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Guidetti, o sueco que aprendeu no Quênia a jogar e superar doença rara para ir à Copa

Conheça a história do atacante da Suécia que viveu a infância na África e teve que enfrentar uma rara doença que paralisou sua perna para poder voltar aos gramados

John Guidetti, aos 10 anos, em meio aos seus companheiros de futebol no Quênia
imagem cameraReprodução/Twitter
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 02/05/2018
15:23
Atualizado em 03/05/2018
09:07

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John Guidetti poderia ser apenas mais um jogador sueco que realizou seu sonho de criança ao se tornar atleta profissional. Mas sua história vai muito além disso. Com apenas 26 anos, o atacante já morou no Quênia por quase dez anos na infância, superou uma doença rara que paralisou sua perna direita, jogou no Manchester City, foi campeão do Europeu Sub-21, criou uma Fundação de ajuda a crianças carentes na África, atuou por clubes de cinco países diferentes e deve disputar na Rússia sua primeira Copa do Mundo. Um enredo inspirador e cheio de conquistas de tirar o fôlego que você acompanha a partir de agora.

Nascido em Estocolmo, capital da Suécia, em 15 de abril de 1992, John Alberto Fernando Andres Luigi Olof Guidetti carrega tantos sobrenomes devido a sua descendência. Seu avô paterno é italiano e sua avó paterna é parte sueca, parte brasileira. Logo aos três anos, ele acompanhou seus pais para o Quênia, já que seu pai tinha proposta do governo para dar aulas de sueco em uma escola africana. Retornou ao seu país com seis anos, idade em que começou a descobrir sua paixão pelo futebol.

- Eu me apaixonei pelo futebol na Copa do Mundo de 1998 - disse Guidetti em documentário exibido pela HBO. O jovem garoto falou mais. 'É isso que quero fazer.' 'Ser jogador?', indagou seu pai Mike. 'Não, jogar uma Copa', respondeu. Ali nascia um sonho de um garoto que se mostraria mais forte do que ele poderia imaginar. E o retorno a África estava diretamente ligado a isso.

Quando Guidetti completou dez anos, sua família decidiu voltar ao Quênia, para Nairóbi, capital do país. Lá, começou a jogar na região de Kibera, considerada a maior favela do mundo. E foi lá também onde começou a moldar seu caráter. Um garoto loiro, com maior poder financeiro que todos os outros meninos de sua idade teria que se adaptar. E foi isso que ele fez. Para ser bem aceito pela comunidade, passou também a jogar descalço, assim como o restante dos pequenos jogadores.

Entre os campos esburacados e cheio de poças, no meio de uma pobreza jamais vista pelo sueco, ele começou a enxergar o mundo de outro maneira e dar valor às coisas simples da vida.

- Eles são felizes. Isso que admiro nos africanos. Não havia comida, nem roupa, mas a cada dia tinha a brincadeira e a risada entre amigos. As pessoas são muito amigáveis ​​e muito gratas pelas pequenas coisas que têm - relembra o atacante. Em meio a muitas aventuras, algumas um pouco perigosas, mas com muito aprendizado, o jovem Guidetti não sabia, mas ali reunia forças e ensinamentos para os grandes desafios que a vida lhe guardava.

Após mais três anos no Quênia, retornou a Suécia para priorizar sua carreira no futebol e deu seus primeiros chutes pelo pequeno Brommapojkarna, onde já começou a se destacar, não só pelo talento, mas já também pela forte personalidade. Seu pai, e também grande incentivador, fez então um tour europeu atrás de interesses de grandes clubes, especialmente da Itália, como Milan e Inter de Milão. Depois de muitos testes e nenhuma aprovação, enfim surgiu o interesse de um gigante, o Manchester City que levou o jovem para suas categorias de base logo aos 15 anos. Aos 16, assinou um contrato de três anos com os ingleses.

Ainda sem espaço no City, Guidetti foi emprestado ao clube que o revelou, o Brommapojkarna, em 2008, onde começou a mostrar seu grande valor. Em 2010, foi emprestado novamente, ao Burnley, até chegar, em novo empréstimo, ao Feyenoord, da Holanda, onde estreou em setembro de 2011, anotando um gol de pênalti. Em fevereiro de 2012, ele chegava a seu terceiro 'hat-trick' (três gols no mesmo jogo) pelo clube, e já acumulava 17 gols em apenas 15 jogos pelo Campeonato Holandês.

Quando vivia seu auge na promissora carreira, com 20 gols e oito assistências em 23 jogos, que fazia o Feyenoord brigar forte pelo título nacional, veio uma terrível notícia. No aniversário de sua namorada, o atacante, então com 20 anos, comeu um frango que lhe deu intoxicação alimentar. Isso levou a um vírus raro que afetou gravemente seu sistema nervoso, que poderia levar até mesmo a morte. A doença fez que ele perdesse todo o sentido de sua perna direita.

'Eu não vou aceitar
a doença. Vou transformar em algo positivo. Acho que aprendi na África'

- Um professor no hospital onde eu estava sendo tratado disse que minha carreira estava pendurada por um fio muito fino. Comecei a chorar muito. Eu vi todo o meu futuro desmoronar. Eu queria ganhar o título holandês com o Feyenoord, o que ainda era possível. Eu queria jogar pela Suécia na Euro. E, acima de tudo, eu queria jogar como titular do Manchester City, o que eu definitivamente teria feito se não tivesse pegado o vírus. Mas eu simplesmente não tinha força na minha perna direita. Eles me enviaram para uma clínica na Itália e tudo que eu podia fazer era um exercício para me ajudar a sair de uma cadeira. Mais do que isso eu simplesmente não conseguia fazer. Em um minuto eu estava no céu, e no outro no inferno. Eu não pude acreditar - disse Guidetti em entrevista ao jornal inglês Mirror no final de 2012, quando lutava por sua recuperação.

- Mas eu não podia aceitar. Iria transformar aquilo em algo positivo. Acho que aprendi na África. Olhar sempre o copo meio cheio - recordou o jogador. Sua recuperação foi longa. Foram seis meses para se curar da doença e de tratamento intensivo para aumentar sua força. Enfim, no final de 2012, foi autorizado a retomar os treinos pelo City, que já havia renovado seu contrato por mais três anos. Sua perna, porém, estava muito mais fina e o trabalho de musculação foi desgastante.

Em 14 de janeiro de 2013, uma vitória da vida. John Guidetti voltou aos gramados, marcando inclusive um gol pela equipe sub-21 do Manchester. Neste meio tempo, ainda no ano de 2012, quando visitou novamente o Quênia, decidiu retribuir um pouco do que a 'Mãe África' lhe ensinou e criar a Fundação Guidetti, de ajuda, ensino e treinamento gratuito para crianças de 10 a 17 anos.

Crianças na Fundação Guidetti
Os jovens ajudados pela Fundação Guidetti (Reprodução/Instagram)

E as coisas começaram a prosperar novamente em sua carreira. Mesmo não sendo aproveitado pelo City, foi emprestado de novo por duas vezes, ao Stoke City, em 2014, e ao escocês Celtic, onde faturou dois títulos na temporada 2014-2015, sendo peça importante nas conquistas. Em 2015 disputou ainda o Campeonato Europeu Sub-21, que permitia atletas nascidos a partir de 1992. Em uma campanha histórica da Suécia, a seleção nórdica avançou às semifinais, onde goleou a favorita Dinamarca por 4 a 1, e foi campeã ao superar Portugal na final, na decisão por pênaltis, para faturar o inédito título. Guidetti foi o vice-artilheiro da competição. Em 2016, disputou a Eurocopa ao lado do grande ídolo Ibrahimovic.

Após não renovar com o City ao término de seu contrato, se tornou agente livre e assinou por cinco temporadas com o espanhol Celta de Vigo, em julho de 2015, mesmo ano em que ganhou uma música da banda sueca Badpojken chamada "Johnny G (The Guidetti Song)", que alcançou o primeiro lugar nas paradas musicais do país. Hoje, o rodado Guidetti defende as cores do Alavés, na Espanha, e é nome certo no elenco de sua seleção para disputar a Copa do Mundo na Rússia.

- Este seria o maior sonho de todos - declarou o atacante quando perguntando sobre a possibilidade de vencer a Copa-2018. Mas para um atleta, que diz sempre querer ser o melhor jogador do mundo, e que passou por tantas experiências e superações, sonhar em ganhar um Mundial parece não ser das tarefas mais impossíveis.

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