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A cidade mais improvável da Copa da Rússia encampou o Mundial

Algo que não se vê em Moscou ou São Petersburgo é percebido na menor sede, Saranski: a alegria da população em ter a sua cidade escolhida como palco de quatro jogos

Estádio Saranski
imagem cameraArena Mordóvia lembra muito o Soccer City, estádio de Johanesburgo e principal palco da Copa de 2010 (Carlos Alberto Vieira)
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Lance!
Enviado especial a Saranski (RUS)
Dia 23/06/2018
18:47
Atualizado em 23/06/2018
21:10

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A cidade de Saranski receberá nesta segunda-feira o seu jogo mais esperado nesta Copa do Mundo. Depois de Dinamarca 1x0 Peru e Japão 2x1 Colômbia, a Arena Mordóvia, como a população local a chama,  verá em campo uma seleção candidata ao título, Portugal, e seu torcedor terá a possibilidade de ter in loco o atual melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo, no duelo em que os Patrícios enfrentarão o Irã em jogo decisivo:  uma vitória ou empate valerá a classificação. A derrota será a eliminação para os persas.

- Um jogo como esse nunca mais veremos por aqui – disse Aleksandr, simpático morador da cidade, que é uma das sedes mais coloridas e animadas desta Copa da Rússia.

Quando Aleksandr diz uma frase de impacto dessa, tem lá o seu motivo. Certamente Saranski, que fica a 500km de Moscou e tem meros 300 mil habitantes,  é a mais improvável das sedes.

Capital da Mordóvia, uma república que está integrada à Rússia desde 1012 (isso mesmo, 1006 anos), a cidade tem hóquei no gelo, a turma gosta de basquete e luta, mas futebol não é bem a dela. O time da cidade acabou de subir para a Segundona russa e tem média ridícula de público (não bate dois mil/jogo) não há jogador da região em times da elite do país. E a prova de que o interesse por futebol é quase nulo está no fato de que a Arena Saranski, que tem capacidade para 45 mil pessoas, sofrerá uma remodelação assim que acabar a Copa e o local passará a ter lotação máxima de 25 mil.

- Ainda é muito, talvez só encha em jogo da Rambler (NR: tipo a nossa Copa do Brasil) contra algum grande  - brinca  Igor Gulaeev, estudante de economia nascido em São Petersburgo, que já conheceu toda a Europa e os Estados Unidos, é fluente em inglês e nesta Copa acompanha alguns jogos. Está em Saranki pela primeira vez na vida e este será seu único jogo na cidade.  Aleksander, que nem torce para o time da cidade, ele é Spartak de Moscou, acena com a cabeça.

- Não deu para acreditar que uma cidade como Krasnodar, com equipes de ponta e torcida vibrante, não foi sede e teve de se contentar apenas em ser a base da Espanha, enquanto Karanski, que é pequenina e sem expressão esportiva, acabou beneficiada – disse Igor. 

- Claro que se tratou de uma questão política – analisou Igor, que ao ser informado que ocorrera a mesma coisa na Copa de 2014 no Brasil (Cuiabá superou Goiânia e Manaus, cidade sem time nas três primeiras divisões, foi escolhida em detrimento a Belém, que respira futebol com Remo e Paysandu) completou: -  Temos muita política aqui na Rússia. Não me surpreende.

Mas o que Igor e Aleksandr não podiam negar é que Saranski encampou a Copa do Mundo. Ruas coloridas, banners da Copa em todos os lugares. Como é uma cidade pequena, tudo (exceto o aeroporto) fica bem próximo; o estádio tinindo de novo, o antigo estádio da cidade, Fan Zone da Fifa, pontos turísticos, parques e várias e belíssimas igrejas ortodoxas, que têm como características o fato de terem sido construídas recentemente, mas com a arquitetura de séculos atras. Faz o antigo ter cheiro de novo, como o da impressionante Catedral de São Teodoro (que terminou de ser construída em 2006), cartão-postal da cidade ao lado da Arena Mordóvia.


Não é somente futebol que deixa a cidade colorida

Não bastasse, é comum em várias cidades  uma super festa para marcar o fim do ano letivo. Parede um desfile de gala, com as meninas em seus melhores vestidos e todos os rapazes de terno. E a tal festa está caindo exatamente neste fim de semana.

- Junta tudo, futebol , a festa mais legal da juventude russa e um clima muito diferente, com a presença de torcedores e jornalistas que jamais vieram aqui, muitos nem conheciam a Mordóvia ou sabiam que ela existia -  diz Tania. Uma menina de 15 anos que, ao lado de centenas de outras adolescentes usavam vestidos longos e muito chiques para a celebração de fim de ano na Millenium Square, muito bonita, toda remodelada, com chafariz, prédios arquitetônicos ousados, rodeada de hoteis e danceterias  e que serve de cenário para books de casamentos, noivados e afins.

Torcida de Irã e Portugal

Em relação aos torcedores, os barulhentos iranianos, com suas cornetas e cânticos de apoio à sua seleção fazem mais estardalhaço. Portugueses ainda são uns poucos gatos pingados, a reportagem do LANCE! não contou 50, incluindo uns 20 que vieram no voo que liga Moscou a Saranski.

- Deve acontecer o mesmo que vimos aqui com os peruanos. Eles tomaram nossas ruas, foi inesquecível. Pena que perderam o jogo para a Dinamarca. Esperamos que esse clima aconteça também com iranianos e portugueses – Torcia Maia, uma vendedora de souvenirs na Sovietskaya, a praça mais famosa da cidade. Aparentemente isso não deve acontecer. Os peruanos, além do número muito maior, são bem mais festivos que portugueses e iranianos.

Gran finale Panamá x Tunísia?

Mas o que vale é Saranski ter entrado no mapa. Depois de Portugal e Irã, ainda haverá um último jogo, entre  Panamá e Tunísia. Meio anticlímax?

- Não mesmo, eliminados ou não, grandes ou pequenos, eles integram a festa. E vamos fazer uma bonita despedida, torcendo pelo Panamá - disse Vasili, um dos vários garotos que posavam para fotos de formatura.

Não se surpreenda com esta aparente escolha esdrúxula de uma cidade no meio da Rússia apoiar o pequeno país da América Central, pois há um bom motivo: o Panamá foi a única das 32 seleções da Copa que escolheu Saranski como a sua base.

Legado

De acordo com Piotr Tultaev, que tem cargo similar ao de prefeito da cidade, o legado da Copa já pode ser visto na modernização das instalações esportivas no complexo da nova arena e na modernização dos ônibus, uma melhora significativa para a população.

- Chegaram veículos de primeira qualidade e que servem as principais linhas, como a do Aeroporto e a linha das zonas mais distantes, como as de números 16 e 20. Antes, o transporte era feito quase que exclusivamente por vans e microônibus muito antigos e isso vai ao encontro ao que a população precisa - disse.

Putin Nomeia  o presidente

Como a Mordóvia é uma república, ela tem um presidente e este se chama  Vladimir Volkov. Ele não é eleito diretamente e, sim, através de um decreto do presidente russo Vladmir Putin. Desde 2012 este aliado é nomeado pelo mandatário russo para comandar a Mordóvia.


Irmãs-gêmeas

A Arena Mordóvia lembra demais o Soccer City de Johanesburgo, principal estádio da Copa de 2010, por causa de suas cores em retângulos em vermelho, laranja e branco.

Catedral
Catedral de São Teodoro fica na praça principal da cidade, terminou de ser construída em 2006 e tem arquitetura antiga. No fundo, à esquerda, a Fan Fest da Fifa. Tudo muito prõximo  (Carlos A. Vieira)

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