Fora do Brasil desde 2010, Neneca confia em Neymar e garante: ‘Qatar tem tudo para surpreender’
Goleiro de 34 anos iniciou a carreira no Santos, treinou com o craque brasileiro, mas se transferiu para o futebol do Oriente Médio e se naturalizou qatari<br>
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Se tem alguém que entende de futebol no Qatar esse alguém é o goleiro Ivan Neneca. Natural de São Vicente, mas precisamente da Vila Fátima, o veterano arqueiro fez toda sua carreira no futebol qatari e chegou a se naturalizar para brigar por uma vaga na seleção anfitriã do Mundial em 2022. Contudo, o espanhol Félix Bas, treinador da equipe, apesar de conhecer seu trabalho, não o convocou para realizar este sonho.
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De qualquer maneira, Neneca ainda está confiante. Tanto na Seleção Brasileira, quanto no que o Qatar pode apresentar neste Mundial. Mesmo sendo a dona da casa, a equipe é vista como a grande azarão do Grupo A, onde vai encarar as favoritas Holanda e Senegal, além do Equador. E o arqueiro, jogando com frequência no atual campeão local, o Al-Sadd, sabe muito bem quem pode decidir para o Brasil buscar o hexa. E ele conhece de perto esse nome: Neymar.
- Não tive a oportunidade de jogar com Neymar, apenas treinei. Sempre foi diferenciado. Posso dizer com autonomia que sou privilegiado por ter treinado com o menino Ney. Conheço sua família, somos bons amigos. Creio com muita plenitude que vai brilhar na Copa do Mundo. Se encontra preparado nesse momento. Neymar sabe da responsabilidade que ele carrega. É muito diferenciado. Fenômeno. Está pronto e maduro para isso. Neymar é Neymar. É o melhor que nós temos - afirmou o camisa 90 do Al Sadd em entrevista ao L!
E sobre a seleção do Qatar, o goleiro garantiu que tem tudo para surpreender neste Mundial. Neneca relembrou a participação da equipe na Copa América 2019, quando fez jogos duros com Colômbia, Argentina e Paraguai.
- O Qatar está em um caminho progressivo bem grande. Vejo eles em outro patamar. Consegue se atualizar todos os dias em relação ao futebol. Não tem mais bobo no futebol. O Qatar teve convite uma vez da Copa América e foi bem ao meu ver. O treinador tem um time fechado faz tempo. Estão muito focados para fazer história. O fator de jogar em casa com o apoio da torcida, tenho certeza que vai surpreender. Se mantiver o que vem sendo trabalhado, vai ser uma grande Copa - garantiu.
"É muito diferenciado. Fenômeno. Está pronto e maduro para isso. Neymar é Neymar. É o melhor que nós temos"
EXPECTATIVA POR CONVOCAÇÃO
Longe dos holofotes do futebol brasileiro e europeu, Neneca optou por se naturalizar qatari para buscar uma vaga no Mundial em 2022. As boas atuações pelo Al Sadd, anteriormente pelo Al Ahli, quase o credenciaram a estar nos 26 convocados do espanhol Félix Bas. Contudo, apesar de conhecer o trabalho de perto, Bas preferiu não levar o brasileiro, inclusive convocando outros dois goleiros do próprio Al-Sadd, Barsham e Al-Sheeb.
- Quem joga futebol sempre pensa em ser convocado. Tenho ciência que ir para a Seleção Brasileira não teria uma chance, mas a do Qatar me via preparado para atuar na Copa. Tive contato com o treinador algumas vezes, por coincidência, disse que sabia como era meu trabalho e que gostava. Estava de olho. O Bas tem um grupo um tanto quanto fechado faz tempo. Só trocar algumas peças, que não julgo. Ele tem o modo de trabalhar dele. Sigo com a cabeça erguida. Foi bom e satisfatório ter conhecido ele. Não aconteceu, mas o trabalho segue firme e forte - contou.
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Ivan também falou da expectativa de todo o Qatar para o Mundial. Para muitos será o mais organizado de todos os tempos, devido a todo investimento feito pelo país para sediar a Copa do Mundo pela primeira vez no Oriente Médio.
- Estamos com as expectativas mais altas possíveis. Estou muito confiante no Brasil. Vamos ser campeões. É uma Copa do Mundo que vai ser de alto nível em todos os padrões, estádio, a cidade de Doha. Vai ser muito linda. Só espero que quem venha de fora respeite os procedimentos do país. O país tem suas exceções e o pessoal pode assimilar - analisou.
ADAPTAÇÃO AO QATAR E PLANOS DE VOLTAR AO BRASIL
São 12 anos já jogando no futebol qatari. Depois de começar na base do Santos, onde teve contato com Neymar, Ivan Neneca passou por Al-Shamal, El Jaish, Lekhwiya, Al-Gharafa, Al-Markhiya, Al-Ahli até chegar no Al-Sadd. São sete clubes em mais de uma década. E para isso foi preciso entender a cultura do país.
- Assimila (a cultura) com o decorrer do tempo. Parece simples mas não é. Tem que mudar muitas coisas em si mesmo para se encaixar aos padrões. É uma cultura muito diferente. É um país muito limpo e correto, vemos as diferenças em coisas simples, como sair para rua, sair para jantar… São primeiro mundo. Frequentam ambientes em que pode deixar o carro aberto, porque nada acontece devido a segurança. Tive a oportunidade de proporcionar para minha família ver isso. Antes de perder meu pai, ele gostava muito do Qatar. Minha mãe e minha irmã voltam agora para a Copa. Com o decorrer do tempo, me encaixei aos padrões. Tudo flui quando tem foco e sabe respeitar. Amo esse país. Já são 12 anos de muita felicidade e aprendizado. Amadureci aqui como homem e como jogador - disse.
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Sobre um possível retorno ao Brasil, onde sequer atuou profissionalmente, Neneca é ressabiado. O arqueiro vê a cultura dos clubes brasileiros diferente em relação ao que é tratado no Qatar, quando o assunto é futebol.
- Não me vejo retornando ainda para o Brasil. Hoje conheço um pouco mais do futebol brasileiro, sei da realidade, é preciso de respaldo. Vejo que o futebol brasileiro deixa a desejar em alguns detalhes. Muitas vezes quem está em volta do clube deixa você cair no esquecimento muito rápido, mesmo sendo campeão expressivo. Três derrotas e você já não pode mais sair de casa. Algo que poderia ser revisto no Brasil. Mudar esse cenário. Entendo que o torcedor tem sua razão, pois isto está no sangue do brasileiro. Quem sabe um dia retorno para coroar uma carreira de muitos anos fora. Voltar para o Santos. Seria um modo de gratidão um reencontro com o Santos. Sonhar é viver e continuo vivo - comentou.
‘PREFERÊNCIA’ POR EDERSON E INSPIRAÇÃO EM DIDA
Como não podia faltar, Neneca falou sobre sua inspiração para se tornar um goleiro profissional e sua caminhada até o Qatar. E sem papas na língua, elogiou as opções convocadas por Tite, mas deixou escapar sua preferência: Ederson, do Manchester City (ING).
- O Brasil está muito bem servido de goleiro. Os três convocados e tantos outros. Mas Alisson e Ederson são fenômenos. E para mim quem tem que jogar é o Ederson. Falei minha opinião (risos) - comentou, complementando sobre sua trajetória:
- Tenho um cinco ou seis goleiros que me inspiram. São fases da vida. No início a primeira foi o Zetti. Vi muitos jogos com meu pai quando Zetti estava no Santos. Pulava de sofá em sofá gritando 'Zeeeeetti'. Ai meu pai me levou numa escolinha. Tive fase do Marcos, extraordinário. Teve o Dida. Me vejo com requisitos dele embaixo das traves. Um goleiro muito calculista e frio. A envergadura sempre chamou a atenção.
"Alisson e Ederson são fenômenos. E para mim quem tem que jogar é o Ederson. Falei minha opinião (risos)"
A LIGA DO QATAR
Neneca atua no atual bicampeão qatari, o Al-Sadd, que não vive um grande momento na atual temporada. Em sete jogos são apenas duas vitórias, dois empates e quatro derrotas, deixando a equipe na nona colocação atualmente. Quem lidera o torneio é o Al-Arabi. E segundo o goleiro, o motivo para isso é o crescimento e equilíbrio da Stars League.
- Está muito mais competitiva. Antes tinham os favoritos: Al-Duhail, Al-Rayyan e o Al-Sadd. Hoje temos muitas equipes com chances. Está mais equilibrado, mais nivelado por cima. A torcida está comparecendo mais. Nada comparado ao Brasil, mas está muito melhor ver isso no país. O futebol é uma paixão imensa e o calor humano enriquece muito o futebol do Qatar - explicou.
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