Inglaterra joga com ‘estreantes’ em decisão e tenta enterrar traumas

Nenhum jogador da atual seleção disputou uma decisão de vaga em Copas do Mundo, mas alguns estiveram no vexame da Euro 2016. Passado de derrotas 'carrega' a novata equipe

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A última vez que a Inglaterra disputou uma fase de oitavas de final de Copa do Mundo foi na África do Sul, em 2010. A última vez que a Inglaterra superou esta etapa da Copa foi na Alemanha, em 2006, quando bateu justamente um sul-americano, o Equador (1 a 0). Isso significa que nenhum dos 23 jogadores da renovada seleção inglesa disputou um mata-mata de Copa. A primeira experiência será nesta terça-feira, às 15h, contra a Colômbia, no estádio do Spartak.

Única campeã mundial viva em sua chave (Brasil, França ou Uruguai só cruzam o caminho numa eventual final), a Inglaterra sabe que tem uma rara chance de voltar a ser protagonista - não chega a uma semifinal desde 1990, na Itália. Por outro lado, terá de lidar com seus próprios dramas. Superar o pessimismo e o ceticismo de torcida e mídia local, sempre desacreditados, mesmo que a teórica facilidade da chave tenha virado tema na imprensa britânica na Rússia.

Os ingleses não vencem uma decisão de Copa há 12 anos e, desde então, também fracassaram em todos os jogos eliminatórios da Eurocopa: vexame nas oitavas de 2016 para a Islândia (derrota por 2 a 1) e queda nos pênaltis para a Itália nas quartas de 2012. O país nem disputou o torneio em 2008. A seleção caiu na primeira fase no último Mundial, no Brasil.

Há oito anos, na Copa do Mundo, o cruzamento colocou a Alemanha no caminho da Inglaterra nas oitavas: derrota por 4 a 1. A opção por colocar um time reserva na rodada final do Grupo G, com derrota por 1 a 0 para a Bélgica, evidenciou que os ingleses não fizeram força para vencer a chave. Ter ficado em segundo lugar colocou a seleção do "lado mais fácil" do Mundial.

- A Inglaterra não vence um jogo eliminatório em um grande torneio há 12 anos e estamos discutindo perder um jogo para evitar uma final mais difícil. Faça-me um favor - criticou o ex-jogador inglês Gary Lineker, hoje comentarista, nas redes sociais. Lineker, inclusive, fez o último gol da Inglaterra num semifinal de Copa, em 1990: empate em 1 a 1 com a Alemanha (caiu nos pênaltis).

Gareth Southgate, técnico da Inglaterra que disputou as Euros de 1996 e 2000 e a Copa do Mundo de 1998 como jogador, deu a entender que houve um "oba-oba" na partida de 2016 contra a Islândia. Há um trabalho interno para que os comentários sobre "chave fácil" não tirem a concentração, bem como tentar tirar o peso da atual seleção dos fracassos acumulados por outras gerações.

- Estamos tentando fazer preparações psicológicas, para que todos estejam bem mentalmente para a partida. Essa é a arte de treinar, temos um estafe para isso. Não tem sentido pensar mais à frente. Alguns desses jogadores estiveram em últimos campeonatos, uma partida que pensavam que poderiam ganhar, e as coisas não saíram da forma que se esperava. Não acho que vá ser assim, sabemos do talento do adversário - declarou Southgate.

É uma nova geração que tem a chance de exorcizar fantasmas e romper com o passado perdedor. Se o grupo atual nunca disputou uma decisão de Copa, também não perdeu. Alguns deles, no entanto, estavam no fiasco da última Euro: Cahill, Walker, Danny Rose, Sterling, Harry Kane e Dele Alli foram titulares contra a Islândia (Rashford e Vardy entraram durante o vexame).

- Eu quero dizer que faz 12 anos que não ganhamos uma partida de oitavas, é uma oportunidade genial, que outras equipes mais experientes não conseguiram. Estamos com uma boa energia, contra um rival duro. Somos a equipe mais jovem que segue nesse Mundial, mas temos veteranos que ajudam os mais jovens. Essa equipe tem fome, quer representar seu país e tem orgulho de vestir a camisa da Inglaterra - comentou o treinador.

A média de idade da seleção inglesa é de 26,1 anos, uma das mais jovens da Copa. Das que seguem, só a França é mais nova (26). O futuro da Inglaterra se mostra promissor, com títulos mundiais sub-17 e sub-20 no ano passado.

A falta de fome para vencer a Bélgica, no entanto, rendeu fortes críticas que terão de ser apagadas nesta terça, quando a bola rolar em Moscou.

- Se eu fosse um jogador, gostaria de ganhar a partida. Eu quero ganhar o grupo. Eu quero ganhar um jogo de nocaute sangrento por uma vez. E eu queria jogar contra o Brasil nas quartas de final da Copa do Mundo. É disso que se trata - afirmou o polêmico comentarista Lineker.

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