Paris. A gente brinca que já é interior, por ser pequeno. Cercado por mato, florestas. É sossegado, tem alguns municípios da periferia que são barra pesada, e ele não faz parte disso. Bondy, onde nasceu Mbappé, já é mais perigoso, tem criminalidade - conta o jornalista, que foi correspondente do L'Equipe no Brasil.

Até a década de 1970, Roissy-en-Brie era um vilarejo de cerca de 500 habitantes, praticamente não existia no mapa. Até a chegada da família Pogba, que se estabeleceu no local nos anos 90, era mais conhecida por ter sido morada de Charles Pathé, grande cineasta francês que morreu em 1957 e viveu algum tempo na comunidade.

A família de Pogba cresceu praticamente com o município, que tem cerca de 20 mil habitantes hoje. Vindo da Guiné, os pais do volante se estabeleceram no local e lá criaram seus três filhos. Além de Paul, de 25 anos, tem Florentin e Mathias, irmãos gêmeos que também são jogadores. Eles são mais velhos, têm 27 anos, mas não lograram o mesmo sucesso que o irmão. Floretin é zagueiro e atua pelo modesto Sedan, da França, enquanto Mathias, centroavante, defende o Sparta Rotterdam, da Holanda. 

Em maio do ano passado, os Pogba sofreram um duro golpe. Fassou Antoine, o patriarca da família, faleceu aos 79 anos. O volante francês perdeu sua referência, mas nunca o reconhecimento pelo pai. E quis o destino que uma homenagem fosse prestada justamente na Rússia. 

Em maio deste ano, Rússia e França se enfrentaram em amistoso em Moscou. De falta, Pogba marcou o terceiro gol da vitória francesa por 3 a 1 no Estádio do Spartak. Na comemoração, usou uma camiseta por baixo do uniforme francês, tal qual Cafu, para se recordar do pai, que completaria 80 anos naquele 27 de março. Estava escrito: "Feliz aniversário, papai! Que Deus lhe dê misericórdia!". Em seguida, postou uma foto nas redes sociais e agradeceu ao pai por "estar olhando por mim e meus irmãos". 

Na final da Copa, não se sabe se Paul Pogba homenageará sua terra natal ou seu pai com mensagem em camiseta. A arbitragem pune com cartão quem comemora desta forma. Além disso, nos últimos anos, a Fifa tem recomendado aos jogadores não passarem qualquer tipo de mensagem, sob risco de punição. De qualquer forma, campeão ou não, o volante francês já colocou o  pouco conhecido Roissy-en-Brie em evidência para o mundo. Resta saber se o município estará no topo do pódio, como o Jardim Irene de Cafu em 2002.



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