O ‘Kremlin’ da seleção portuguesa fica em Kratovo

Portugueses desde a Euro-2016 priorizam CTs estruturados com alojamento. Desta vez a escolha recaiu numa verdadeira fortaleza. Bem vigiada e sem torcedor por perto

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De uns tempos para cá, Portugal, quando escolhe um Complexo de Treinamentos para que ele seja o quartel general de sua seleção em competições de ponta, prioriza excelência e comodidade.

Se  na Copa de 2014 Portugal hospedou-se naquele que foi um dos hotéis mais privativos para uma seleção no Brasil e pertinho do aeroporto de Viracopos, em Campinas, na Euro-2016, na campanha do título inédito, a opção foi ter um centro de treinamento que juntasse boas condições de hospedagem e excelente infraestrutura em equipamentos. A escolha recaiu no CT da seleção de rugbi da França, na cidade de Marcoussis. Lá, tinha tudo: instalações perfeitas , tranquilidade e um local apenas a 20km de um aeroporto de Orly.

Kratovo é uma pequena comunidade a 50km de Moscou e a acanhada estação de trem é seu lugar mais movimentado (Carlos Alberto Vieira)

Mas há diferenças entre Marcoussis e Kratovo. Na França, uns 20 policiais cuidavam da segurança. Na Rússia a barra pesa mais. O entorno do complexo tem duas barreiras. Na primeira, só passa carro de morador ou com autorização no para-brisa. Na segunda (com direito a quebra-molas e tachões somente credenciados. E mais de 50 seguranças. Isso sem falar nos detetores de metal e que todo o complexo é rodeado com um muro que impede qualquer visão do que ocorre lá dentro. Uma verdadeira fortaleza, ou Kremlin, para usar a conhecida palavra russa que significa  cidadela fortificada e parece ter tudo a ver.

A segunda está na presença da torcida. Ou na falta dela. Tanto no Brasil-2014 quanto na França-2016, havia bom número de portugueses acompanhando a sua seleção, já que os dois países  contam com muitos imigrantes portugueses e descendentes. Em Marcoussis, todos os dias, dezenas  ficavam na porta do complexo apenas para mostrar faixas ou para dar um tchau para algum jogador que eventualmente aparecesse. Em Kratovo isso jamais vai acontecer. Não há portugueses por ali e o número de lusitanos imigrantes em Moscou é baixíssimo (calcula-se menos de cinco mil).  Não por acaso,  na chegada da delegação na Rússia, apenas dois torcedores estavam nas imediações do hotel quando a seleção recebeu as boas vindas da municipalidade de Ramesnky (Kratovo é como se fosse um bairro deste distrito).

Outro exemplo foi no treino aberto que Portugal fez na manhã deste domingo. Há dois anos, em Marcoussis,  quando os patrícios fizeram seu tradicional treino aberto ao público, o estádio recebeu mil torcedores e outros mil ficaram do lado de fora. Quase todos eram portugueses. Em Kratovo, foram disponibilizadas 300 entradas para os torcedores e não tinha um português, apenas russos moradores da região que não queriam perder a chance de ver pela primeira vez ao vivo uma seleção de ponta e, claro, o melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo.




Na Rússia, a busca foi novamente deixar de lado esse negócio de hotel cinco estrelas e optar por um estilo "Marcoussis". E a escolha foi cirúrgica. Um CT de alto nível que pertence a um clube da terceirona (Saturn) mas que foi reformado pelo Anzhi Makhachkala quando este pagava alguns dos melhores salários do mundo e tinha  Roberto Carlos e Eto'o em seu elenco. O Centro de Treinamento, com três campos, alojamento com pequenas e luxosas casas e toda a estrutura em equipamentos físicos situado num dos lugares mais afastados do entorno  de Moscou, em Kratovo (50km da capital),  localidade com oito mil habitantes, muitas ruas de terra batida, mas que tem  um aeroporto a apenas 8km, o que facilita o deslocamento para as partidas.

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