O futebol é um dos meios mais eficazes para canalizar histórias comoventes. E, muitas vezes, a paixão ao esporte transcende e é capaz de colaborar na suavização de dores implacáveis, como a de perder a esposa e os filhos pequenos às vésperas de uma planejada viagem à Rússia para acompanhar a Copa. Esta tragédia atingiu o resiliente mexicano Gilberto Martínez, de 41 anos.
Pai de fã de Neymar e Messi, Gilberto organizara hospedagens, passagens e ingressos junto à família para assistir a jogos do Brasil e da Argentina, além, é claro, dos do México, pois o coração também precisava se encher de orgulho com a La Tri. No entanto, o coração de Gilberto sofreu o baque mais doído possível: a argentina Verónica, esposa, e os filhos Diego (8 anos) e Mía (6) sofreram um acidente de carro na Flórida, EUA, quando Verónica e suas crianças iam ao encontro do cunhado de Gilberto, outro a falecer na colisão.
O acidente ocorreu no dia 28 de abril. Guerreiro, Gilberto optou por não ficar imóvel e odioso perante o contratempo. Decidiu, mesmo com todo o sofrimento, alimentar o sonho da família e partir para a Rússia como forma de homenagem. Inclusive, como quem agrada sem precisar receber nada em troca, fez uma viagem de trem entre Moscou e São Petersburgo, cujo passeio era um pedido de sua esposa, com quem estava junto desde 2001.
Gilberto levou dois amigos como companhia: um mexicano e um argentino. Para estar no solo do atual Mundial, contudo, foi motivado por nada mais nada menos que Guilhermo Ochoa, goleiro e ídolo da seleção do México.
- A verdade é que ajudou muito uma conversa que tive com Guillermo Ochoa, que meu deu as condolências, palavras de apoio pelo que aconteceu com a minha família. E no final ele me disse que meu filho gostaria de estar aqui. Eu creio que foi o que precisava para decidir estar aqui e viver isto. E também esta é a única coisa que temos pendente como família. Então, tenho que viver isto, sofrer, chorar e desfrutar - disse Gilberto ao jornal "Zero Hora".
Até aqui, Gilberto Martínez já acompanhou o duelo entre Argentina e Islândia, pois Diego, seu primogênito, o tinha como ídolo, em Moscou, onde também assistiu à histórica vitória de seu México diante da Alemanha. Em seguida, partiu para São Petersburgo homenagear novamente Diego pois viu Neymar de perto no confronto entre Brasil e Costa Rica. Em seguida, esteve em Rostov, local no qual viu outra vitória do México - desta vez sobre a Coreia do Sul.
Gilberto, agora, está a caminho de Ecaterimburgo. Por lá, tem tudo para presenciar a classificação do México, que só precisa de um empate diante da Suécia para ir às oitavas de final da Copa. Conforme o planejado com a família, retorna dia 30 para a sua terra natal, com sensação de dever cumprido e de ter mostrado ao mundo que superar é preciso ao escrever um dos melhores roteiros deste Mundial. Gratidão.