Copa Tática: como joga a Rússia, que não desperta qualquer empolgação
Com campanhas ruins nas últimas competições internacionais que disputou, time da casa tem problemas coletivos a resolver para tentar avançar no Grupo A da Copa do Mundo
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Segunda pior campanha entre as 24 seleções da Euro-2016 e eliminada na fase de grupos na Copa das Confederações disputada no próprio país. A imagem recente da Rússia nas competições internacionais é tão pobre que ninguém espera absolutamente nada do país-sede da Copa do Mundo 2018, mesmo em um grupo teoricamente acessível, ao lado de Uruguai, Egito e Arábia Saudita.
A sensação de terra arrasada gera um exagero. De fato, a Rússia passa por anos extremamente complicados, com as transições entre Fabio Capello, Leonid Slutsky e Stanislav Cherchesov. Mas, curiosamente, embora o atual técnico tenha o pior aproveitamento da década na seleção, o time apresentava alguma evolução no último ano, com a introdução de peças que iniciam uma tardia renovação. Golovin e Miranchuk são os dois principais exemplos. Qualquer otimismo sumiu diante das indefinições geradas pela série de sete amistosos sem vencer antes da Copa do Mundo.
Com Cherchesov, a Rússia estabeleceu a linha de cinco como sistema básico. Chegou a variar entre 5-3-2 e 5-4-1, mas parecia ter definido o 5-3-1-1 como base para a Copa do Mundo. O técnico chegou a defender a opção dos três zagueiros alegando que é alto o número de clubes que atuam assim atualmente no campeonato nacional. Só que os donos da casa foram muito prejudicados pelas graves lesões no primeiro semestre de 2018. Vasin, Dzhikiya e Kokorin, três peças importantes e titulares, sofreram contusões no joelho.
Sem dois zagueiros titulares e já sem os veteranos Berezutskiy (que formaram a defesa russa por 14 anos), sobrou apenas Kudryashov do trio considerado ideal. Granat e Kutepov devem disputar a última vaga, já que o interminável Ignashevich foi retirado da aposentadoria internacional para compor o elenco aos 38 anos. Outra opção seria Neustadter, que acabou cortado da lista final, levantando dúvidas sobre uma possível mudança de planos nas semanas finais de preparação. A maior contradição foi entrar em campo com linha de quatro nos amistosos contra Áustria e Turquia, tendo afirmado que seguia trabalhando o sistema com cinco atrás durante os treinos. Uma surpresa para quem, meses antes, afirmou que a seleção não chegou a lugar algum com quatro na defesa.
Nas alas, cada lado possui jogadores de características diferentes. Na direita, Samedov é a opção mais ofensiva, com boa qualidade técnica para bater na bola. É um meia que pode fechar a primeira linha, mas que está mais habituado a formar a segunda. Smolnikov já é um lateral de regular apoio e Mario Fernandes talvez seja o mais equilibrado deles, desde que bem fisicamente. Na esquerda, Zhirkov é o mais criativo, embora já não tenha a mesma explosão para arrancar pela ponta. Surpreendentemente, Kombarov e Rausch foram cortados, o que reduz não só a competição pela posição, mas a margem para variações. Em uma alternativa mais defensiva, o zagueiro Kudryashov pode, eventualmente, fazer a lateral esquerda, com Zhirkov em uma segunda linha. Independentemente da altura do campo em que for escalado, cabe ao ex-jogador do Chelsea a função de abrir o campo pela esquerda.
O centro do campo é certamente o setor que conta com mais opções, só que com perfis pouco complementares. Tirando Gazinsky, que foi pouco testado, não há um volante mais fixo, o que obriga Cherchesov a sacrificar pelo menos um dos jogadores fora de sua melhor função. Golovin é a maior promessa e tem talento nas projeções, com facilidade para conduzir a bola e o recurso do drible. Mesmo que ainda não seja badalado ou conhecido mundialmente, tem tudo para ser a principal novidade russa. Zobnin também tem facilidade para carregar a bola nas transições, mas ganha maior responsabilidade defensiva após a não convocação de Glushakov, de temporada ruim no Spartak. Kuzyaev já foi observado até como o volante mais fixo, mas costuma ocupar os lados do campo no Zenit. E Erokhin talvez seja quem mais dê agressividade na marcação, mas seu papel defensivo também depende de antecipações em uma zona mais avançada do campo.
Ou seja: são cinco nomes podendo disputar três ou até duas vagas apenas, sendo que pelo menos um vai atuar fora da sua melhor função. Duas porque a terceira vaga deve ser de Dzagoev ou Miranchuk no papel de criação, encostando em Smolov. Ou até mesmo porque se a opção for pela variação para um 4-4-1-1, Samedov e Zhirkov ocupariam as meias, sobrando apenas um trio central para preencher, possivelmente com Zobnin, Golovin e mais uma peça. Se a escolha no meio é delicada, o ataque já não tem dúvidas. Com a lesão de Kokorin, Cherchesov perdeu uma de suas referências e passa a confiar totalmente na capacidade de definição de Smolov. O resgate de Artem Dzyuba, distante do seu melhor momento, é a cartada para ter ao menos uma alternativa no banco.
A Rússia tem muitos problemas coletivos para resolver. Até parecia ter evoluído ligeiramente desde a Copa das Confederações, mas a sensação nas semanas anteriores ao mundial é de que não há um rumo muito definido, seja na escolha das peças ou na definição do sistema. Há alguma qualidade individual no elenco, mas o constante conflito por adotar um modelo defensivo limita alguns dos meio-campistas mais talentosos. Resta saber qual será a postura em um grupo com Egito, Arábia Saudita e Uruguai. É uma tabela que abre a possibilidade de classificação, por maior e mais justificável que seja a desconfiança. Ao mesmo tempo, aumenta a responsabilidade de evitar um vexame que já é tratado por muitos como previsível.
Jogos no Grupo A:
14/6 - 12h - Rússia x Arábia Saudita
19/6 - 15h - Rússia x Egito
25/6 - 11h - Uruguai x Rússia
Russian squad for the FIFA World Cup 2018 @FIFAWorldCup in English pic.twitter.com/e6RogmCDRF
— Сборная России (@TeamRussia) June 3, 2018
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