Já classificada para as oitavas de final da Copa do Mundo, a Seleção Brasileira enfrentará nesta quinta-feira (2), às 16h (de Brasília) um adversário constante e que traz uma sucessão de lembranças. Mesmo com as vitórias em confrontos em Mundiais, o Brasil tem uma recordação indigesta de um duelo com os camaroneses em outra competição: a eliminação precoce na Olimpíada de Sidney. O baque, porém, passou a selar o destino que culminaria no penta.
ELIMINAÇÃO FRUSTRA UMA GERAÇÃO
O técnico Vanderlei Luxemburgo tinha ao seu dispor uma geração promissora: o goleiro Hélton, o zagueiro Lúcio, o lateral Athirson, o volante Fábio Aurélio, o meia Alex e o atacante Ronaldinho. Após um início conturbado na competição, os destinos de Brasil e Camarões se cruzaram.
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Mesmo vindo de duas atuações ruins nos Jogos Olímpicos (uma derrota por 3 a 1 para a África do Sul e uma suadíssima vitória por 1 a 0 sobre o Japão), os brasileiros tentaram se impor em campo. Contudo, um toque de mão de Fabiano marcado de maneira duvidosa na entrada da área deu início ao pesadelo. Mboma aproveitou que Helton estava muito adiantado e cobrou para o fundo da rede, aos 16.
Afobada e às vezes recorrendo a faltas no primeiro tempo, a Seleção foi aumentando sua pressão na etapa final. Lançado no lugar de Athirson, Roger encheu o pé e viu a bola parar no travessão. Aos 30 minutos, o camaronês Gemery Njitap foi expulso após atrasar a reposição de bola. Os brasileiros tiveram mais chances, mas pecaram pelo preciosismo.
Aos 48 minutos, Alex ia invadir a área quando foi parado por Nguimbat, que recebeu o cartão vermelho. Ronaldinho cobrou com maestria e forçou a ida para a prorrogação com morte súbita.
No tempo extra, houve uma brecha para investida e a bola foi cruzada para a área. Porém, Roger e Fabiano se atrapalharam ao concluírem. Em seguida, o próprio Fabiano chegou a ter um gol anulado. Geovanni, sozinho, mandou uma bomba no travessão.
Aos oito minutos do segundo tempo, veio o castigo. Ronaldinho perdeu a bola e Marcos Paulo escorregou enquanto os camaroneses engatavam um contra-ataque. A bola chegou até Mbami fazer o gol que eliminava o Brasil e definia a vitória por 2 a 1 dos camaroneses.
SEM VANDERLEI LUXEMBURGO
Dias depois da eliminação na Olimpíada, Vanderlei Luxemburgo foi demitido no cargo de treinador da Seleção Brasileira. A frustração em Sidney se juntou a um turbilhão.
Mesmo com o técnico já tendo conquistado a Copa América, o Brasil vinha de maus resultados como a perda do título da Copa das Confederações e tropeços contra Paraguai e Chile pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Além disso, Vanderlei era alvo da Justiça por acusações de falsidade ideológica e sonegação fiscal.
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COMANDANTES POR UM JOGO
A Seleção ainda teve uma curiosa passagem de dois interinos neste período. Após a saída de Vanderlei Luxemburgo, Candinho, então auxiliar, assumiu o cargo. A saída de Luxa acontecera fazia pouco tempo.
Candinho comandou o Brasil na goleada por 6 a 0 sobre a Venezuela, em Maracaibo. Os gols foram marcados somente por jogadores que defendiam o Vasco na época: Euller, Juninho Paulista, além de quatro gols de Romário. Juninho Pernambucano foi o outro jogador do Cruz-Maltino convocado.
A lista de titulares ainda contava com Rogério Ceni, Cafu, Antônio Carlos, Cléber, Sylvinho, Vampeta e Donizete Oliveira. Entre os convocados também estavam Edmilson, Ricardinho, Zé Roberto, Bosco e a dupla de ataque do Atlético-MG formada por Marques e Guilherme.
Posteriormente, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, selou a contratação de Emerson Leão como treinador. No entanto, teve de esperar um pouco para contar com o recém-contratado na beira de campo.
O STJD havia punido o técnico por ter xingado o árbitro Fabiano Gonçalves na partida na qual o Sport perdeu para o Vitória por 4 a 3 pela Copa João Havelange. O preparador de goleiros Pedro Santilli ficou na beira do campo na Seleção Brasileira em 15 de novembro de 2000, enquanto Leão dava instruções por um rádio no duelo com a Colômbia, no Morumbi.
A convocação já trazia atletas como Roque Júnior, Lúcio e Rivaldo, além de Rogério Ceni, Cafu e Vampeta. Emerson Leão também convocou o volante Mineiro, então na Ponte Preta, e o jovem Adriano, do Flamengo. Seu objetivo era resgatar o "futebol alegre, ofensivo, bailarino e com responsabilidade".
O desempenho da Seleção foi alvo de muitas críticas na época. À medida que o jogo passava e o gol não saía, sobravam vaias, gritos de "burro" e apelos por Romário (que se machucou em um treino). As bandeirinhas do Brasil distribuídas antes do jogo começaram a ser atiradas na direção do gramado. Somente na reta final veio o esperado gol: Juninho Paulista cobrou escanteio, e Roque Júnior, de cabeça, mandou para a rede.
LEÃO: 'FUTEBOL BAILARINO' SE TORNA A 'ERA LEOMAR'
Emerson Leão fez seu primeiro jogo na beira do campo com a Seleção em 3 de março de 2001 (um amistoso no qual o Brasil fez 2 a 1 nos Estados Unidos). Nas Eliminatórias, a atuação fraca no revés por 1 a 0 para o Equador gerou mudanças drásticas.
Uma delas se tornou emblemática para sua passagem. Entre os convocados para a partida contra o Peru estava Leomar, volante que vinha se destacando com a camisa de um Sport que teve bons momentos no ano anterior. Junto com Leomar, vieram atletas menos badalados como os laterais Alessandro e César, além do atacante Ewerthon. Astros como Cafu, Roberto Carlos e Rivaldo foram preteridos. O empate em 1 a 1 rendeu vaias no Morumbi.
Mais tarde, Leão fez novos testes na Copa das Confederações. Nomes como Dida, Zé Maria, Leomar, Ramón, Robert, Carlos Miguel, Magno Alves, Sonny Anderson, Washington e Leandro Amaral receberam oportunidades.
Após se classificar com uma vitória por 2 a 0 sobre Camarões e empates sem gols contra Canadá e Japão, a equipe comandada por Leão enfrentou os franceses na semifinal. E amargou a derrota por 2 a 1. Na decisão do terceiro lugar, veio o último e melancólico jogo: um revés por 1 a 0 para a Austrália.
Ainda no aeroporto, o treinador soube que estava demitido. Seu ciclo de três meses na Seleção passou a ser definido como "a era Leomar", marcando também o rumo do jogador.
A ERA FELIPÃO
Após ter sido cotado como sucessor de Vanderlei Luxemburgo, Luiz Felipe Scolari chegou ao posto de treinador da Seleção Brasileira em junho de 2001. Sua missão era complicada: revigorar uma base que vinha passando por altos e baixos nas Eliminatórias e garantir uma classificação segura de olho na Copa do Mundo de 2002.
Sua primeira lista teve apenas nove jogadores que estiveram no Mundial: os goleiros Marcos e Dida, os laterais Cafu, Belletti e Roberto Carlos, os zagueiros Lúcio e Roque Júnior e os meias Rivaldo e Juninho Paulista.
Sua estreia à frente do Brasil aconteceu no dia primeiro de julho, diante do Uruguai, em Montevidéu. Mesmo recorrendo aos jogadores renomados, a Seleção amargou a derrota por 1 a 0. Um pênalti de Cafu em Recoba abriu caminho para que Magallanes convertesse a cobrança. Este seria seu único jogo tendo Romário sob seu comando.
Mais tarde, o Brasil disputou a Copa América. Felipão testou jogadores como os laterais Alessandro e Roger, os zagueiros Cris e Luisão, os volantes Eduardo Costa e Fábio Rockemback, os meias Juninho e Alex, e os atacantes Guilherme e Jardel.
No entanto, a Seleção decepcionou, ao cair para a inexpressiva Honduras com uma derrota por 2 a 0. Ainda no torneio sul-americano, teve início o teste da formação 3-5-2. Houve espaço para testes nas Eliminatórias, como os meio-campistas Mauro Silva e Tinga, e os atacantes Edílson, Luizão e Marcelinho Paraíba.
O PENTA VEIO
Depois de tantos desafios, mudanças de rota, o penta chegou às mãos do Brasil com 100% de aproveitamento. Confiante na recuperação de Ronaldo e na sua veemência inclusive em temas controversos (como manter Romário de fora), Scolari viu jogadores como Gilberto Silva e Kléberson entrarem em ascensão e craques como Ronaldinho e Rivaldo ganharem o mundo.
Um rumo que começou tumultuado depois da derrota amarga para Camarões.