Pool da Copa: ‘Agora, é defender a independência do futebol uruguaio’

Ignacio Chans, do 'El Observador', analisou o cenário da seleção uruguaia após a queda na Copa da Rússia. Foi a última participação da geração de astros do país no mais alto nível<br>

imagem cameraA Copa da Rússia terminou para o Uruguai. A França está na semifinal (Foto: Dimitar DILKOFF/AFP)
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Lance!
El Observador (URU)
Dia 06/07/2018
16:42
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Na paixão da Copa do Mundo, no sonho de chegar às semifinais, a visão de longo prazo passou despercebida para a maioria: foi a última Copa do Mundo ao mais alto nível da geração de estrelas celestes que brilham na Europa.

Suárez, Cavani e Cáceres chegarão com 35 anos ao Catar-2022. Muslera com 36, assim como Godín. Eles terão idade suficiente para jogar esse torneio, mas não mais em sua plenitude. Mais ou menos como aconteceu com Diego Forlán no Brasil 2014. Quatro anos depois de ser o melhor da Copa do Mundo de 2010, no Brasil ele mostrou que o tempo passa, como para todos.

Será difícil recuperar estrelas como Suárez ou Cavani. E, por essa razão, será mais necessário do que nunca defender o legado dessa seleção, o de que o trabalho coletivo está acima das individualidades. E defender o que foi alcançado fora do campo, o que é ainda mais importante do que o que foi alcançado no interior.

Porque você pode criticar muitas coisas neste processo. O tipo de futebol, algumas decisões táticas. Como diz Tabárez, o futebol é subjetivo e há mil opiniões. E é impossível agradar a todos. Mesmo nós, jornalistas, podemos criticar muitas coisas, não especificamente futebol, mas como eles vêem o nosso trabalho, a desconfiança que eles têm de nós.

Mas é agora, na derrota, que devemos avaliar como esse processo de seleção mudou a história do futebol uruguaio. Ordem, respeito, planejamento, estruturação ... mas acima de tudo, independência.

Porque se existe um legado que esse processo deixou é colocar a seleção acima de todas as coisas. Parece tão óbvio, mas por um longo tempo isso não aconteceu.

Porque até a chegada de Tabárez, a seleção não era uma prioridade. Ou foi apenas quando os torneios chegaram e, de fato, a sorte já estava lançada. Não era uma prioridade antes, quando realmente importava. Quando os processos são construídos.

Politicamente, não era uma prioridade: porque os clubes, os arranjos e os saldos estavam sempre lá antes. Na diretiva: a necessidade imediata, a falta de paciência e as más decisões de escolher treinadores ou de defendê-los destruíram a ideia de um processo estruturado, o que o Uruguai e as seleções sérias do mundo têm, como Alemanha, França, Brasil ...

E acima de tudo, não era uma prioridade economicamente. Porque até a chegada deste processo, a AUF e a seleção não tinham independência econômica ou política em relação à empresa que detém os direitos do futebol uruguaio. Isso é um fato, não importa qual seja a opinião de Casal ou Tenfield.

A tarefa de tornar o AUF e a seleção independentes, e com isso multiplicar a renda, foi iniciada pelo executivo de Sebastián Bauzá, a ponto de o governo lhe custar. O executivo de Wilmar Valdez continuou, embora tenha assumido que foi acusado de vir demolir o que foi feito por seu antecessor.

E no meio, parte do aspecto histórico deste processo foi que os jogadores se colocaram em frente ao navio para exigir essa independência, e o conceito de que a seleção é a primeira.

Os números apoiam isso: os US$ 17 milhões gerados pela equipe nacional do Uruguai são a melhor fonte de recursos para os clubes. O rendimento quinquagésimo foi alcançado, apostando numa ideia simples, mas custou muito: independência.

Os jogadores ganharam costas largas graças ao que conseguiram no campo. Mas eles também pegaram o que foi transmitido por Tabarez para levantar a mira e apontar para além da bola. Porque isso prepara o terreno para poder ter todas as ferramentas na hora de sair para o campo. Seja em ter estruturado processos de jovens, ou futebolistas independentes, ou empresas que pagam a AUF para usar o escudo AUF e a camisa azul clara, em vez de pagar para a Tenfield ou qualquer outra empresa.

O futebol uruguaio chegou a uma encruzilhada. Em um mês haverá eleições. O atual presidente já anunciou que quer continuar e manter esse caminho. Se ele ou outra pessoa se apresentar, terá que seguir, passo a passo, aquele caminho que tomou conta. Você deve respeitar os conceitos que foram marcados sobre pedra.

Porque além do gol de Josema contra o Egito, os gols de Cavani para Portugal e sua qualificação para a Copa do Mundo, toda essa realidade atual dificilmente poderia ser mantida a tempo se os jogadores não tivessem dado esse passo para defender os interesses econômicos do futebol uruguaio. Se os líderes não tivessem pegado a luva e tivessem ido lado a lado trabalhar por essa independência. Se Tabárez não tivesse liderado.

Tenha cuidado com o que está por vir. Porque é fácil dizer "a seleção vem primeiro", ou "nós queremos que o Tabárez siga". A chave será, em todas as decisões diárias, não dar o braço a torcer. Subir para os clubes é esse processo de transformação que a seleção alcançou. E com tudo isso, defender a independência do futebol uruguaio.

* O Pool da Copa é a união de grandes veículos de comunicação do mundo para um esforço de troca de informações. O objetivo é manter seus leitores por dentro do que acontece com as seleções de outros países, porém, com uma visão local.

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